Como eu escrevo

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Como escreve Bioncinha do Brasil

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Bioncinha do Brasil é costureira, bordadeira, escritora, iluminadora e técnica de Teatro.  

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Água, costumo acordar entre 8 e 9 horas e a primeira coisa que faço é beber bastante água, agora estou me condicionando a me alongar todos os dias de manhã.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Depende muito… Não há ritual para escrita, na real a escrita é fruto de inquietação interna, depende muito do que me provoca a escrever e pra isso não tem hora.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Então já tive rotina com a escrita, hoje em dia nem tanto… Ano passado, durante a Revolução chamada Carolina Maria de Jesus pela FLUP escrevi crônicas diariamente sobre a realidade que vivi, ainda assim escrevo mas já é um ritmo diferente.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Meu processo de escrita é algo bem híbrido, não tenho essa prática de nota, creio que seja porque também trabalho com outras linguagens como bordado, costura, tear, iluminação… A escrita acaba sendo uma descrição de imagens, situações e fabulações do meu imaginário que considero importante documentar.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Costumo não lidar com essas questões. Até mesmo porque ainda não tive a oportunidade de me debruçar com vigor sobre projetos longos… Até então tenho textos publicados em revistas e livros coletivos, tenho a vontade de levar minhas crônicas para um livro, mas creio que ainda não seja o momento. Corresponder expectativas cabe a um imaginário onde o corpo da Travesti não adere, logo isso não é uma questão pro meu trabalho, talvez as questões sejam outras, como a preservação de certos mistérios, e cuidado já que se trata de uma narrativa muito visada enquanto um corpo marginal, miserável, vulnerável, meu trabalho é justamente transfigurar essa imagem com a qual a norma CIS cristã tenta me vestir.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Algumas vezes, não sei dizer quantas, mas nada muito exigência, pra mim há um crível de decência independente do conteúdo. Costumo ler para minhe companheire Hafsa Terra e amigas próximas, mas poucas…

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

É uma relação estável apenar do Brasil e suas demandas caóticas com a distribuição da internet de qualidade. Mas amo escrever à mão, creio que seja algo que vai estar comigo enquanto tive mão para escrever.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

As ideias vem das minhas vivências, costumo partir da reflexão e documentação de situações e imagens que considero valiosas para o processo que vivo. Creio que criatividade seja algo espiritual, teias que estão em constante tecitura a milênios, também é sobre ancestralidade… Logo esses hábitos cultivados são cuidados com a saúde mental e espiritual.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Muita coisa mudou, comecei escrevendo poemas, depois fui pra contos e agora estou mais nas crônicas e ensaios… Diria para não se cobrar tanto e contemplar mais o que é belo.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Eu quero muito editar meu primeiro livro mas sei que tem muita coisa pra acontecer. Ainda vou ler textos inéditos da Carolina Maria de Jesus e também tenho vontade de conhecer livros que tenham uma edição menos engessada que transite entre linguagens com mais leveza e que lidem com a travesti de forma mais digna.

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    Como escreve Lumanzin

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    Lumanzin é artista.

    Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

    Ultimamente tenho acordado as 4 da manhã, tomado café, e meditando enquanto arrumo os restos da noite anterior… Aí quando o sol nasce de verdade já é outro momento.

    Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

    De manhã depois desse ritual da última pergunta hehe. Não tenho um ritual pra escrever especificamente… A escrita de textos escritos e não canções pra mim vem em um lugar totalmente fora do profissional, apesar de eu colocar ela em tudo, né? Então escrever pra mim é uma urgência mesmo, algo que aparece, eu ouço, e vai. Mas as vezes tem que dar uma sentada com uma caneta na mão e esperar.

    Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

    Zero metas de escrita! A não ser que eu tenha algo pra entregar que use essa linguagem, o que é raro, eu não sinto que tenho essa fluência mais metódica com ela como eu tenho com a música, por exemplo.

    Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

    A pesquisa é grande, né? Não importa sobre o que estou escrevendo todas as minhas referências se juntam no momento. Escrevo da mesma maneira que canto, canto da mesma maneira que escrevo. Escrevo o que cantei primeiro e muitas vezes canto textos inteiros. A escrita influencia na minha pesquisa musical principalmente quebrando padrões de refrão, verso, rima, ritmo. O cAntAr no sentido mais cru e originário pede muito mais do que qualquer partitura ou teoria explicaria, que é a escrita musical. Tudo o que falamos em seu ritmo próprio, pego a entonação da Leitura da Escrita e as transformo em Canções. O escrever pra mim é também pensar. Acompanhar o ritmo da sua própria cabeça e isso requer um treino meditativo.

    Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

    Sofrendo. Entenda que : sofrer Não Tem qualidade, É uma qualidade. É um adjetivo neutro que necessita de acompanhamento. Eu sofro os processos, sinto eles, vivo eles, tento compreender que é isso aí que ta acontecendo agora e porque eu vou tentar lutar contra? clarO que precisamos cumprir deveres e responsabilidades, mas é entender onde mora o equilíbrio de tudo isso.

    É foda falar isso também porque hoje em dia com essa situação pandêmica e bolsonarista, as pessoas estão cansadas de ter que lidar com a repetição, principalmente uma repetição abusiva e restritiva, algo que não depende delas pra existir, mas que elas tem que Sofrer as consequências também. Esse cenário dificulta muito a procura da capacidade de equilibrar esses momentos, de sofrer devidamente, que significa sim dar um tempo, não fazer nada, olhar pra uma planta.

    Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

    Hahahahahahahhahahahaha

    Eu nunca reviso e só dou dale na publicação.

    Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

    Tenho gostado cada vez menos da tecnologia e justamente por isso tenho questionado muitos processos, vontades e ambições que eu seguia cegamente. Porém, adoro. Te dá acesso à muita coisa. É que essa situação que é online estritamente desgasta demais.

    Se o que eu escrevo, escrevi enquanto cantava, improvisando a letra e a melodia eu nunca anoto. Ela fica memorizada de uma maneira doida muscular e mental. É uma boa noção do seu próprio raciocínio e entender a mensagem que quis passar. Não tem erro. Se canta como fala significa que canta intrinsicamente.

    De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

    Nossa… Do improviso. Não sei dizer, me pegou nessa.

    Não tenho hábitos pra me manter criativa… Acho que só sou. Ter desenvolvido bem o hábito de improvisar qualquer coisa a qualquer hora me ajuda a manter a roda girando, mas tenho uma grande capacidade de cair em um ciclo vicioso.

    O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

    Antes eu era muito mais dramática, no sentido de usar muitos signos da dramaturgia clássica. Palavras, construção de frases, etc… Agora eu acho que ainda carrego isso – leio muitos romances -, mas minha mente deu alguma virada em algum momento e passei a ser mais racional, dividir coisas em itens.

    Hahahah lembrei de uma vez que eu entrei em um sebo público, abri um livro e me encantei com a estética toda dividida em atos, números, parágrafos, títulos e quando fui ver era um livro da faculdade de direito kkkkkkk leis. Eu gosto dessa estética, é mental e prática.

    Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

    Acho que todos os projetos que queria fazer no momento estão acontecendo. Virei uma pessoa de pocos projetos, assim dá pra trabalhar direito e se equilibrar.

    Quero ler o livro da Maria Olivia Aporia, mas até hoje ninguém foi ousado o suficiente pra publicar… Uma penahhhh

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      Como escreve Valesca Lins

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      Valesca Lins é pedagoga, escritora, poeta e estudante de psicanálise, autora de “Minhas Conversas Florescidas no Khat” (Giostri, 2020).

      Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

      Eu tenho uma filha em idade escolar. Então, a rotina é tomar um café e acordá-la para que ela assista as aulas ou levar até a escola. Que neste momento está no modelo híbrido (remota e presencial). Mas se eu sonhei algo muito interessante, mantenho um caderno próximo a cama e a primeira coisa que faço ao acordar é anotar o que lembro do sonho.

      Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

      Eu sou notívaga. Durante o dia não me sinto desperta nem para ler nem para escrever. À noite estou sempre mais disposta. Gosto do silêncio da madrugada. Ultimamente, eu tenho escolhido uma trilha sonora quando estou escrevendo.

      Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

      Costumo dizer que mesmo quando não estou escrevendo, estou escrevendo. Eu tenho exercícios de escrita. Anoto palavras que achei diferente, anoto ideias que, às vezes, vêm de um olhar mais atento. Estou sempre lendo livros e observando o formato da escrita.

      Eu não tenho meta de escrita diária, mas exercícios. E quando tenho uma história para contar, sento e escrevo.

      Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

      Não sinto dificuldade em iniciar uma história, isso acontece ao longo do processo. Porque a personagem tem os caminhos dela e eu tenho intencionalidade. O conflito se dá entre a estrada que a personagem está trilhando e minha intenção. Isso dificulta o desenvolvimento da história que vai se resolvendo à medida que a história vai fluindo e se encaminhando.

      Eu penso na personagem, nas suas características e no ambiente em que ela vai circular e é isso que move minha pesquisa. Se quero falar de um determinado assunto do século XIX, por exemplo, vou para lá saber como era a vida das pessoas.

      Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

      Eu cresci num ambiente onde a escrita não era algo apreciado nem estimulado. Aprendi a gostar de ler, já tarde, com 18 anos de idade. Passei a escrever há apenas 4 anos atrás. Então, ainda, tenho muitas inseguranças, síndrome do impostor. Medo de dar certo e medo de não dar certo. Eu escrevo para manter o espírito da minha revolta vivo e criar mundos que possam compensar este em que nós vivemos, a expectativa é essa.

      Passo períodos sem escrever, apesar de me exercitar. Não fico ansiosa ou desesperada porque não estou escrevendo. Têm períodos que escrevo bastante e guardo. Quando aparece algum projeto que desperta meu interesse, geralmente, tenho comigo algo para apresentar.

      Os projetos longos trazem aprendizado seja lidar com as pessoas ou no aspecto técnico da escrita. Terão dias de euforia e outros de baixa energia e tudo bem. É importante sentir variadas emoções, acho que não devemos medicalizar isso ou tentar aplacar o que é desconfortável.

      Não sou muito ansiosa, o que acontece é que tenho muitas ideias e os pensamentos fervilham bastante quando estou escrevendo e, consequentemente, custo a dormir por causa dos devaneios.

      Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

      Não conto as vezes que reviso, mas são muitas. Troco palavras e sempre dou para outras pessoas lerem. Pessoas nas quais confio e sei que não vão fazer bajulação, vão ser sinceras e também não vão usurpar o texto. É importante ter parceiros, neste sentido, apesar de eu discordar de alguns argumentos e impressões e em outras ocasiões concordar e rever o que pode estar truncado.

      Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

      Eu ainda escrevo à mão, parece que esta atividade me ajuda cognitivamente. Mas tenho progredido com o computador e o celular. As poesias, geralmente, escrevo no celular. Os contos muitas vezes termino no computador e passo a limpo o que está à mão depois.

      De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

      Como disse acima, mantenho exercícios de escrita. Anoto palavras, ideias, observo, escuto muita música, leio bastante. Também faço cursos em diversas áreas desde arte visual até àqueles ligados a alguma cultura diferente da minha.

      O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

      Com o tempo aprendi técnicas de escrita, deixando meus textos mais fluidos e simples. Acho que isso se comunica melhor com os leitores. Além de ter criado consciência e intencionalidade, não escrevo mais como leitora. O que eu diria pra mim? Cuidado com os clichês, pode usar, sim! Mas não de qualquer maneira.

      Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

      Um romance, eu ainda nem pensei sobre isso.

      Toni Morrison disse “Se há um livro que você quer ler, mas não existe ainda, você deve escrevê-lo”.

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        Como escreve Pedro Lago

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        Pedro Lago é poeta, editor e performer, autor de “Corsário” (2018).

        Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

        Difícil dizer. Sempre muda. Nunca é a mesma coisa. Prefiro pensar em períodos de envolvimento do que em semana de trabalho, algumas coisas levam muito mais tempo que outras, portanto, não há organização semanal de trabalho, tudo depende do projeto.

        Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?

        Deixar fluir sempre. Cada poema tem um funcionamento específico, uma escultura diferente.

        Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?

        Não sigo rotina porque não penso no livro quando escrevo um poema Isso vem depois.

        Gosto de silêncio sim, mas muitas vezes escrevo na rua, em locais públicos cheios de gente. O Corsário, livro que publiquei em 2018 foi todo escrito na rua, em silêncio ou não.

        Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?

        Não acho que haja a necessidade de desenvolver uma técnica para “lidar com a procrastinação”, isso não faz muito sentido pra mim. Gosto de estar em contato com meu corpo, ouvir o corpo, a escrita se faz com o corpo, na urgência do corpo, se há “trava” ou algo do gênero, é porque o corpo precisa se mover, a energia precisa fluir. Escrever é um exercício, é preciso praticar, todos os dias.

        Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?

        Os poemas que falam de coisas reais da vida pessoal.

        Não tenho orgulho de nenhum especificamente, tudo é processo, acharia até estranho me orgulhar de um poema.

        Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?

        Como publico livros de poemas, falar de “tema” para um livro pode soar abstrato, mas sim, às vezes um assunto salta mais, mas para que isso aconteça, é preciso entender o encadeamento.

        Não penso em “leitor ideal”, isso não faz sentido para mim.

        Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?

        Logo que os digitalizo. Sempre mostro para dois amigos.

        Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?

        Acho que quando tinha uns 26 anos, antes já escrevia poemas, mas não pensava que seria algo que me debruçaria com seriedade, que trabalharia com isso, tanto é que dois anos depois publiquei meu primeiro livro.

        Acho que aconteceu como deveria, no tempo das coisas, não penso no que poderia ter sido diferente.

        Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?

        O jeito de fazer muda, penso que encontrar estilo tem um caminho dúbio, porque a melhor coisa de criar é sempre tentar algo novo.

        Difícil dizer um autor específico, mas alguns sempre voltam a rondar, mas não o autor, e sim, alguns poemas, como alguns do Drummond, Lautréamont, Rimbaud, Pessoa, mas de forma mais inconsciente.

        Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?

        Qualquer livro ou poema do Raúl Zurita.

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          Como escreve Clarice Fortunato

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          Clarice Fortunato é mulher negra, escritora, professora, pesquisadora, feminista, autora de “Da vida nas ruas ao teto dos livros”.

          Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

          Basicamente, meu dia começa com um café bem preto. Em seguida, leio notícias, e-mails e mensagens mais urgentes. Só então, inicia a rotina de estudo e trabalho, sou docente na secretaria do Estado de Santa Catarina. Fecho o dia vendo noticiário e uma dose de leitura. No fim de semana, é que tenho tempo para ler mais.

          Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

          O escrever é um lugar de desconforto confortável; é um paradoxo, eu sei, mas, do desconforto nascem as melhores ideias, os melhores personagens. No silêncio da madrugada é, sem dúvidas, o melhor momento para escrever; é quando a mente está mais inquieta e disponível para a criação. Não tenho um ritual específico para a preparação da escrita, a leitura é a maior sustentação nesse processo. Assim sendo, leio mais; releio autores que me inspiram, como Conceição Evaristo, Toni Morrinson, Clarice Lispector e Goethe. Deste último, gosto de “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. “A montanha mágica”, de Thomas Mann, também é um livro de cabeceira, uma obra que nunca termino de ler.

          Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

          O trabalho como docente me ocupa em tempo integral e, por esta razão, escrevo em períodos concentrados. Nesses momentos em que não é possível me debruçar na escrita, anoto todos os insights em post-its, no caderno de anotações ou mesmo no bloco de notas do celular para, posteriormente, utilizar nos esquemas de escrita.

          As metas colocam limites na expressão, não creio que uma escrita genuinamente criativa possa surgir, em nenhuma medida, de um processo assim; a arte precisa fluir livre. Talvez para alguns escritores, a escrita possa funcionar desse modo, para mim, não.

          Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

          O meu processo de escrita é um quebra-cabeça, em que monto e remonto as partes, troco nomes de personagens, mudo os papéis; escrevo, apago; susto a escrita e aí vem um hiato – que pode ser breve ou longo – sem escrever. Não é difícil começar. Particularmente, acho mais complicado embarcar na história; para isso, é preciso que eu goste dela, que os personagens sejam muito verossímeis, que não haja desencadeamento de ideias; chegar nesse ponto, pode ser um processo bastante demorado. Inicialmente, gosto de definir conflito, protagonista e, então, situar a narrativa no espaço através da pesquisa, para onde só retorno quando tenho uma trava na escrita; caso contrário, me deixo conduzir pelo fluxo da história.

          Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

          A ansiedade e a procrastinação são inerentes ao processo da escrita, não  há nada de errado com isso; já o medo pode ser uma prisão, que não combina com a força libertadora que tem a escrita; então, para escrever é preciso se libertar dele. Os esquemas ajudam bastante, mas chega um momento da escrita, em que todas as peças do quebra-cabeça se emaranham. Aí, é preciso deixar a história descansar um pouco para, só mais tarde, voltar a ela. Enquanto isso, vou lendo obras que possam me inspirar a escrever ou pesquisando sobre os elementos que fundamentam a escrita. Outras vezes, durante as pausas, só preciso fazer uma seleção das informações armazenadas em excesso — como se fosse num “hd” mesmo — que pode estar deixando a memória lenta. Excluindo as informações desnecessárias, o raciocínio flui muito melhor.

          Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

          Parafraseio Nélida Pinon para dizer que “temos uma língua tão suntuosa, tão poderosa, que se presta a qualquer serviço linguístico, portanto, qualquer coisa que o escritor não conseguir dizer, a falha não é da língua, é dele”, ou seja, temos uma língua riquíssima ao nosso favor para expressar o mundo. A propósito, como disse Thomas Mann, o “escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever”, ele é o seu maior crítico. Tento não permitir que a autocrítica seja maior que a vontade de escrever; mesmo assim, é normal perder a conta de quantas vezes reviso meus textos. Literalmente, eles parecem nunca estar prontos. Chega num ponto em que não tenho mais disponibilidade para a reescrita e, então, é hora de submetê-la à publicação. Antes, mostro aos amigos próximos, mas nem sempre eles têm tempo para uma leitura crítica.

          Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

          Tenho uma alma antiga, sou uma pessoa do século passado, literalmente! Por outro lado, desfruto de bastante intimidade com a tecnologia. Faço anotações no papel mas, uso também o bloco de notas do celular e várias ferramentas de computador e tablets. Sou avessa aos e-books, prefiro o livro impresso, para marcar e rabiscar. A internet nos permite acessar facilmente uma vastidão de informações, o problema é que, muitas dessas informações são supérfluas e a gente gasta um tempo considerável a filtrá-las; nesse ínterim, corre-se o risco de desviar a atenção do que é realmente importante: o fio do processo criativo que, em si, que acontece longe das telas, com livros, dicionários e papel.

          De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

          Cada um encontra um ritual para se manter criativo, mas basicamente, estou atenta a tudo o que acontece a minha volta, busco conhecer os autores que me inspiram, leio e assisto muito filmes e séries. Aposto na serendipidade, ao divagar como um flâneur de uma obra a outra, de um filme para um livro, uma música, uma paisagem, isso é inspirador. Não basta mergulhar na obra e no contexto dela, é preciso flutuar para tomar fôlego, sentir a brisa, a imensidão do céu como uma metáfora para a vasta possibilidade de criação.

          O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

          O processo inicial de escrita foi uma redescoberta, onde nasceu a escritora. Se pudesse voltar, eu escreveria antes, para que o lançamento ocorresse fora do período de isolamento social, mas, a própria pandemia foi imprevisível. Antes, me via sempre no papel de crítica literária, minha área de pesquisa no doutorado foi teoria literária, não me imaginava no papel de escritora. Depois que mandei o rascunho para a editora, recebi tantos elogios da fundadora da Pallas e das pessoas que leram o original, que me convenci do valor da minha escrita, que eu posso escrever e, principalmente, que eu gosto de escrever. Não que eu tenha ficado deslumbrada, porque sei que não há glamour por trás da profissão. O que há, de fato, é muito trabalho, reconhecimento distante e pouquíssimo retorno financeiro. Ainda assim, se pudesse voltar ao começo, diria a mim mesma que não demorasse tanto em titubeios: a “escrevivência” da mulher negra é urgente, escreva logo!

          Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

          Eu gostaria de escrever um livro de contos e um romance; ainda não decidi qual virá antes. Não sei se há um livro que nunca foi escrito – “Quais são as palavras que nunca são ditas?” –  porém, um livro que eu gostaria de ler – e acho que não foi escrito – é um diário de bordo de navio negreiro, escrito por uma mulher negra escravizada.

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            Como escreve Alex Andrade

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            Alex Andrade é escritor.

            Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

            Geralmente acordo bem cedo, mas nesses tempos de pandemia tenho trocado as horas e a rotina acaba sendo modificada. Gosto da noite, do silêncio da casa, ouço música, experimento histórias, fico imaginando cenas, observo o dia correr e entre os minutos, vou criando um pouco os passos das personagens. Pela manhã sou mais preguiçoso, mas quando estou no processo de criação, costumo confundir o dia com a noite, a noite com o dia. É nesse processo que minha rotina diária tem seguido, são livros, filmes, documentários, séries e experimentos para que o tempo corra mais ameno.

            Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

            Como disse na resposta acima, prefiro as noites, pois o silêncio me acompanha.

            E o ritual é espontâneo, não anoto nada em papéis, não tenho o hábito de escrever com o laptop sobre a mesa, é tudo muito intuitivo. Sento na cama, uma loucura, pois haja coluna no dia seguinte. As vezes me deito, ensaio um cochilo, ouço música e até chego a meditar.

            Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

            Escrevo um pouco todo dia, mas tem algum momento que me distancio de tudo para respirar. Geralmente não leio quase nada por completo, são leituras rápidas, uma olhada no mundo via televisão.

            Minha meta é que as histórias cheguem naturalmente, sem pressão e com a medida exata.

            Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

            As histórias surgem nos pensamentos, nas observações, nos tempos naturais. E é nesse processo de inspiração que vou encaminhando o processo da escrita. Deixar fluir, sentir o espaço, o momento e seguir o fluxo. Escrever é isso, não? As histórias vão brotando e às vezes você consegue perceber onde começar e como, mas tem momentos que você tem tudo na mente e de repente esse começar não acontece. Então é o momento de respirar, pesquisar e fluir. Muitas vezes a pesquisa ajuda muito nessa dinâmica e a escrita vai ganhando forma. O processo da pesquisa, seja do enredo, da personagem, te abre um leque de possibilidades que move todo o conjunto.

            Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

            Este é um dos maiores desafios para quem escreve. Não que eu me apegue a esses medos, mas eles são recorrentes. A pesquisa, as ideias, o enredo, a perspectiva, tudo isso vem em um mesmo pacote, por isso, quando me deparo com esses sentimentos, deixo fluir. Trabalhar em projetos longos requer paciência e principalmente, leveza. Até porque esse é o momento mais duro, quando você tem uma jornada longa. Requer calma, lucidez e ousadia.

            Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

            Muitas vezes! Até no período da escrita de um capítulo eu leio e releio muito! Por isso as noites são um bálsamo para mim, pois não tem barulho e a minha leitura em voz alta me torna um ouvinte/narrador/leitor/crítico daquele momento descrito no papel.

            E gosto de que algumas pessoas leiam esses momentos, por isso tenho as pessoas certas em que confio para isso. É bom saber qual sensação, o que se entendeu, se o que eu quis dizer ali faz sentido. Isso me encaminha de uma forma espontânea para seguir adiante ou até mesmo ressignificar as minhas ideias.

            Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

            Tenho hoje uma relação boa, mas posso confessar que durante muito tempo escrevia à mão. Daí quando digitava era mais ou menos como reescrever a história. Mas hoje em dia prefiro a tecnologia com todo o seu aparato.

            De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

            Sou um ser pensante. Em eterna transformação. Observo muito tudo, converso comigo mesmo, levo horas sozinho no banheiro refletindo as coisas do mundo, as pessoas, as atitudes e os acontecimentos. Sempre fui assim. Quando jovem, esperava todo mundo de casa ir dormir e me trancava no banheiro com um maço de papel, uma caneta e um livro para apoiar as anotações. Nesse ambiente fiz o meu refúgio e a conexão com a minha inspiração. Durante anos segui essa rotina. Hoje estou mais aberto aos outros ambientes da casa, a cama, por exemplo. E no quarto me concentro na música, outras vezes no silêncio que a noite traz e na rua, olhando da janela o que as outras janelas dos prédios podem nos revelar. São muitas histórias por trás daquelas cortinas.

            O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

            Mudou muita coisa e ainda está mudando. A cada livro você vai percebendo que é esse o grande barato: escrever nunca é igual. Quando releio um livro que escrevi há dez anos atrás, me reconheço naquele tempo, e percebo a necessidade que tive de me tornar o que hoje escrevo. Amadureci com os livros, sempre! Acho que o que diria hoje para aquele que fui ontem como um contador de histórias, é: continue, continue, continue. Leia muito, viva, valeu a pena!

            Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

            São tantos projetos, tanta coisa para ser contada. Acho que agora estou no projeto que gostaria de fazer, no processo de uma nova história, e isso é bom. E quanto ao livro que gostaria de ler e que ainda não existe: os de todos os escritores. Sempre vão ter histórias boas para nos encantar. Por isso, repito o que disse para o Alex dos primeiros livros, continuem, continuem, continuem. Eu vos aguardarei!

            ***

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              Como escreve Nia França

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              Nia França é escritora de fantasia e estudante de Letras.

              Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

              Minha rotina matinal é uma das mais importantes pra mim, porque a manhã e a noite são meus períodos mais produtivos ( porém, durante as aulas da faculdade, acabo perdendo o segundo período de produtividade). O café é o meu maior aliado ( assim como de muitos escritores) e eu só me sinto pronta depois disso, tanto para escrever como para realizar outros trabalhos. E música também! Alguns pessoas se sentem incomodadas com o barulho, mas pra mim a criatividade só começa a fluir com os fones de ouvido.

              Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

              Como dito, a manhã e a noite são meus melhores horários, mas eu prefiro muito mais a noite, as vezes até virar a madrugada. Os únicos rituais de preparação são a música, um lugar organizado e meus cadernos, porque eu só consigo manter a concentração escrevendo em cadernos e depois digitalizando.

              Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

              Não gosto de ter metas diárias, mas gosto de ter metas. Ao invés de me forçar a escrever uma quantidade x todos os dias, eu me desafio de outras formas, como ” Quero finalizar tal cena da melhor forma possível, mesma que não escreva muito, ela precisa ficar impecável”. Pelo menos pra mim isso faz mais sentido do que escrever uma grande quantidade sem padrão de qualidade.

              Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

              A pesquisa pra mim é a parte mais importante, depois que ela está pronta, a escrita flui naturalmente. Então desde que eu saiba muito bem sobre o assunto que vou escrever e tenha os personagens bem construídos, o resto eu deixo acontecer conforme as páginas. Se tudo ficar muito profanado, a criatividade bloqueia.

              Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

              Terapia é bom pra tudo né? Não só pra vida pessoal, como pra esse tipo de questão também. Quando a mente tá equilibrada, fica bem mais tranquilo de se trabalhar e de se lidar com as frustrações e ansiedades ( porque elas sempre vão aparecer). Quanto a procrastinação, que é um problemão que eu tenho, acho que a melhor coisa é estabelecer horários, principalmente para quem trabalha em casa.

              Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

              Eu tenho a mania de reler todos os capítulos assim que eu escrevo, então acabo revisando muuitas vezes! Então eu vou escrevendo e vou revisando por capítulo. E no final leio tudo de novo pra entender como ficou o funcionamento do conjunto. E faço isso várias vezes. Além disso, tenho sempre meus leitores bethas que ajudam muito dando opiniões sinceras.

              Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

              Sempre a mão primeiro, apesar de ter nascido na década digital. É uma mania de infancia, porque comecei a escrever com 9 anos, e na época do tinha acesso à cadernos mesmo. Então acabei crescendo com essa mania ( o que me faz sempre escrever todos os livros pelo menos duas vezes, uma no caderno, outra no computador).

              De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

              Eu consumo muito conteúdo da cultura pop, leio bastante e assisto coisas variadas. Acho que não tem forma melhor de se inspirar do que consumir outras obras antes de criar a sua.

              O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

              Tudo! Felizmente a gente amadurece, e na escrita não é diferente. Os diálogos eram ruins, os personagens eram rasos, a história na maioria das vezes era corrida. Mas faz total sentido começar assim, ainda mais quando se começa criança. Acho que o que me fez querer continuar foi a vontade de tirar todas as ideias da minha imaginação e compartilhar com outras pessoas que, muitas vezes, estavam precisando ler aquilo. Foi ppr isso que eu decidi me aperfeiçoar e continuar.

              Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

              São tantos na real! Como eu escrevo fantasia, me vejo criando mil e um mundos diferentes, com personagens diferentes e explorando os mais diversos gêneros também! Acho que tudo o que eu gostaria de ver que ainda não existe, eu vou lá e crio haha! Sempre foi assim.

              ***

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                Sobre o editor

                José Nunes é editor da Colenda.

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                  O como eu escrevo promove uma conversa compartilhada sobre o processo criativo de escritores e pesquisadores brasileiros.