Zetto é poeta, autor de “Ave Poesia”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Bem, meu dia às vezes se inicia por um insônia ou por uma noite bem dormida. Gosto de planejar o dia, nem sempre sigo. Pela manhã cedo, busco notícias, leio livros que estou me encantando (livros de literatura universal ou livros espíritas), perco tempo nas redes sociais e tomo café (como vício e como quem saboreia o viver). Daí resolvo obrigações ou executo o planejado até outros planos existirem e atravessarem o planejamento.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Minha escrita revela-se depois que maturo sobre determinado assunto e a forma como esse assunto me afetou, preciso de mote. Acho que tudo isso engrossa o caldo da escrita, vem um pouco de cada verso depois do mote. Gosto da noite e a noite tem se revelado o melhor período para escrita, talvez pelo clima ficar mais ameno e Fortaleza é uma cidade a quatro graus do Equador, tem muito calor abraçando a cidade. Meu primeiro livro publicado foi escrito boa parte durante a noite na solidão de um quarto. Coloco uma playlist que tenho que tem bossa nova, jazz and blues, Bob Dylan e parto para a escrita, a música me ajuda na concentração.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gosto da fluidez das coisas, há bastante laboro nos versos, mas alguns versos só se fazem sentir com o tempo e a vivência. Respeito a necessidade da poesia, porque a poesia se faz necessária em meu viver, mas não há sempre a necessidade de poema. O que persigo é a poesia, essa poesia que está espalhada por aí e que o mercado não pode mensurar porque nem tudo está à venda, por exemplo. Aprendi com o editor do meu livro Ave Poesia a importância de se pensar o motivo de lançar poemas no universo e isso me preocupa às vezes, noutras tantas deixo fluir. Não há meta diária de escrita, nem todos os dias se convertem em poemas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Às vezes leio bastante sobre o que quero passar, mas quase sempre a necessidade do poema é o que me obriga a pesquisar. Preciso maturar a ideia, vem algum verso, naturalmente. Claro que depois do verso escrito vem os cortes, a revisão, a busca por palavras e assim vai.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Geralmente, quando o texto trava se dá muito pela ansiedade em buscar a chave de ouro do poema ou algum processo da vida que afeta mais do que o pensar poético. Saber reconhecer essa dificuldade e aceitá-la faz parte do caminhar, às vezes é bom deixar o poema de lado, outras tantas algum verso salva e se encaixa em outro poema. Você faz a costura.
Já com a procrastinação, você não lida, você procrastina. Vida que segue. Você não é obrigado a produzir sempre. E, isso de corresponder às expectativas é muito difícil e penso que o poeta não deve buscar isso, deve buscar a necessidade do poema. Até porque eu acho que a poesia não obedece prazos e que não há prazo de validade para poesia, e que por isso não se deve esperar validação. Apesar de que, sim, queremos ser lidos rsrs
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Estou sempre revisando, mesmo depois de publicados. Gosto da ideia de utilizar versos já utilizados em outros poemas meus, como para fazer uma ligação com aquele outro poema, como para dar uma nova compreensão do verso.
No processo do meu primeiro livro tive a ajuda de uma escritora premiada aqui de Fortaleza. Ela fez a compilação e deu sentido a estrutura que queria, uma trilogia. O nome dela não me é permitido dizer porque ela já se “aposentou”, a experiência da publicação e as leituras que fizeram dela e da obra, afetou muito. O que acho uma pena, porque acho que ela tem muita lenha para aquecer esse mundo. Agora, estou sem leitores que leiam antes dos versos irem ao mundo, gostaria de tê-los, como ainda não tenho jogo meus versos em blog, revista, Instagram.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de escrever meus versos à mão, tenho vários cadernos com versos e poemas incompletos. A escrita no papel me permite a rasura sem perder o fio das palavras que trouxeram aqueles versos ou o fio de pensamento que busco no poema. Às vezes escrevo as primeiras ideias que vem e depois começo o laboro de palavras e navalhas. Mas nem sempre tenho a disposição da mão papel e caneta, então, o celular se faz importante e anoto no bloco de notas. Sou de uma geração que cresceu com a popularização da Internet e das tecnologias, crescemos tentando entender como funciona e como afeta nossas relações. De modo que hoje é importante saber sobre tecnologias, de como podem ajudar o trabalho, e tenho aprendido a como usar as ferramentas digitais, mais da metade das minhas vendas se deve a Internet e ao Instagram, aplicativo que uso para divulgação e o mais acessível para tanto. Antes utilizava e ainda utilizo como um álbum digital de fotografias, mas hoje é o principal veículo de distribuição dos poemas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Preciso de mote, alguma provocação, alguma paixão… acho que partem desses lugares as ideias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A maturidade é o principal vetor da transformação da minha escrita. Se tivesse um encontro com meu eu dos primeiros escritos, diria, leia mais, consuma menos seu tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Penso em escrever um romance com o centro de Fortaleza como pano de fundo. Gostaria de ler esse e de ler meu próximo livro de poesias que ainda não escrevi.