Wilson Aparecido Costa de Amorim é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal envolve, sempre que possível (quando não tenho aulas pela manhã), a leitura de dois jornais (Valor Econômico e O Estado de São Paulo).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho preferência para escrita em termos de horário, mas, se puder, evito escrever durante a noite. Não tenho nenhum ritual. Quando caminho, estou no banho, indo dormir ou fazendo qualquer outra atividade que não seja a de estudo e tenho alguma ideia que me parece promissora, interrompo o que estou fazendo e registro o básico em um caderno de trabalho que trago comigo diariamente.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando me dedico a escrever (um artigo, um livro ou uma tese) alterno trabalhando todos os dias, se a tarefa for muito extensa, ou em período concentrado, se a entrega for com prazo. Minha meta é estabelecida segundo o grau de dificuldade ou volume de trabalho necessário.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando lido com textos acadêmicos, inicialmente escrevo a ideia geral e em seguida estruturo os tópicos e sub-tópicos. Quando arrisco algo na prosa (pequenos contos ou crônicas), eu crio o plot inicial em duas a cinco linhas e começo a escrever. Nesses casos, sinto a necessidade de obter a primeira versão o mais rápido que puder, para depois burilar o texto até a forma final com mais calma.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas de escrita surgem para mim quando o projeto de texto em si não está claro. Nesta situação a tarefa é pensar e rascunhar até que a ideia fique clara. Não é possível apressar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso menos do que gostaria (pela pressão de tempo) e gosto de mostrar aos outros os textos (teste de audiência) antes de divulgá-los.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Atualmente escrevo apenas no computador. No papel, apenas as ideias principais.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
No campo acadêmico, as ideias surgem para mim de forma dialógica. Gosto de conversar e testar argumentos e propostas no contato com amigos e colegas. Quanto à prosa, tenho tentado praticar um pouco de escuta ativa, já que as histórias de vida são sempre muito interessantes.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Tentaria ter um pouco mais de poder de síntese e me arriscaria mais nas análises a que me propus. No que se refere à prosa, eu creio que deveria ter dado atenção ou levado isso a sério muito antes do que fiz e tenho feito.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de fazer um curso de escrita não acadêmica para desenvolver escrita literária ou algo próximo dos roteiros de filmes. Espero fazer isso em menos de um ano. A partir daí, tenho intenção de fazer uma publicação caseira com cerca de cinquenta pequenos contos (já tenho cerca de vinte) que recolhi a parti de relatos da vida de amigos e familiares).
Quanto à segunda pergunta: há livros que já existem e eu não li (então eles não existem dentro de mim ainda) e há livros que eu já li (logo, já existem) mas ainda podem revelar coisas que eu não percebi na primeira leitura. Por fim, há livros que eu li e me marcaram tanto que temo voltar a lê-los e perceber que eles não existem mais (por que já não sou o mesmo que os li na primeira vez).