Walther Moreira Santos é escritor, autor de O Ciclista, Um Certo Rumor de Asas, O Metal de Que Somos Feitos e Arquiteturas de Vento Frio.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente escrevo e desenho pela manhã e leio à noite.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Qualquer texto fica melhor depois de uma corrida ou caminhada; há uma melhor oxigenação do cérebro; viajar também tem o mesmo efeito: é importante os estímulos de novos lugares e pessoas. Meu ritual é correr primeiro e escrever em seguida. Mas também poderia dizer: prosa e café pela manhã e tarde; vinho, poesia e leitura à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não me prendo a metas; simplesmente vou tomando nota sobre algum assunto de interesse, às vezes durante meses e até anos; para o romance O Ciclista, por exemplo, passei dois anos anotando e lendo tudo o que pude sobre zen budismo e psicanálise; daí quando me sinto preparado, eu sento e passo as notas a limpo. Depois do primeiro esboço pronto, passo à segunda fase: cortar, cortar, cortar; escrevo 400 páginas e fico com 150, 180, no máximo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Há um segredo: é preciso seguir o que chamo de “sentimento do texto”; isto é, a emoção inicial, e anotar tudo o que vier à mente; feito isso, o resto é fácil, é como catar feijão, como dizia o João Cabral de Mello Neto, você joga fora tudo o que não é necessário.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu nunca tive travas porque tenho como hábito deixar que o texto me procure; a ideia precisa vir atrás de mim e me convencer. Imagino que deva ser muito árduo eleger um tema e em seguida procurar desenvolvê-lo; mas comigo isso não funciona.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
É preciso revisar setenta vezes sete. Geralmente eu envio o material pronto para algum concurso literário pois isso, teoricamente, garante a leitura da obra por alguém abalizado. Acho perfeito. Você não incomoda os amigos e vez ou outra recebe uns trocados. Este mês fui premiado em Tatuí, interior de São Paulo, no concurso Paulo Setúbal; os prêmios literários têm também a vantagem de nos obrigar a uma disciplina, em geral os prazos ficam aberto por 60 dias e nesse período é preciso produzir.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Ninguém sabe ao certo de onde surgem as ideias, é um dos mistérios da criação literária.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Minha escrita continuou a mesma e eu não sei se isso é bom ou ruim, mas ao menos sei que não é uma escrita datada pois esta semana recebi um artigo publicado na revista Algo Mais sobre um livro de 2013, O Metal de que Somos Feitos; e os meus livros, mesmo os mais antigos, continuam a ser reimpressos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Pudesse, eu escreveria mais para o teatro; não seria incrível ler um livro de ficção científica escrito por uma brasileira que fosse tão visceral quanto Os 12 Macacos, de Elizabeth Hand? Estou à espera de algo assim.