Walfredo Luz é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Uma vez que costumo dormir muito tarde aproveitando o tempo para ler, escrever, assistir filmes, eu acordo entre 9 e 10 horas. Começo o dia resolvendo assuntos caseiros e, em seguida, tenho o hábito de pensar e rever meus projetos artísticos em andamento, pois sempre estou procurando encontrar outras formas para difundir os meus trabalhos. Não posso esquecer de dizer que sempre dou um giro pelo mundo real e virtual para ficar atualizado sobre o caótico universo no qual estamos vivendo, pois os meios de comunicação em canais abertos, com raríssimas exceções, fogem do compromisso com a realidade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Geralmente no final da noite entrando pela madrugada. Não tenho um ritual propriamente dito. Durante o dia geralmente surgem situações, no mundo real/virtual, que fornecem máteria-prima para os trabalhos artísticos, principalmente literários. Sendo eu um observador sempre atento às coisas mundanas, pois sempre costumo andar com caneta e papel que me auxiliam em salvar ideias, principalmente, para a escrita. Importante ressaltar que descobri a beleza arte através do teatro em 2011 e não parei mais.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A maior parte de minha produção artística geralmente acontece em momentos caóticos diante de turbulências internas e externas, mas em momentos mais amenos eu costumo escrever também. Após reunir as ideias, então começo a trabalhar diariamente, assim sendo meus trabalhos são concentrados nesse período de produção, pois tenho o hábito de começar e finalizar o projeto mais rápido possível, mas com bastante zelo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou uma pessoa que ver tudo com os olhos da imaginação e transformo o lido, visto, ouvido, tocado e sentido em escritos (poesia, teatro). Escrevo para o teatro quando leio obras com temas humanísticos e sempre procuro escrever uma outra história, mas de cunho universal. Estudo e pesquiso sobre a obra, o autor, o momento histórico em que a obra foi escrita, o momento histórico em que o autor viveu. Faço as anotações devidas e começo a imaginar como seria uma outra história escrita inspirada naquela lida e estudada. Escrevo a sinopse, idealizo as personagens, as cenas e começo a escrever. No caso do teatro, penso sempre na customização da montagem do espetáculo. Escrevi o texto teatral (dramaturgia) DE CACHIMBO CAÍDO inspirada na obra O MISANTROPO do grego Menandro onde havia várias personagens, mas no meu texto aparecem apenas cinco personagens. Quando escrevi o texto teatral (dramaturgia) FULNIÔ inspirado na Obra GARRINCHA A FLECHA FULNIÔ DAS ALAGOAS do escritor alagoano Mário Lima, eu criei o texto com três personagens para viabilizar uma futura montagem.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Confesso para você que, quando travo, paro tudo, mas por pouco tempo. Começo a relaxar pensando onde está o gargalo. Após resolver o X da questão, eu retomo o trabalho, pois não tenho o costume da procrastinação. Dizem que eu nasci de sete meses! (risos). Em 2011, quando comecei a atuar no teatro, conheci a palavra “pavor”, mas o próprio teatro me ensinou que a palavra “medo” precisa ser dominada e assim aconteceu: joguei-me de corpo e mente no universo artístico sem medo, apenas com aquele gostoso frio na barriga de missão cumprida após cada trabalho, seja no teatro, cinema ou poesia. Já criei muitas expectativas sobre projetos longos e curtos, mas não penso mais nisso, pois apenas dedico meu trabalho à Arte como um todo sem me preocupar com críticas, vendas ou reconhecimento. A Arte exige doação e é exatamente isso que eu procuro fazer, não para um só minuto procurando temas necessários para que possamos refletir sobre nós e nossa relação com o universo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso meus textos, no mínimo, três vezes, pois tenho o prazer de amenizar o trabalho do revisor ou da revisora. Geralmente, eu mostro os trabalhos ao provável revisor e aos convidados para escrever a apresentação e as orelhas da obra.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de escrever com caneta e papel, sempre! Escrever no papel geralmente desperta ideias, pois a imaginação vai fluindo e sempre tenho surpresas (ideias novas) para inserir nas obras, seja teatro ou poesia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Elas surgem da leitura de obras nacionais e internacionais, da observação do cotidiano, da leitura do mundo virtual, das obras cinematográficas, da música, do circo, da sensibilidade diante do caos humano. Ideias fluem constantemente da angústica, da falta de humanidade, das imposições que tentam nos aniquilar enquanto ser pensante. Minha mente e meu corpo sempre estão em ebulição, não consigo seguir vivendo com indiferença diante da falta de reflexão sobre os seres que aqui habitam, sendo esse o gatilho para minha escrita: REFLEXÃO.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sinceramente, eu não percebo mundança alguma, pois meus textos continuam ácidos, porém doces. Eu diria a mim mesmo que continue adiante, pois o seu caminho é esse mesmo: não agradar a gregos e troianos!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Espero em breve criar um teatro na parte alta da Cidade de Maceió (periferia) para difundir e fomentar a prática artística, principalmente para as pessoas que não têm acesso ao teatro. Gostaria de ler o livro A INSENSIBLIDADE NA ARTE, mas penso que o mesmo não existe.