Wagner William é jornalista e produtor de TV, autor de “Uma mulher vestida de silêncio – a biografia de Maria Thereza Goulart” (Record).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho rotina porque dependo de entrevistados e reuniões. Uma confirmação no dia anterior muda toda a rotina do dia seguinte.
Acordo cedo para levar meu filho à escola e, se não houver compromisso, começo a escrever logo pela manhã e vou até por volta das oito da noite.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Se pudesse, acordaria bem mais tarde e usaria o horário vespertino e noturno para escrever. Sinto que rendo mais nesses horários.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo conforme a oportunidade e a necessidade. Em certos momentos, sou obrigado a cumprir uma meta diária, o que eu detesto porque uma página pode ser escrita em duas horas ou dois meses, depende da carga de informações e checagens que será apresentada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vou escrevendo conforme recebo informações, faço entrevistas e confirmo documentos. Transcrevo para o texto com um formato o mais próximo possível do ideal. Nessa primeira passada de texto também registro em quais documentos e entrevistados estou me baseando para que, se surgir uma entrevista ou fato que apresente outra versão (o que é absolutamente normal), eu possa confrontar novamente os primeiros entrevistados.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Só trabalhei em projetos longos. O terrível é começar. Eu já sei que o caminho escolhido no começo do projeto, no meu caso, dificilmente vai ser o mesmo quando o trabalho estiver encerrado. Surgem mudanças, surpresas e novos fatos que mudam sua ideia inicial.
Sobre a procrastinação… nada como o prazo se aproximando pra você ficar doze, catorze horas escrevendo por dia…
Agora… quanto ao medo de não corresponder às expectativas, esse não tem jeito. Você se esforça, faz o máximo possível, dedica-se totalmente… e seu produto final será avaliado como qualquer outro profissional em qualquer área. O medo existe mesmo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Se eu não ouvir um “não tem mais tempo. Acabou mesmo o prazo”, ficaria revisando meus textos eternamente. Mostro para pouquíssimas pessoas, profissionais da área, e levo muito em conta a opinião dos revisores e editores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Só escrevo no computador. Não sei se faria um livro se não houvesse computador. Uso todos recursos tecnológicos possíveis. Mas faço questão de realizar a degravação das entrevistas (mesmo com os novos e bons programas de degravação que estão no mercado) e jamais entregaria a um redator-auxiliar esse trabalho. As pausas e nuances de uma entrevista são importantes e podem apontar falhas e outros caminhos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
No meu caso, que escrevo não-ficção, mais que uma boa ideia, o importante é ter sensibilidade para perceber que ali, naquele fato ou naquela pessoa, existe uma grande história que merece ser contada.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que o meu texto melhorou ao longo dos anos. Diria a mim mesmo, nessa sua máquina do tempo, para parar de se preocupar e seguir escrevendo porque no final tudo vai – sempre – dar certo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu problema é que já “comecei” vários projetos. Há poucas linhas de muitos livros no meu computador, muito tempo perdido apostando em projetos que deram errado, um risco que existe. Muitas vezes a história espetacular vai deixando de ser tão sensacional assim conforme sua apuração vai ficando mais completa. O fato não resiste a uma checagem mais rigorosa, porém isso sempre leva um tempo impossível de compensar. No fundo, é uma aposta.
Gostaria muito de ler um livro que contasse, em detalhes, as últimas 24 horas do Papa João Paulo I (como se houvesse a famosa “mosca na parede” que revelasse o que houve – ou não houve – naquele momento). Também, claro, adoraria ler um livro que me explicasse as mortes de Juscelino, Jango e Lacerda em tão curto espaço de tempo, com o país às vésperas de uma abertura política.
E, mesmo sem existir essa pergunta, respondo que gostaria muito de ter escrito o livro “Fuimos campeones – La dictadura, el Mundial 78 y el misterio del 6 a 0 a Perú”, do jornalista argentino Ricardo Gotta.