Wagner Andriote é poeta, autor de “Desordens do Ocaso” (Scortecci, 2014).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal se resume a leituras diversas. Não tenho o hábito de escrever pela manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho ritual, nem disciplina para escrever em determinados dias ou horários. Como exerço outra atividade profissional durante o dia, costumo escrever à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Pelo fato de me dedicar essencialmente à poesia, não tenho metas ou dias definidos para escrever. Trata-se, no mais das vezes, de uma necessidade pessoal, outras de pura inspiração mesmo, na verdade sigo meus instintos poéticos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Uma desordem total. Faço poucas anotações. Geralmente registro alguns versos que surgem espontaneamente. Outros nascem da observação de alguma cena cotidiana, algum pensamento e até mesmo da apreciação de imagens, quadros, pinturas. É a mais desregrada das modalidades literária, a mais rebelde e insana talvez. Acredito, aliás, que a poesia seja uma estrada insólita, espantosa e indecifrável, geometria inexata e improvável, por onde caminham os poetas…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Há períodos de pura escuridão. Penso que qualquer autor enfrenta seus desertos. Quando nada me estimula ou inspira, busco refúgio na sensibilidade, na emoção, recurso primordial dos poetas. A leitura de outros autores também ajuda muito, sempre um belo verso pode nos encantar e abrir portas para muitos outros, é a inspiração gerando inspiração, mas em regra, não há regras, cada autor deve descobrir seu próprio meio para enfrentar seus fantasmas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso muitas vezes até sentir que não há mais nada para melhorar, depois peço para um ou mais poeta amigo realizar uma leitura crítica, o que ajuda muito no aprimoramento da escrita.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quando estou em casa escrevo diretamente no computador. Rascunhos em papel só quando não há outro recurso mesmo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Devo ter respondido parcialmente essa pergunta em questão anterior. No geral, a criação surge espontaneamente, às vezes da leitura de bons livros, seja em prosa ou verso. Também há as criações oriundas da observação do cotidiano, de pinturas, quadros, imagens, de notícias, dos absurdos da vida, das injustiças sociais, ou de minhas próprias inquietações políticas, filosóficas, existenciais. No fundo, não cultivo hábitos para me manter criativo, a criatividade é apenas uma resposta, talvez um mecanismo de defesa contra o trivial, a mesquinhez e as banalidades das convenções sociais.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Basicamente o que mudou foi a autocrítica, muito mais exigente e aguçada com o passar dos anos. Penso que nenhum autor consegue se manter mesmo do início ao final da carreira, tanto na forma como no conteúdo. Estamos em constante transformação. A técnica da escrita e a visão do mundo jamais permanecerão as mesmas. Somos múltiplos e complexos, o estático não sobrevive em nós. E se pudesse voltar à escrita de meus primeiros textos, a mim mesmo diria: “vá ruminando as palavras, até que a última sílaba se insurja contra a tirania da linguagem”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda não sei qual novo projeto começar, pois realizei dois grandes desejos antigos recentemente. Um foi participar de um livro com poemas escritos coletivamente, chamado “Brinquedos do Infinito – poemas escritos a quatro e dezesseis mãos”, cuja ideia central consiste em afirmar que o poema é maior do que o poeta, ou seja, vale mais a beleza do poema do que a vaidade do poeta, pois os autores passam, as obras ficam. O outro ainda será lançado neste semestre, batizado como “Poemas em Movimento”, feito em coautoria com o Poeta e Tradutor André Setti, um irmão que descobri na poesia. Quanto ao livro que gostaria de ler e ele ainda não existe, acho que seria algo com o título “O poder da poesia na revolução do indivíduo”.