Vitória Vozniak é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nunca sei como vou começar o dia. Estou numa fase de mudança de hábitos e gostaria sim de ter uma rotina, mas no momento eu me encontro na etapa final do mestrado e meu dia se baseia em conseguir o máximo de tempo possível para escrever a dissertação. Então, normalmente eu acordo, tento não surtar, vou escrever, como alguma fruta, tento não surtar, vou escrever e assim por diante.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Até então sempre gostei da madrugada para escrever. O silêncio, a companhia de um copo de vinho, alguma música ao fundo. Agora, virei uma pessoa das manhãs. Descobri que adoro acordar às 7h e escrever. Aprecio o sol, mesmo que dentro de casa, e fico bem com o meu suco de laranja. Eu tendo a dizer que não possuo um ritual, mas tenho algumas condições. Gosto de estar sozinha e de preferência no local mais silencioso possível e diante de uma janela. Não gosto de escrever sem estar olhando para a rua, para as pessoas, para o que acontece.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Agora, sim, eu tenho uma meta de escrita diária. São 2 páginas do romance por dia, mais 1 do diário de criação, mais 1 do ensaio teórico e a leitura de 40 páginas de artigos ou livros. Eu balanceio isso conforme a minha vontade. Eu não consigo manter o mesmo ritmo todos os dias, por isso eu vario, apesar da meta. Tem dias que escrevo 3 páginas do romance, em outro eu escrevo 4 de teoria. E claro, incluindo também o tempo da revisão e reescrita desses textos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu tenho processos diferentes para cada gênero. Na poesia, eu vivo e sinto algo que me leva a pensar em uma palavra ou imagem. Então, eu fico trabalhando essa ideia por alguns dias e quando eu sinto que está pronta eu escrevo. Os poemas costumam sair prontos, precisando de poucos ajustes. Não gosto de anotar pois acho que minha mente esquece daquele assunto e parte para outro. Gosto de deixar a inquietação acontecer. Para contos eu penso em um sentimento que gostaria de passar ou transformo alguma cena que vivi numa situação que tenha elementos narrativos mais organizados. Para novelas e romances eu penso em um tema que eu gostaria de tratar e imagino personagens que poderiam explorar aquela ideia, comportamentos, personalidades. As únicas coisas que eu anoto são o que eu falo logo que acordo (que normalmente viram ensaios) e meus sonhos (que eu tento codificar para entender mais sobre eu mesma).
Para o romance que estou escrevendo agora eu passei muitos meses pesquisando, mas só anotei informações muito específicas, como por exemplo o nome de posições de yôga. Depois de feita a pesquisa, eu passo muito tempo encaixando as informações na cabeça para só então sentar e escrever. Eu só escrevo quando sei exatamente o que desejo dizer e, assim, libero a imaginação que me leva para caminhos que eu não havia previsto. Essa é a melhor parte.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu surto. Muito. Todo dia eu passo por algum tipo de nervosismo achando que eu não vou conseguir. Mas eu tenho conseguido. E mesmo assim eu continuo surtando e achando todo dia que não vou conseguir. Não sei se em algum momento isso vai melhorar. Sou muito dramática para a escrita. Eu não tenho travas para escrever. O que eu tenho é a sensação de que eu não vou conseguir entregar tudo a tempo, e isso me deixa tão ansiosa que eu não sei por onde começar, quando na verdade é só sentar diante do computador que eu escrevo tranquilamente. O problema é me acalmar para fazer isso.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende do texto. Normalmente eu reviso (que não é a mesma coisa que reescrever) de uma a duas vezes e sempre peço para uma amiga dar uma lida e revisar mais uma vez. Gosto muito de receber a opinião sobre os meus textos pois sempre tem algo que eu posso melhorar. Minhas amigas são ótimas leitoras e me ajudam com novas ideias, revisão ortográficas, etc.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Durante as aulas eu anoto em cadernos, mas em outros momentos eu anoto no celular. Eu possuo dois diários: o dos sonhos e um sobre sentimentos ao longo do dia. O que eu escrevo no segundo costuma virar poemas. Sempre que possível eu escrevo diretamente no word, mas já escrevi algumas partes do romance em cadernos, quando queria testar narradores.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu tenho ideias o tempo todo. Tenho muitos cadernos antigos com ideias anotadas, mas nunca os abri pois elas acontecem diariamente. Não diria que é um hábito que tenho voltado para a criatividade, mas eu vejo pelo menos um filme por dia. Diria que a criatividade vem da curiosidade. Quero saber como tudo funciona e me distraio fácil. Se estou caminhando na rua, já paro diante de um poste e me pergunto como se processa a energia até ali e do que será que são feitos os fios e como podem os passarinhos conseguirem pousar ali e assim continua.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria para escrever mais e pensar menos. Eu costumo fazer algo só quando tenho 100% de certeza sobre aquilo, mas isso não quer dizer que ele vai dar certo. Gostaria de ter tido menos medo com relação a isso. De testar mais ou ter mais convicção da minha capacidade. Eu sabia o que fazer, mas muitas vezes não tinha coragem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ah, eu tenho muitos livros prontos e engavetados. Gostaria de retomar as minhas peças de teatro, em especial os monólogos. No momento, estou escrevendo o livro que gostaria de ler.