Vitor Nuzzi é jornalista, autor de “Geraldo Vandré – uma canção interrompida”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Creio que é uma rotina como a da maioria das pessoas. A primeira coisa a fazer é cuidar dos gatos, ou eles acham ruim. Depois tomo café, vou ler alguma coisa (em papel ou na internet), saber das notícias. Assim já tenho uma noção do que está acontecendo. Sempre tive o hábito de ler jornal. Ainda sou da “geração papel”. Tomo banho e vou para o trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Nem sempre podemos escolher, mas acredito que rendo mais à tarde e à noite. Isso talvez venha do fato de ter trabalhado muito tempo em jornal, que por suas peculiaridades tinha o fim do dia e o início da noite como períodos mais “agitados”, digamos assim. Não há exatamente um ritual, mas no caso de um texto jornalístico, por exemplo, percebo que depois do primeiro parágrafo tudo fica mais fácil. Parece que o principal desafio é mesmo começar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Por obrigação profissional, tenho de escrever todos os dias. Essa necessidade me trouxe disciplina também. Tenho um único livro publicado, e a prática da reportagem me ajudou nesse sentido. Vejo o texto como um quebra-cabeças, que precisa ser montado, tem sua estrutura.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como falei anteriormente, o difícil é justamente… o começo. Assim que considero ter informações suficientes, o texto sai com razoável rapidez. Já vou organizando as ideias mentalmente. Se consigo imaginar um título, fica um pouco mais fácil. Observo que isso depende também do tempo disponível para entregar o texto. Às vezes precisa ficar pronto “para ontem”, ou seja, em pouco tempo. Outras vezes o prazo é um pouco maior, e permite colher dados adicionais, escrever de outra maneira. É bastante diferente, por exemplo, escrever texto para um site (ou um jornal, antigamente) ou para revista.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Normalmente, tudo isso acaba quando a gente começa a escrever. É verdade que vez ou outra acontece de “empacar” em algum trecho, à procura da palavra ou da frase que consideramos mais apropriada.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
No caso dos textos jornalísticos, a prática é que alguém (editor) leia antes da publicação. Quando escrevia o livro, mandava as versões para amigos opinarem. É importante ter uma visão de fora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quando comecei no jornalismo, 30 anos atrás, ainda se usava máquina de escrever. Não existia internet, nem celular. O processo industrial era completamente diferente. Tínhamos de telefonar da rua, em aparelhos públicos (“orelhões”), para passar informações. Era tudo muito manual. A tecnologia ajudou bastante nesse sentido. Mas acredito que também apresenta alguns perigos, como a acomodação, pois tornou-se muito mais fácil fazer uma pesquisa, por exemplo. Só que nem sempre as informações disponíveis são confiáveis, o que exige uma apuração mais cuidadosa. Até hoje, quando vou para a rua, levo meu bloco de anotações e escrevo tudo à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Quando vou para uma pauta ou uma entrevista, procuro me informar antes, pesquisar sobre o assunto, caso não tenha muita familiaridade. É importante cultivar também uma visão mais abrangente, relacionando o tema da pauta com fatores históricos, por exemplo. Procuro fazer uma associação de ideias a mais ampla possível. Um fato nunca é apenas um fato, tem antecedentes e consequências.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Gosto de ler o que escrevi no começo, porque me ajuda a evitar a repetição de erros. Nem sempre gosto dos textos antigos, fico imaginando de que forma poderia ter escrito, e isso é um bom exercício. Acho que agora sou mais cuidadoso na construção do texto, evitando repetir palavras e os lugares-comuns. Parafraseando um poeta, escrever se aprende escrevendo. E o aprendizado não termina nunca.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há pouco tempo, dei os primeiros passos em um novo projeto de livro, ainda sem prazo definido. Ideias não faltam, difícil é viabilizar, por motivos os mais variados.