Vitor Abdala é jornalista e autor de Caveiras (Ed. Generale, 2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo por volta das 5h, tomo café e me arrumo em cerca de 15 minutos. Pego uma bicicleta e me desloco ao trabalho. Chego antes das 6h e trabalho até por volta das 14h. Depois disso, pego novamente a bike, volto para casa e passo a tarde com a minha família.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor pela manhã. Mas como trabalho como jornalista nesse período do dia, não consigo escrever ficção a essa hora do dia. Em geral, escrevo nos finais de semana ou durante a tarde. Às vezes, quando tenho um tempinho, consigo escrever no trabalho, mas isso se restringe às horas em que estou no intervalo (tenho uma hora para almoçar no trabalho).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo para sobreviver, logo não tenho uma meta de escrita diária. Tudo depende do projeto em que estou envolvido. Quando me proponho a escrever um conto, em geral consigo escrevê-lo, em algo como cinco ou seis horas, divididas em dois ou três dias. Depois ainda uso mais algumas horas para revisá-los. Para escrever meu romance, Caveiras, busquei uma meta mínima de escrita por dia, que eram 500 palavras. Eu comecei a escrevê-lo em 2015, mas escrevi apenas poucas páginas. Parei por um tempo, e retomei em 2017. O livro tem cerca de 50 mil palavras, então, quando retomei o projeto em 2017, consegui escrevê-lo em cerca de quatro meses (alguns dias eu não escrevia, outros dias eu superava as 500 palavras). Na reta final, eu tendia a escrever mais rápido.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Para os contos, apenas sento e jogo as palavras no computador. Tento já ir editando conforme escrevendo. Sei que algumas pessoas não acham isso aconselhável, porque tolhe um pouco a criatividade, mas acho que dá menos trabalho quando for fazer uma revisão e diminuem as chances de erros ou furos na história. Para o Caveiras, que foi o único romance que escrevi, eu não fiz notas, fiz apenas uma cronologia, para não me perder no tempo da história (que se passa em um período de duas semanas), os nomes dos personagens e um argumento, com cerca de uma página, com o básico da história. O livro envolveu pouca pesquisa, porque usei boa parte do meu conhecimento adquirido ao longo da minha carreira como repórter para escrevê-lo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
No Caveiras, eu adiei o projeto por dois anos, por preguiça, mas também porque estava mais focado em produzir contos. Eu sou muito preguiçoso com a literatura. Se eu ficar muito tempo sem trabalhar na história, acabo desanimando de voltar a trabalhar nela. Atualmente, estou num momento de pura preguiça, produzindo muito pouco. No início do ano, eu comecei a escrever um novo romance, mas parei em torno de 15 mil palavras. Não sei quando terei ânimo para voltar a escrevê-lo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso durante o processo de escrita, espero alguns dias e reviso de novo. Depois mando para a edição e vou revisando durante esse processo. Eu raramente envio minhas histórias para leitores beta antes da publicação. Mas depois de algumas críticas que recebi pelo Caveiras, acho que posso adotar esse procedimento em meu próximo livro. Acho que é bom para sentir o público leitor antes de a história estar concluída e publicada.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre escrevo diretamente no computador. Eu sou muito ágil para teclar e não consigo escrever muito rápido como canetas/lápis. Além do mais, se tivesse que passar uma ideia do caderno para o computador, provavelmente teria mais preguiça em escrever (risos)…
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Em geral, minha cabeça não funciona voltada para a escrita criativa, portanto as ideias para um conto só surgem quando estou buscando algo para uma história. Durante a produção das minhas duas antologias de terror (Tânatos e Macabra Mente), eu fiquei dias pensando em histórias. Queria coisas diferentes, que fugissem ao padrão do terror de vampirismo, satanismo, zumbi, apocalíptico, de monstros, lobisomens. Então tive que realmente botar a cabeça para funcionar. Muitas vezes, eu penso numa situação comum e imagino como aquilo pode se tornar algo assustador ou angustiante (para o caso dos contos de terror), depois vou pensando em como aquilo pode acabar. Imagino várias hipóteses e penso em qual seria a menos óbvia para o leitor. É claro que, às vezes, surgem ideias em sonhos ou em algo que eu vivencio, mas quando não estou no clima para escrever ficção, escrevo a sinopse e envio para o meu próprio e-mail.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A única coisa que mudou basicamente foi que hoje eu tenho mais cuidado na pós-produção. Faço revisão e edição muito mais atentamente hoje do que fazia, porque no meu primeiro livro, há alguns erros que não gostaria de ter cometido.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não sou muito ambicioso com a literatura, então não penso muito no meu futuro. Não é exatamente um projeto, mas teria muita satisfação em ver meus livros traduzidos e publicados em outro país. Sobre um livro que eu gostaria de ler e ainda não existe, nunca pensei nisso. Provavelmente, se pensar mais um pouco, vou chegar a alguma ideia que eu mesmo gostaria de escrever.