Vinicius Gomes Melo é escritor, jornalista e roteirista, autor de “Entre Espelhos e Fumaça”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nada acontece sem café. É escovar os dentes no banheiro e colocar a água pra esquentar na cozinha. Como eu trabalho de casa, eu gosto de trocar de roupa também. Acho que fico menos à mercê da preguiça quando ponho o “uniforme de trabalho”, que é só uma calça jeans e uma camiseta mesmo…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Definitivamente eu estou mais criativo de manhã, mas consigo produzir à noite também.
Sobre rituais, eu costumava ter. Gostava de acordar super cedo, meditar, escrever um pouco no diário, ler algo inspirador e se estivesse disposto o suficiente, até mesmo fazia algum exercício físico.
Hoje em dia o melhor ritual para mim é só sentar e escrever de uma vez. Tudo o que eu preciso fazer é passar a zona de rebentação dos 10 minutos iniciais e me colocar em ação antes da procrastinação ganhar força.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu busco escrever um pouco todos os dias, não importa se for 100, 500, 1.000 ou 5.000 palavras.
O importante é que a cada novo dia, eu tenha avançado na história, mesmo que para perceber que preciso voltar e reescrever algumas coisas, o que é o mais frequente, inclusive.
Mas mais importante ainda, trabalhar todo dia na história me ajuda a me manter conectado a ela, e assim, fica mais difícil desgarrar.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Confesso que a pesquisa pra mim é uma das partes favoritas. Eu poderia ficar nelas para sempre, ali é uma delícia, imaginando um milhão de coisas e pensando nas tramas mais iradas para contar.
Exceto que imaginar uma história é uma coisa bem diferente de escrever um livro.
Então, inevitavelmente chega um momento em que é preciso ter a coragem de pegar todo aquele bloco gigante de pesquisa e mais pesquisa, e começar a esculpi-lo naquelas páginas em branco.
E de qualquer maneira, o livro ganhará vida própria em algum momento e 90% do que se pesquisou antes não terá mais espaço naquilo que a história se tornou.
Assim, é melhor prender a respiração e mergulhar logo na escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não lido. É preciso aceitar que tudo isso – travas, procrastinação, medo e ansiedade – sempre existirão e estarão contigo a cada nova linha escrita.
Só que se continuarmos trabalhando, elas não ganham dimensão. E quando eu digo continuar trabalhando, não é só literalmente escrever.
Às vezes é parar, deitar no sofá, ficar olhando pro teto e pensar em soluções para a sua história. Às vezes é ler quem admiramos para se inspirar, às vezes é voltar à pesquisa, às vezes é até mesmo é jogar um monte de coisa escrita fora (coragem!) e buscar um novo caminho. Tudo isso é continuar trabalhando na sua história.
Quando tudo isso falhar, recomendo vir ao Como Eu Escrevo e se aquecer lembrando que não estamos sozinhos no labirinto da escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
O que eu faço é revisar a primeira versão lendo o texto em voz alta para mim. Apesar de ser um processo torturante, ele é bom para saber se eu consegui transmitir aquilo que pretendia, com o ritmo e as palavras certas.
Invariavelmente, eu percebo que não, o que sempre leva a reescrever muita coisa.
Na segunda versão, já com o texto menos horrendo, eu entrego para uma revisora profissional para ela encontrar os buracos e as ruas sem saída que eu já não enxergo mais. Depois disso, vai depender, às vezes o livro continuará precisando de mais reescritas, às vezes não.
Sobre mostrar o trabalho, eu tive a sorte de encontrar algumas pessoas de confiança que se dispõem a ler meus textos e saber como criticá-los para que eu os melhore. Então, eu certamente nunca publicarei um livro sem ele ter passado vários bons pares de olhos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não sou o melhor com as tecnologias, mas estou melhorando. De qualquer maneira, eu começo sempre à mão. Gosto de sair rascunhando em caderninhos, folhas de rascunho e tudo mais. Até mesmo quando estou pesquisando e preciso usar o computador, eu faço minhas notas à mão.
Acho que eu só consigo ir para o computador quando minha procrastinação já está ficando ridícula demais.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu costumo ter ideia o tempo inteiro. Na real, quando estou trabalhando em um livro, até tenho medo de ter ideias, porque elas são tentadoras demais.
E não existe algo específico para isso acontecer, pode ser vendo um filme, ouvindo uma história, olhando pela janela no ônibus, regando as plantas ou até lavando a louça.
Então ter ideia não é um problema para mim. O difícil é o dia só ter 24 horas para colocar tanta coisa da cabeça no papel.
Sobre hábitos, acho que o principal é ler muito. De tudo. Mesmo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Talvez o maior aprendizado foi me tornar menos crítico comigo mesmo. Apesar de todo escritor querer ter leitores, pouco vai adiantar ficar pensando neles e no que eles acharão do seu texto enquanto você aindaestá escrevendo.
Então eu diria para o Vini de anos atrás largar o chicote e só escrever pelo puro prazer de criar uma história, porque esse é o melhor trabalho do mundo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de fazer algo no audiovisual. Escrever o roteiro de um filme ou de uma série é algo que definitivamente está no meu horizonte.
E que livro eu gostaria de ler que ainda não existe… Olha, no momento, o meu próximo. Vou ficar feliz demais se conseguir terminar o meu próximo livro para poder lê-lo.