Vina Ferreira é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim eu tenho uma rotina matinal, porém, ela não está relacionada à minha vida como escritora. Eu trabalho em um Hospital Oncológico há 21 anos, sou secretária executiva bilíngue e atuo também com projetos de captação de recursos, então minha rotina é bem corrida, além disso, moro em Barra Bonita e trabalho em Jaú, viajo 40 quilômetros todos os dias, levando em conta a ida e a volta.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação da escrita?
Não tenho ritual, apenas me sento diante do computador e escrevo, quando preciso, faço as minhas pesquisas, anoto e sigo em frente, escrever para mim é algo muito natural. Eu costumo escrever mais a noite, quando fico sozinha no silêncio do meu quarto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem meta de escrita diária?
Eu nunca trabalhei com meta, todos os meus trabalhos foram escritos de forma muito natural, eu apenas deixo a história fluir, vou escrevendo, escrevendo, escrevendo e quando vejo a história está pronta. Também não tenho um padrão de horário, como eu trabalho o dia todo, na maioria das vezes escrevo quando estou tranquila, sem nada para fazer, geralmente isso acontece à noite, quando estou em casa.
Como é seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Estou aqui pensando, será que sou normal? Eu nunca parei para compilar notas, eu apenas sento e escrevo. Em relação a pesquisa, eu faço isso enquanto escrevo, por exemplo, eu estou escrevendo uma cena e de repente sinto que meu personagem vai ter um problema de saúde, então eu paro e pesquiso, leio sobre a doença, observo os sinais, as causas, a cura, os sintomas, leio tudo até entender todo o processo e quando tenho certeza que tudo se encaixa na história, escrevo a cena.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos.
Definitivamente não sou normal! Eu não carrego em mim essas sensações, eu sou muito de boa em relação aos meus livros, mas vamos tentar justificar cada um dos seus itens.
Travas com a escrita – nunca tive, quando decidi escrever o meu primeiro livro, eu apenas me sentei e escrevi. Quando terminei, reli várias vezes, gostei do que li e imediatamente continuei. Foi assim que escrevi os outros três livros da série. Pronto, minha série Novo Mundo estava finalizada. Batalhei e publiquei o primeiro livro, Eternidade, depois de um ano, mesmo caminho para publicar o segundo, Reencontro, que, aliás, este ano, ganhou o Troféu Literatura 2019, na categoria de melhor romance. Ainda falta publicar o terceiro, Recomeço, e o quarto, Libertação, mas os livros estão finalizados, agora é juntar a grana para imprimir e lançar. Os outros dois trabalhos que tenho, Universo Obscuro, escrevi motivada por um amigo querido e A Caixa dos Sonhos, meu primeiro trabalho infanto-juvenil, fui mais que motivada, na verdade fui intimada pelo meu sobrinho de 11 anos, Murillo, que reclamou não poder ler meus livros. Novamente digo, foi muito natural para mim, escrever cada uma das minhas histórias.
Procrastinação – não sou uma autora com gana de publicar diversos livros, sou tranquila, quando recebo minhas inspirações, sento e escrevo, simples assim.
Medo de não corresponder às expectativas – não sinto medo. Vejo o mundo como um lugar muito grande e diversificado, portanto, tem gente com todos os tipos de gostos, alguém vai amar meu trabalho e outros nem vão ler, assim como acontece comigo, então por que ter medo? Eu escrevo com amor, sempre dou o meu melhor, além disso, aprendi que um bom livro requer algumas atividades profissionais como, revisão, diagramação, capa e como eu não tenho essas habilidades, me organizo para pagar por esses serviços, assim quando meu livro vai para o mundo, sei que estou oferecendo ao meu leitor um trabalho de qualidade, então, não tenho nenhum motivo para ter medo, ou ficar ansiosa, pois eu acredito que quando oferecemos ao universo o melhor, independente do que fazemos, recebemos dele também o melhor. Acho que isso também responde seu questionamento sobre ansiedade de trabalhar em projetos longos, afinal, minha série Novo Mundo está pronta desde 2015 e eu estou bem tranquila (rs).
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sim eu tenho duas amigas que são meus termômetros (rs). Leila e Rafaella, as duas lêem tudo o que escrevo e me dizem se consegui captar a essência da história, acho legal ter esse primeiro feedback. Sobre quantas vezes eu leio meus manuscritos, isso depende do livro, Eternidade eu li sete vezes, Reencontro li nove, Universo li cinco e A Caixa li três vezes, não tenho preguiça de ler o que escrevo e acredite, cada leitura me leva a sentir o livro de uma forma diferente.
Como é sua relação coma tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou bem adepta do computador, dificilmente escrevo a mão, só quando estou em algum lugar e me lembro de algo, aí anoto em qualquer papel que acho na bolsa, mas ultimamente tenho usado mais o celular para isso.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu leio muito, assisto séries, filmes, adoro cinema e sou uma pessoa muito observadora, presto atenção nos fatos do dia a dia, às vezes uma imagem me impulsiona e eu escrevo rapidamente algo que sinto quando olho para ela. Eu acho que minhas ideias são um presente que recebo do Universo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar a escrita de seus primeiros textos?
Eu ainda me sinto uma criança em crescimento em relação à escrita, pois iniciei em 2015, porém, algo que aprendi nesses poucos anos, é que você não pode dominar todas as atividades necessárias para se ter um bom livro. Então eu diria a mim mesma, contrate um revisor, que possa reler e corrigir o seu trabalho. Contrate um diagramador para deixar seu livro mais bonito. Contrate alguém que entenda de capa e deixe seu livro mais comercial. Você Vina, sabe escrever, então escreva e deixe o resto para quem sabe fazer!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu ainda quero escrever um livro de terror, mas eu não sei se dou conta, sou medrosa e nem leio livros assim, mas tenho vontade de ultrapassar os meus limites, só para saber até onde posso ir.
Sobre o livro que eu gostaria de ler e ainda não existe? muito legal essa sua pergunta, porque eu pensei exatamente isso quando escrevi Eternidade! Então, ele existe desde 2015, eu amo a história, é uma mistura de realidade e fantasia que muitas vezes meus leitores vêm me perguntar, o Novo Mundo existe?
Mas, esta é uma pergunta que eu não respondo, deixo para quem ler o livro tirar suas próprias conclusões.