Victor Squella é tradutor, escritor e editor na numa editora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu começo meu dia algumas vezes. Meu sono é muito ruim, muitas vezes acordo entre 3 e 4 da manhã e então fico na cama, raramente me levanto e aí depende… Se voltar a dormir ótimo, se chegar às 6 da manhã e eu ainda estiver acordado levanto e começo fazer minhas coisas, mas é provável que às 8 eu durma novamente se eu não tiver nada pra fazer de manhã e acorde às 10.
Tenho, sim. Fico sempre bastante tempo na cama, antes de levantar porque de manhã eu fico muito languido (segundo meus amigos, ou mais languido do que o normal (segundo outros amigos)). Mas quando eu levanto eu vou direto pra cozinha preparar algo pra comer e fazer café e depois de comer tomo banho. Fico sempre muito tempo sem fazer nada de manhã, olhando pro teto ou a parede acho que é a única parte minimamente interessante da minha manhã, a quantidade de nada que eu faço sem perceber o tempo passar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor na hora que o pânico bate. O que geralmente é de noite, gosto de trabalhar de manhã também mas pra conseguir trabalhar de manhã eu tenho que levantar antes das 6 ou rapidamente dá 11 da manhã e eu nem banho tomei.
De algum modo acho que toda leitura é um ritual de preparação pra escrita. Mas tirando ler não tenho nenhum ritual de preparação pra nada ao menos que esperar o pânico bater seja considerado um ritual.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Acaba sempre sendo em períodos concentrados porque como eu espero o pânico do prazo bater, eu não tenho escolha. Mas meus cadernos estão sempre cheios de anotações que acabam aparecendo no que eu to escrevendo.
Acho que a meta é escrever, e essa meta não é diária. Porque toda vez que eu termino um poema eu acho que nunca mais vou escrever mais nada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita eu ainda to descobrindo. 95% das coisas que eu escrevi até agora foram porque eu tive que escrever para faculdade, e agora eu me formei então to navegando esse mundo onde eu tenho que escolher escrever. Então eu ainda não sei qual é meu processo. Acho que minha escrita tá sempre fortemente ligada ao que eu estou pesquisando, não existe escrever sem pesquisar pra mim. Eu preciso não só estar lendo, vendo filmes e etc mas preciso estar nesse modo de investigação que a pesquisa te coloca. Se eu não me sinto pesquisando nada é provável que eu não vá escrever nada. Não existe escrita sem pesquisa em mim.
Não acho difícil começar porque eu começo várias vezes antes de começar. Entendo quando dizem que a parte mais difícil é começar mas acho começos muito excitantes. Anne Carson na versão dela de The Bakkhai de Eurípedes faz uma nota onde diz que começos tem sua própria energia, ética, tonalidade, cor… Que são quase transparentes como uma uva madura. Tom de alteridade, ela diz, coisas prestes a mudar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que estar travado e procrastinar é parte da escrita. É parte do processo, eu lido com isso bem. Como disse quando termino um poema sempre acho que não vou mais escrever, e as vezes fico com essa impressão por muito tempo. Quase como se tivesse esgotado e isso não me desespera. Há sempre outras coisas a serem feitas. Ler, traduzir, editar (coisas minhas e dos outros) sendo três delas.
Lido com o medo de não corresponder às expectativas com pânico. Fico em pânico e trabalho bastante no que eu já escrevi ou estou escrevendo. Não sei se tenho ansiedade em trabalhar em projetos longos. Ainda não fiz isso, gostaria de experimentar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Meus textos nunca estão prontos. Essa é a graça, eu reviso eles muitas e muitas vezes. Eu mostro tudo o que eu escrevo pra um professor meu, que foi quem me encorajou a escrever, e também algumas coisas pra alguns amigos mas mostro mesmo não tendo publicação em vista, gosto de ter a leitura de outras pessoas. Acho que faz bem ao texto estar com outros olhos um tempo, acho que isso — de alguma forma — altera o texto, prepara pra mais edições.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Apenas uso o computador quando eu sei que tenho algo pra ser escrito. Quando tem algo mais ou menos pronto pra sair. No geral uso cadernos, papéis, o que tiver a mão pra escrever notas ou coisas que li errada, ou versos de outras pessoas que acho incríveis e eu quero manter próximo de mim, ou até poemas inteiros.
Gostaria até de usar menos o computador, mas já com o computador eu perco rascunhos… Escrevo e não nomeio e depois não acho ou esqueço que escrevi, então imagine se usar folhas e cadernos. Não ia ter absolutamente nada, não ia achar nada. Então o que faço é uso o computador pra escrever, até porque o computador não me deixa escrever nas margens, fazer desenhozinhos, eu sou forçado mesmo a só poder escrever. A página em branca do computador é sempre imponente, não é divertida como as páginas em branco de um caderno ou de um bloco ou uma folha solta. Não vejo possibilidade na folha em branco dentro do computador… O que tem seu valor.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Tive um professor na faculdade, Fred Coelho, que uma vez disse que acha muito estranho quem lê muito e não escreve. Concordo com ele. A melhor maneira de ter ideias e se manter criativos é ficar próximos de pessoas criativas, ficar próximo das ideias dela. É sempre estar interagindo com arte. Lendo, vendo filmes, vendo séries, indo ao teatro, performances, fotografias… etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Agora mudou porque eu não sou mais forçado a escrever nada. Escrevo porque eu eu quero, o que tem sido uma experiência interessante. Porque se eu tenho uma ideia eu tenho que anotar por mim, e não porque eu tenho que escrever alguma coisa ou vou ser reprovado. Não to tendo mais o pânico de ter que terminar alguma coisa, o que eu não sei ainda se acho bom ou ruim, gosto de ter prazos. Porque é alguma coisa pra me amarrar a qualquer coisa, já que eu to constantemente desamarrado de tudo e vivendo muito no meu tempo.
Diria “não”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Em relação escrever não sei. Mas já é Maio e eu ainda não comecei minhas aulas de costura nem de cerâmica, o que me preocupa.
O próximo da Anne Carson.