Victor Del Franco é poeta e editor da revista Celuzlose.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo em horários variados pois não tenho uma rotina específica. Acordo um pouco mais cedo, ou um pouco mais tarde, conforme as necessidades ou compromissos de cada dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Certamente, os horários em que me sinto melhor para escrever são durante a tarde até o início da noite, ou durante o silêncio da madrugada. Não tenho nenhum ritual de preparação para a escrita, apenas preciso estar em um local que seja tranquilo e onde eu possa me concentrar exclusivamente no processo de elaboração e artesanato do texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A alternativa mais adequada para primeira pergunta é dizer que escrevo em períodos concentrados, mas não sei exatamente se este é o termo mais correto. Há muito tempo, no início dos anos 1990, eu tentei estabelecer uma forma de disciplina pessoal para escrever um poema por dia, no entanto, logo percebi que essa estratégia não funciona para a poesia. A fluidez poética é imprevisível e você precisa estar atento e preparado para o breve momento em que ela se manifesta. Ao dizer isto, não estou me referindo aos procedimentos e técnicas de elaboração e artesanato de um poema, são dois momentos distintos que merecem comentários individuais. A fluidez é o primeiro instante em que surge uma imagem, uma sensação ou um verso que precisa ser anotado imediatamente. O artesanato é todo o trabalho de linguagem que é feito posteriormente e pode levar anos para que um poema seja concluído.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita é bem variado pois cada poema possui os seus próprios desafios e peculiaridades. Os procedimentos para escrever um poema com versos livres são bem diferentes das técnicas utilizadas na escrita de um soneto metrificado que, por sua vez, difere bastante da elaboração de um poema visual. No entanto, em alguns de meus poemas, todas essas técnicas são usadas ao mesmo tempo. Este é um desafio que eu gosto muito de enfrentar e afinal, no limite da linguagem, a poesia é uma arte que sempre está no fio da navalha. Não costumo fazer pesquisas antes de escrever um poema, o que acontece geralmente, no meu caso, é a realização de pesquisas específicas durante o processo de escrita de alguns poemas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A melhor coisa a fazer quando um poema está travado é deixá-lo descansando na gaveta. Depois de um tempo, eu releio o poema para encontrar a solução de linguagem que ele necessita e esse procedimento é repetido diversas vezes, porém, se a solução de linguagem não for encontrada, o destino desse poema será a lata de lixo. Não tenho ansiedade para trabalhar em projetos longos, muito pelo contrário, gosto de trabalhar com poemas longos e todas as possibilidades expressivas que se apresentam durante a elaboração desses poemas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
O número de vezes que um poema é revisado depende do seu tamanho. Duas ou três revisões já são suficientes para um poema curto. No caso de poemas longos, o número de revisões é imprevisível. Usarei como exemplo o meu livro-poema EsfingE. A primeira versão desse poema foi escrita em 1989, e a primeira publicação (em formato digital que está disponível aqui) foi feita em 2009. Durante esses vinte anos, eu revisei e reescrevi esse poema inúmeras vezes. Porém, as revisões não terminaram nesse momento e continuaram a ser feitas até 2012 quando o poema foi publicado em formato impresso, portanto, a versão do poema EsfingE no papel é um pouco diferente da versão digital. Sim, às vezes mostro meus poemas para outras pessoas antes de publicá-los e isso acontece geralmente quando escrevo poemas mais longos que exigem atenção e cuidados maiores antes de considerá-los prontos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre escrevo e reescrevo os meus poemas à mão. A grande maioria das correções e alterações são feitas no papel. Os poemas só vão para o computador quando eu percebo que eles estão prontos (ou quase prontos) pois, durante a digitação dos poemas, em alguns casos, ainda faço pequenas alterações de última hora.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias surgem de muitas maneiras: lendo um livro, ouvindo uma música, assistindo um filme ou documentário, lendo as notícias dos acontecimentos diários, caminhando nas ruas e observando as pequenas coisas da vida, as experiências pessoais, as percepções e intuições da mente, do espírito e de todos os sentidos do corpo, ou seja, não existe uma fórmula pronta para ter ideias, elas acontecem em qualquer hora e em qualquer lugar, o importante é que no momento em que elas acontecem você esteja preparado para anotá-las, e essa anotação pode ser num pedaço de papel, num guardanapo, na palma da mão, no celular ou qualquer outro suporte físico que esteja por perto. Se essas ideias não forem anotadas no momento em que acontecem, elas se perdem para sempre, e digo isso por experiência própria, já perdi alguns poemas por causa disso.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A mudança certamente ocorreu no domínio das técnicas de escrita e também na maturidade dos textos. Os meus primeiros poemas foram escritos aos 12 anos, poemas do começo da adolescência que, felizmente, já foram descartados. Meu primeiro livro foi publicado aos 29 anos, portanto, entre o início da escrita e o primeiro livro há um intervalo de 17 anos. O que eu diria a mim mesmo na adolescência e a qualquer outro poeta ou escritor iniciante é o seguinte: não tenha pressa para publicar, deixe os textos guardados na gaveta até que você encontre a sua própria voz e o seu próprio estilo de escrita. Intuitivamente, segui por esse caminho.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um romance mas ainda não encontrei a voz e nem o estilo adequado para esse texto. Fiz uma tentativa há alguns anos atrás, mas o resultado não me agradou em nada. A minha travessia continua sendo feita através da poesia. Não me preocupo com os livros que ainda não existem, a minha preocupação é com os livros que já existem mas ainda não tive tempo para ler. Alguns desses livros estão aqui e agora, bem na minha frente. Eles me chamam. Fui.