Victor Colonna é poeta e cronista, autor de Antes que eu me Esqueça (2015).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo, tomo café, vejo as notícias no computador e na televisão e saio para trabalhar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quando escrevo um poema não há hora marcada. Em geral, o poema nasce de alguma frase que penso e acho interessante, ritmada. A partir desse primeiro verso é que o poema se desenvolve, tenho que ter algo (um verso, uma estrofe) para desenvolver o poema.
Já a crônica é diferente. Definido o tema da crônica, eu sento e escrevo, a hora não importa.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados. Não tenho uma meta.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Na crônica eu faço uma compilação de notas. É mais fácil começar uma crônica que um poema.
Um poema é sempre difícil. Na verdade, é impossível. Todas as vezes que escrevo um poema tremo de pavor de nunca mais voltar a escrever um.
E quando não escrevo, também tenho esse pânico, vivo com medo de que seja meu último poema.
A crônica é diferente. É mais racional, pelo menos no seu início.
Defino o tema, elenco aquilo que eu creio ser interessante e começo a trabalhar, ou seja, escrever e cortar, lapidar, lapidar, lapidar.
Escrever é tirar a sujeira do texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como não sou escritor profissional, os projetos, em geral, são próprios, quer dizer, as expectativas que eu correspondo são as minhas expectativas.
É complicado. Durante muito tempo acreditei que um dia eu iria “aprender” a escrever e que “teria certeza” de ser um escritor.
Só que o tempo passava e a certeza não vinha. Até que descobri que um artista nunca vive na certeza, a arte é fruto e raiz dessa incerteza.
Logicamente estou falando de poesia.
Na crônica, o processo é diferente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Uma crônica? Umas 15/20 vezes.
Um poema? Pelo menos 50.
Mostro para alguns amigos mais íntimos.
É sempre bom avaliar as reações.
Mas há textos em que a confiança é tão grande que eu já tenho certeza de que o publicarei. Não são todos, mas há aqueles. (risos)
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Poema eu sempre escrevo à mão.
Amo os rascunhos.
Pelos rascunhos consigo ver todo o processo de escrita do poema, a sujeira, os erros, os versos cortados.
Muitos dos meus poemas são metapoemas, poemas que falam sobre o processo de escrever poemas. Então, para mim, estudar os rascunhos é uma delícia, é como se eu me reconhecesse no que eu escrevo. Na verdade, me conhecesse naquilo que escrevo.
O poema nos revela. Para o mundo. E para nós.
A crônica eu escrevo no computador. Releio e vou fazendo novas versões. Sempre espero pelo menos três dias para publicar.
Uma das vantagens do poema sobre a crônica é essa. O poema sempre demora mais para ser publicado (no meu caso, pois não costumo escrever e publicar um poema na internet antes de se passar um bom tempo.) Então posso trabalhar mais nele. E o tempo faz com que os erros do texto saltem aos olhos, quando o texto descansa os erros se revelam. Então é só cortar. E cortar. E cortar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm da vida. Tenho o costume de conversar muito comigo mesmo (o que é diferente de conversar sozinho).
Tenho altas conversas comigo mesmo. E deixo meu pensamento voar, sem crítica alguma. Muitas vezes, aparece um verso neste momento. E eu me permito a tudo antes de publicar, me dou total liberdade para escrever qualquer coisa, por mais boba que possa parecer. A crítica vem depois, quando eu lapido o texto.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A consciência do processo. Eu não tinha a consciência de como era meu processo de escrita.
Eu me diria para escrever mais. E para não ter medo de ter medo. Medo é uma constante para qualquer artista. Medo de não criar, medo de falhar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever uma peça de teatro e um roteiro de cinema.
Há muitos livros que já foram criados e tenho vontade de ler.
Mas a criatividade humana é infinita. Sempre haverá novos livros surpreendentes, emocionantes, maravilhosos. Neste mundo caótico em que vivemos a arte sempre vai resistir.