Vera Saad é escritora, autora de “Mind the Gap” (2011), “Telefone Sem Fio” (2014) e “Dança Sueca” (2019).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu acordo cedo, tenho uma rotina, mas imposta pelo meu trabalho como revisora. Aproveito o caminho para o trabalho para ler e buscar ali matéria-prima para minha escrita. O percurso de trem e de metrô me inspira bastante. Não por acaso meu primeiro livro se chama Mind the Gap e narra situações no metrô.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não há um horário específico, quando trabalho em um livro, trabalho nele o tempo todo, mesmo quando não estou escrevendo. Tudo passa a ser o ambiente do livro, desde a luz fraca do elevador até o ar-condicionado da biblioteca, passando pelo homem que ri enquanto lê a bíblia e o aviso errado do trem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados, quando já tenho um livro “pronto” na cabeça. Meu processo de escrita é sempre muito caótico, não tenho horário ou regras, e gosto de mantê-lo assim.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como já o disse, meu processo de escrita é sempre muito caótico e também muito intenso. Quando escrevo de fato um romance, vejo os personagens nos outros e em mim, fico muito esquisita, não consigo ver o mundo senão pela lente do que escrevo. Não é difícil começa-lo, o difícil é entender o romance como pronto para ser escrito, isso demora anos para mim, desde a primeira ideia até o rascunho final.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Por incrível que pareça eu lido muito bem. Talvez por manter minha escrita livre, sem prazos ou regras.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Desisti de contar, reviso meus textos inúmeras vezes e nunca acho que estão prontos. Sim, os mostro para amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos. Publico trechos do que estou escrevendo nas redes sociais.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já escrevi muito à mão, em guardanapos, papéis soltos, mas hoje escrevo no computador, apenas anoto ao longo do dia no meu caderno frases, situações e ideias como forma de não as esquecer.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias partem, sobretudo, do cotidiano, do contato com outras pessoas, situações, bichos. A música inspira bastante minha escrita, procuro ouvir de tudo, sempre estou com um fone de ouvidos. Ler também me ajuda a entender minha própria escrita. Por outros escritores, eu me entendo melhor. Apenas evito ler ficção quando estou escrevendo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que hoje eu tenha mais repertório de vivência e de leitura, além de mais treino de escrita. Hoje consigo entender por que algo que escrevo funciona ou não. Se eu pudesse voltar no tempo, eu me pediria mais paciência. O processo é demorado, cada leitor uma nova conquista, cada novo livro um renascimento.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Alfabetização de adultos, que é meu projeto de vida. A última pergunta me é muito especial, porquanto é a razão por que escrevo. Quando eu era pequena sonhava constantemente com um livro de Monteiro Lobato que não existia. Acordava sempre muito frustrada. Acredito que eu escreva hoje no intento de ler esse livro. Ainda hoje acordo frustrada, mas quem sabe um dia ele exista e tudo tenha valido a pena?