Vanessa Ratton é escritora.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu procuro trabalhar logo que acordo, por volta das 5h-5h30 da manhã. Leio os jornais, tomo café e começo a escrever ou a revisar o que escrevi. É o tempo mais solitário que tenho. Depois, quando a família acorda, já não consigo mais a concentração necessária. Por volta das 9h, inicio meu trabalho formal, home office. Sou assessora e professora de redação da Escola Teia Multicultural, em São Paulo, onde também coordeno o polo Perdizes de Graduação e Pós-graduação da Unisanta EAD. Também sou docente e coordenadora da Pós-graduação EAD em Literatura Infantil e Juvenil / mediação de Leitura da UniSanta, com Rosana Rios, Susana Ventura, Cássia Leslie, Marcia Paganini, Georgya Corrêa, Ricardo Dalai entre outras feras.
Aos finais de semana eu cuido dos projetos da Editora Amare, organizo coletâneas para o Mulherio das Letras e escrevo para a coluna quinzenal de literatura infantil e juvenil do Jornal A Tribuna. Então, sim, gosto de trabalhar em vários projetos ao mesmo tempo, mas livros, escrevo um por vez.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Eu deixo fluir. O primeiro texto aliás é horrível. Tem inconsistências, furos etc. Mas eu descubro onde as personagens querem me levar (aparecem o protagonista, o antagonista e os principais coadjuvantes). Procuro dar uma ajeitada e mostro para alguém que eu confie que vai me dizer se há uma boa história ali. Resposta sendo afirmativa e já com as críticas, eu começo a desenvolver mais a história, com local, tempo, tipo de narrador. Faço pesquisas para rechear o enredo. Depois é lapidar e essa é a parte que dá mais trabalho. Fico analisando onde está o conflito, como é cada personagem, o que querem, vejo se elas se sustentam durante toda a história, desenvolvo melhor trama, coloco um ponto de virada. Novamente alguém vai ler e me dizer o que sentiu, é assim que vou aprimorando. Esse refinamento para mim é o mais difícil. Trabalho muito no texto para deixá-lo digno para o leitor.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Tenho uma pequena rotina, mas penso a noite sobre a história e de manhã cedinho começo a colocar em prática. Eu adoro trabalhar quando todos estão dormindo, Preciso muito de silêncio, já tenho muitas vozes de personagens na cabeça.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Relaxar, rir, sair um pouco, tomar um vinho, são maneiras de descansar a mente e de trazer novas inspirações. Gosto de ler, assistir filmes e séries de época ou policiais. Dou um tempo e depois volto com tudo.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Meu primeiro romance juvenil me deu bastante trabalho, gosto muito dele, mas me orgulho mais do segundo juvenil, uma novela que fala de amor, de feminicídio, dessa fase louca que estamos passando com essa pandemia, mas sobretudo porque é uma homenagem a minha cidade natal, Santos. Quem escreve comigo é a minha querida conterrânea, Maria Valéria Rezende. Procuramos preservar a memória dos fantasmas e contar os crimes macabros da cidade. Não posso contar os títulos ainda, mas em breve serão lançados.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Geralmente algo que leio, ouço, às vezes uma palavra e começa uma ideia. Não tenho um leitor ideal acredito que tem público para tudo.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Não tenho vergonha de mostrar meus esboços de histórias, mas a primeira pessoa que lê sofre muito rsrsrs, porque é uma avalanche de ideias, não tenho vergonha de mostrar, mas o resultado é muito diferente daquele primeiro ímpeto. A primeira pessoa sempre é um de meus filhos. Depois, uma escritora amiga. Eliana Martins, Rosana Rios, Marcia Paganini, elas colaboram muito e ensinam como melhorar.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Lembro foi num dia em que conversei com dezenas de crianças sobre um livro meu que elas leram e sai de lá flutuando nas nuvens. Percebi na hora que era isso que eu amava fazer.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Estou construindo ainda meu estilo próprio, gosto muito de escrever para as crianças, mas percebi escrevo melhor para adolescentes e jovens leitores. Tudo que leio, sinto, vejo me influencia.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Gosto muito dos juvenis Ouro dentro da cabeça, Histórias daqui e acolá, de Maria Valéria Rezende; 3 dias, Caio Ritter; Rabiscos, Luis Dill; e Na Companhia de Bela, Susana Ventura e Cássia Leslie. São obras prazerosas e de muita crítica social. Infantis: Reinações de Emília, Cássia Leslie; A menina e planta, Maria Paganini; Pé de sonhos, Amanda Lioli, Brunna Talita e Li Albano; e Nos mares do Mundo; Tatá Bloom. Adulto: 40 dias, Maria Valéria Rezende.