Vanessa Honorato é graduanda em Biblioteconomia e contista no blog As Contistas.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa com uma garrafa de café. A primeira coisa que faço ao acordar, depois da higiene pessoal, claro, é preparar o precioso líquido negro, quente, aconchegante e inspirador. Café é vida! Depois cuido de preparar as crianças para a escola, tenho dois filhos – um casal – ainda pequenos que requerem cuidados. Depois, a limpeza de casa e roupas, essas coisas de praxe. A parte da manhã reservo para estudar. Faço faculdade de Biblioteconomia a distância e há muitas matérias técnicas que exigem bastante concentração. Começando os estágios, essa rotina provavelmente mudará.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho um horário melhor ou pior. Tem dias que escrevo assim que acordo, quando tenho um sonho inspirador por exemplo, aliás pesadelos, porque gosto de terror e suspense. Mas quando tenho algum projeto, escrevo à tarde, depois que tudo está organizado e posso me sentar sem nenhuma preocupação. Gosto de silêncio, nada de ouvir música ao escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas de escrita, mas tenho metas de leitura. Não fico nenhum dia sem ler nem que seja algumas páginas. Ando escrevendo bastante também, devido à faculdade, porém tem sido escritas mais técnicas e não literatura. Mas sempre aparece um conto aqui e ali entre um artigo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende. Cada história é como um filho: tem suas próprias características e personalidade. Escrevo mais contos, então as vezes um simples ato ou palavra de alguém já inspira uma história e eu anoto o esboço para não esquecer e depois desenvolvê-lo. Tenho sempre um caderninho de bolso comigo para anotar qualquer ideia que porventura surgir, a qualquer momento ou lugar. Mais tarde seleciono o que é bom e o que não passou de empolgação momentânea. Faço meus próprios cadernos, costuro as folhas, preparo as capas. Encadernação artesanal tem sido não só um hobby, mas uma inspiração para escrever mais.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas na escrita e procrastinação são mais frequentes em períodos em que minha depressão agride. Aí fica bem difícil escrever mesmo e acho que nunca mais sairá nada, mas como nada é eterno, passa. Projetos longos não me assustam, pelo contrário, gosto deles. Projetos longos vêm acompanhados de tempo longo, o que quer dizer tempo para pensar bem, desenvolver, analisar, revisar. Só não pode deixar para a última hora, caso contrário não dará certo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca senti que algo que escrevi estivesse pronto. Sempre que reviso mudo algo ou acho que está tudo horrível. Sempre que escrevo um conto, deixo-o descansando por pelo menos um mês, só então faço a primeira revisão, e depois outra, outra, outra… Quando há algo para ser escrito com urgência e não haverá tempo de descanso, peço alguém para ler e criticar. Mas nem sempre é fácil encontrar alguém que seja verdadeiramente honesto na crítica, prefiro quem não tenha “dó”, só assim poderei realmente saber o que está ruim e / ou o que precisa ser mudado.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como disse antes, faço encadernação artesanal porque amo cadernos, gosto do contato com as folhas, a textura do papel em minhas mãos, as palavras saindo com minha grafia. Muito difícil eu escrever direto no computador, mesmo porque quando vou passar o rascunho para o computador, já aproveito e faço a primeira revisão. Gosto de escrever à mão e com lapiseira, tenho de vários tipos e modelos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Gosto de ler jornais e notícias. Telejornal quase não assisto mais, aliás televisão só para Netflix e olhe lá! Mas acredito que para quem escreve, as ideias devem surgir de qualquer coisa. É necessário olhar para o mundo com outros olhos, olhos mais aguçados e curiosos, enxergar além do óbvio, enxergar não só o que está acontecendo, mas também o que poderia acontecer.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sei que ainda tenho muito o que evoluir. Não me considero escritora ainda e nem sei se um dia me considerarei, apesar de escrever. Se eu pudesse dizer algo para aquela menina lá atrás, eu diria para não se importar tanto com a vida, deixar simplesmente as coisas fluírem. Antes, a menina escrevia sonhos, hoje escreve mais realidade. Pelo menos a realidade que ela queria ser…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Toni Morrison que nos deixou recentemente, dizia que “Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo”. Acredito que todo mundo que escreve possui este pensamento: escrever uma história que cative a si próprio e só então, por consequência, cative as demais pessoas. É assim que penso também, antes de mais nada, escrevo por mim, para deixar fluir o mais profundo sentimento que trago na alma. Gosto de histórias impactantes, reais, não no sentido de ‘realmente existir’, mas no sentido de nos transportar para a realidade do livro. Quem sabe um dia consigo escrever esta história? Sei que tudo depende de mim, só de mim…