Valesca de Assis é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal fica longe da escrita, infelizmente. O trabalho não permite. Por vezes vem-me uma ideia, que anoto no primeiro papel que encontrar. Adoraria ter tempo pela manhã! Caminho, quando não chove, bem cedo, pelas manhãs. Ajuda a pensar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto-me melhor pela manhã, com mais energia. Mas costumo escrever à tarde, por razões de tempo. Não tenho rituais de preparação. Gostaria de ter, mas adoro conhecer os dos escritores que admiro!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não consigo escrever diariamente. Sendo mulher – e tendo as culpas de uma mulher mais velha – abro muito espaço para atender netos, mãe doente, supermercado, açougue, médicos, etc.
Escrevo há 30 anos e, até hoje, não consegui conquistar um tempo para a minha Literatura. Espaço, até que sim. Tenho um escritório em casa. A Literatura exige tempo e espaço próprios e respeitados. Ainda escrevo no “rabo das horas” e isso não é bom.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Processo de escrita: reservo dois dias num hotel e, nesses dias, dedico-me integralmente a planejar o romance/ novela. Antes, já havia escolhido o tema, tamanho, o desejo do protagonista, a voz em que escreverei, e alguns caminhos. No hotel, organizo em capítulos, resumindo, em duas ou três linhas, cada um deles. É quando tenho o livro na mão. Daí por diante, pesquisas e leituras específicas, anotações, e, finalmente, a escrita.
Não é o melhor modo, mas foi o que consegui, até hoje. Com esse método, consigo manter-me em contato com todo o livro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é um perigo onipresente, e a luta contra ela, cotidiana.
Procuro pensar nos leitores, no compromisso que assumi com eles. Movo-me pela possível expectativa deles.
As travas, os bloqueios eu estudei tanto que hoje ministro oficinas de desbloqueio para a escrita criativa!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes e cada vez mais! Não tenho pressa. Por vezes levo meses procurando a palavra exata… Concluído o livro, envio para leitores muito exigentes. Muito mesmo! Quando os originais voltam, trabalho, de novo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Comecei datilografando os originais, que era a tecnologia de quando comecei a escrever. Tive algum medo do computador, mas venci, ao menos nos quesitos “pesquisa” e “escritura”. A nova tecnologia facilita muito. Escrevo à mão cenas muito difíceis, muito doídas. Uma espécie de volta à linguagem-mãe? Talvez.