Tom Farias é jornalista, escritor, biógrafo e crítico literário.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa quando acordo (risos). Quero dizer com isso que não tenho uma rotina para escrever. Escrevo todos os dias e não tenho uma hora específica. Como trabalho geralmente em casa, depois que cuidar da vida, vou escrever e ler. Mas faço isso todos os dias, não me importando em que lugar esteja ou qual situação. Minha necessidade de escrever é por um exercício mental que proporciona manter-me sempre com a mente voltada para o mundo da escrita.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho uma hora do dia, tampouco uma preparação da escrita: escrevo ou trabalho em qualquer ambiente. Tive um mestre que se chamava José Louzeiro e ele escrevia conversando comigo. Eu ficava admirado com a destreza dele: mal o via olhando para o teclado da sua máquina de escrever elétrica. Era um gênio. No meu caso, escrever é minha profissão. Portanto, preciso sempre estar afiado para por no papel conteúdos – ficcionais ou não. Para acompanhar esta pegada, leio todos os dias – jornais ou qualquer tipo de livros – poesia, contos, romances, histórias, biografias, filosofias etc. Leio muita coisa que já li ou livros que escrevi, outra mania que gosto muito de praticar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não há uma meta de escrita diária. Posso sentar para escrever e não sair nada que gosto – isto também acontece. Mas escrevo e tento ler e pensar detidamente no que escrevi e não gostei. Outra coisa que sempre gostei de fazer é anotar em um caderninho coisas que me chegam à mente inesperadamente – sobretudo no transporte (geralmente metrô, pois raramente ando de ônibus ou de trem). No transporte geralmente leio ou observo situações do comportamento das pessoas. Isto também me inspira muito, sobretudo para escrever ambientações literárias que contenham diálogos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente quando sento para escrever uma longa história ela já está pronta na minha cabeça (até por isso sei se ela é longa história ou não). Meu processo de escrita precede um estudo ou um levantamento do assunto a ser tratado (seja qual for este assunto). Eu preciso interagir com o personagem ou com o ambiente em que este personagem vai se movimentar. Isto facilita enormemente o desenvolvimento da história que quero escrever ou que comecei a escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Geralmente quando a minha escrita “trava” eu dou um tempo para ela e para mim. Saio e vou, por exemplo, caminhar na praia, vou pensar se minha mente não está precisando de um “descanso” momentâneo. Na prática, realmente preciso de um refrigério: a mente já está com pouca “pilha” – ou seja, a bateria precisa de uma recarga. Com essa energização, volto ao trabalho normalmente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso pouco os meus textos. Depois que termino de escrever, leio mais uma vez, no máximo duas – e não mais. Raramente submeto o texto para um terceiro ler. No geral, no caso do editor (seja de jornal ou de editora de livros) deixo essa tarefa para ele. Na publicação do texto, é que volto à sua leitura e – geralmente – penso que poderia ter melhorado alguma coisa no que escrevi.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meus textos são todos escritos no computador, direto, ou seja, o que sai da minha mente. O jornalismo é assim. Minhas anotações, como mencionei acima, elas servem para me orientar o tema ou escrever uma ideia de uma boa história ou matéria jornalística. No computador também posso acessar recursos, fazer levantamentos e realizar pesquisas – é uma máquina, para mim, bastante milagrosa.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Penso que minhas ideias surgem da prática de ler de tudo e ficar muito atento à realidade à minha volta. Mesmo nas histórias ficcionais, parto sempre de uma base com a realidade. Me considero, em qualquer das situações, um cronista do tempo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Praticar mudou o meu processo de escrita. Daí eu manter esta rotina de escrever e ler diariamente. Entendi que só a prática pode levar a perfeição (embora eu ainda penso que a perfeição está longe de me alcançar rs), no plano da técnica e no plano da fabulação ou da descrição da realidade, no caso dos ficcionistas ou dos cronistas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto que quero fazer é uma enciclopédia sobre a história da inteligência afro-brasileira, em diversos volumes. Esta é uma ideia bem fixa. Sem me ater a um autor ou tema geral, livros biográficos ou autobiográficos são os que gostaria de ler mais. O Brasil ainda está engatinhando com relação a essa modalidade de escrita pessoal e documental.