Como eu escrevo

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Como escreve Tobias Carvalho

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Tobias Carvalho é autor de “As Coisas”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2018.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?

Acho que trabalhar com um projeto por vez é melhor para dar atenção a tudo com o devido cuidado. Começo a semana fazendo uma lista de metas que quero cumprir, mas não me atenho tanto a cumprir essa meta à risca. Só o gesto de traçar planos me ajuda.

Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?

Há pouco tempo, li um livro sobre escrita que me convenceu a produzir de maneira mais livre: Palavra por palavra, da Anne Lamott. Essa autora recomenda um exercício criativo de escrever sem saber onde tudo vai dar, de modo a conhecer os personagens ao longo do caminho. Pode parecer bobo isso de “conhecer” os personagens, deixar que eles “tomem vida”, mas incorporar isso me deixou mais tranquilo com a escrita. Deixo que o texto vá para lugares inesperados na hora da escrita; planejar tira um pouco do prazer para mim.

Acho que a primeira frase é mais difícil. Depois que começa e encontra-se o tom, é mais fácil de seguir. E claro que todo mundo quer um bom começo e um bom final para o texto, mas se eu tivesse que escolher só um para ser muito bom, ficaria com o começo.

Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?

Tenho momentos de muita produtividade e outros de seca. Aprendi a não lutar tanto contra isso. Não acho que trabalhar com arte e criatividade seja como qualquer trabalho. Não que seja melhor ou pior; só tem outro funcionamento. Tem dias em que apenas não consigo.

Quanto ao silêncio, preciso me desconectar do resto do mundo, sim, mas ouço música enquanto escrevo.

Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?

Tentei várias coisas. Acho que é importante encarar a página como uma pequena tarefa. Às vezes pensar muito no projeto como um todo atrapalha o trabalho do aqui e agora, que é simples.

Mas tem dias que não sai nada. Bom respeitar isso também. Pelo menos parei de me frustrar.

Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?

Vem livro novo por aí, se tudo der certo, em 2021. Preenche as duas lacunas.

Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?

Os temas são sempre os que me interessam, e o leitor ideal sou eu também. Se sinto paixão pelo que escrevo, fica bem mais fácil, e a chance de ser bom é maior quando o tema vem naturalmente.

Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?

Quando termino o primeiro rascunho, já fico com vontade de mostrar logo. Para mim, é esse o momento em que os insights dos outros podem ser mais úteis. Mando para alguns amigos, alternando para não cansar ninguém.

Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?

Difícil dizer um momento, porque acho que já me dediquei à escrita em níveis diferentes. Quando escrevi As coisas, me dediquei de uma maneira até então inédita, porque pela primeira vez eu quis escrever um livro inteiro, e para isso precisaria de tempo e dedicação.

Os livros são documentos de quem o autor era em uma certa época. É comum ler textos antigos e sentir vergonha, ou pensar: hoje eu teria feito tudo diferente. Mas e daí? Não sei como teria sido se eu tivesse feito tudo diferente. E está tudo bem. Posso olhar para o passado e sentir que escrevi do melhor jeito que podia naquela época. Estranho seria se eu não mudasse de lá pra cá.

Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?

Os autores que me atraem mais hoje são os que não reivindicam um estilo tão marcado. No começo, fiquei em dúvida se queria ir por esse lado, que me parecia mais natural, ou apostar em um estilo mais vistoso. Optei pelo jeito simples, que me agrada mais.

Eu diria que o Haruki Murakami foi o autor que mais me influenciou. Devo bastante a ele.

Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?

Li O morro dos ventos uivantes da Emily Brontë há pouco tempo e me encantei. Obra-prima sob todos os aspectos.

De brasileiros, os melhores livros que li nos últimos tempos foram Os supridores, do José Falero, e O avesso da pele, do Jeferson Tenório. Tenho recomendado a torto e a direito.

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    Sobre o editor

    José Nunes é editor da Colenda.

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