Thiago Tizzot é escritor, editor e livreiro.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Café. Sempre que possível uma xícara de café. Fora isso acho que não tem uma rotina. Tenho a felicidade de seis dias por semana ter que ir trabalhar na livraria, então sempre começo o dia com café e livros.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem dúvida de madrugada. E talvez nem seja o melhor horário, às vezes penso que de tarde minha escrita rende mais. Porém é de madrugada que as coisas estão mais calmas, a cidade dorme e dá tempo de colocar a história em dia. Antes de começar a escrever costumo abrir o texto na tela e fico um tempo olhando ele ali sem fazer nada, uma pequena corte antes de trabalhar. E uma série de levantadas para pegar chá ou qualquer outra coisa. Não chega a ser um ritual, mas sempre preciso deste tempo antes de entrar na história.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tento escrever todo dia, aprendi que quando faço isso a história flui muito mais fácil. Porém no último trabalho foram períodos concentrados. Por causa do trabalho acabei tendo dois períodos de cinco dias onde podia me dedicar quase que totalmente à escrita. Minha meta é modesta para eu conseguir cumprir e ir dormir feliz: dez linhas por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Procuro por algo que desperte minha curiosidade, algo que provoque a minha criação e explorar. Pode ser um personagem, um acontecimento inusitado ou algo simples como um objeto ou até uma palavra. Preciso que esse incidente estimule minha curiosidade, um porquê, desejar saber o que vai acontecer depois. E mesmo depois de a história estar bem clara na minha cabeça, colocar no papel é sempre um desafio. Saber qual o momento exato que a história deve começar é uma coisa que pode levar dias, a tela branca encarando e esperando que você escreva alguma coisa. Não é uma boa lembrança. No meu caso a pesquisa segue em paralelo com o texto, construindo e explorando o mundo ficcional que minha história vai delimitando.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A melhor forma de lidar com a procrastinação é prazo. Sempre que tenho um prazo a procrastinação acaba sumindo. Depois de algum tempo trabalhando com criação, antes publicidade e depois escrita, percebi que a ideia de não corresponder às expectativas sempre vai existir. É uma constante do trabalho. A melhor forma é aprender a conviver com ela, não tentar combater, mas aceitar e quando o medo aparecer procrastinar. Acho que é esse medo que faz com que a gente busque se aprimorar, tente fazer o melhor possível. Sem o medo ficaríamos confortáveis e nosso trabalho não evoluiria. Já sobre a ansiedade se você souber o que fazer me avise, gostaria de alguns conselhos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como escrevo de uma forma bem lenta, cada trecho reescrevo várias vezes antes de seguir em frente, depois que terminei a história reviso três, quatro vezes. Mas pronto mesmo acho que nunca fica, sempre tem alguma coisa para mudar. Minha esposa sempre lê meus textos e também alguns amigos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A maioria é direto no computador, mas quando travo em algum ponto da história acabo recorrendo à caneta e ao caderno. Ajuda a soltar as ideias.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acho que elas vêm dos detalhes, pequenas coisas que chamam minha atenção. A curiosidade é o grande incentivo para eu escrever uma história, então tudo que desperta minha curiosidade é uma ideia em potencial. Estimular a criação é sair da sua zona de conforto, ver, escutar e ler coisas diferentes. Mesmo que eu saiba que não vou gostar, tento experimentar algo novo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Escrita é pratica e treino, acho que a grande diferença é que hoje tenho muito mais experiência do que quando comecei. Mas o processo acho que ainda é o mesmo, resiliência, paciência e trabalho. Se eu pudesse voltar e falar alguma coisa quando estava começando seria “tenha paciência, no final as coisas vão dar certo”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Na verdade, eu comecei a criação de um grande mundo fantástico. Um universo que passa por várias histórias e diferentes mídias, construído ao longo de muitos anos e pequenos projetos que se completam. O único livro que consigo pensar é um guia do Tolkien sobre a Terra-Média, respondendo todas as perguntas que ficaram em aberto.