Thiago Medeiros é ator, poeta e mediador cultural, autor de “Meio-Dia” (2018), “Para Eu Parar de Me Doer” (2016) e do inédito “Ardência” (2020).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não acordo tão cedo, não funciono tão bem nesse horário da manhã, acordo quando o sol já está bem quente, quase ardendo o rosto, lá pelas 11 da manhã. Tenho algumas rotinas, primeiro sinto como está o corpo e a ansiedade, respiro, me alongo, faço uma meditação. Vejo as notícias pelo celular, respondo mensagens. Faço café, ligo o rádio pra ouvir outros sons ou me surpreender com alguma música que há tempos não ouvia. Vou preparar o almoço, arrumar casa, lavar roupa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de passear pela cidade no final da tarde, visitar minha mãe, ver o pôr do sol, observar as pessoas antes de começar a escrever que, geralmente, acontece à noite, quando aqui em Natal vai amenizando um pouco o clima, enquanto estou sozinho bebendo chá ou cerveja, coloco uma música e vou deixando vir através da palavra o que o corpo viveu durante os percursos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas de escrita, mas escrevo todos os dias. Não com um peso de obrigação. Mas é que parece que a todo o momento preciso elaborar a vida a partir da palavra em prosa, poemas, textões nas redes sociais, textos e imagens para o teatro. Terminei há pouco meu novo livro de poemas chamado ARDÊNCIA, já abandonei a escrita, já reli, tirei e inseri poemas, o texto tem a suas necessidades.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando sinto a inspiração, coisa que não é tão simples (é como sentir um passarinho pousando no ombro e não deixá-lo voar), escrevo nos caderninhos, no celular, nas redes sociais. É difícil terminar. A todo o momento estou começando ou recomeçando uma ideia, uma história, seguindo uma frase de um momento de inspiração. Dentro do caos de minha mente movo com intensidade e com desejo, o processo de pesquisa é a todo o instante. Uma frase de minha mãe, de um amigo, uma imagem que vejo na rua, um sonho, filme, música. Não tem fim.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como venho do teatro e geralmente os processos são longos, meus trabalhos com escrita geralmente são longos, eles duram de meses até anos. Com o novo livro ARDÊNCIA, é um processo/projeto que vem sendo gestado há 1 ano junto à equipe de trabalho, depois de 2 anos que lancei meu trabalho anterior. Nesse caminho longo me permito viver o processo, inclusive, ele me interessa mais, me permito às travas, a ansiedade, a procrastinação. Não tenho muitas preocupações em corresponder a expectativas, minha ansiedade nasce por outros motivos, por exemplo, pela ausência de meios de financiamento para meus projetos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Um milhão de vezes (risos), até tentar chegar a versão final de um trabalho eu sofro, reescrevo, excluo, insiro palavras e poemas. De fato, eles só estrão “prontos” quando reverberados pelo público. Tenho algumas pessoas a quem eu mostro meus trabalhos, pessoas que confio, geralmente um número ímpar de pessoas, com o processo do novo livro foram 7.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo sempre no papel antes de digitar, na minha bolsa tem inúmeros cadernos e blocos de anotações de diversos tamanhos, é um processo de perder-se e encontrar-se, quando acho que tenho algo a dizer ao mundo, junto todos os cadernos e blocos e vou relendo, até chegar ao computador e ir modificando as versões dos poemas, textos, projetos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Do universo em que vivo, dos amores que invento, da cidade em que vivo e das que imagino, dos quintais que mantém vivo na minha imaginação os cheiros e sentimentos que atravessam o adulto que vou me construindo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que o processo não mudou, o que se transformou foi o meu amadurecimento, o tempo para estar distraído ou atento às coisas. Poemas, livros, músicas, peças de teatro e outras artes que melhoraram e melhoram meu olhar em relação ao processo criativo artístico. O processo terapêutico tem me ajudado bastante. Com esse novo trabalho eu adoeci, tive crises de gastrite intermináveis, picos de hipertensão, não à toa ele se chama ARDÊNCIA. Diria a ele que não parasse, não se comparasse e nem copiasse uma pessoa ideal. Cada um tem seu processo de vida e de escrita, diria que não se juntasse com quem ele não seria.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Voltar a me dedicar ao teatro, realizar um projeto com poesia e música, mudar o mundo em 24 horas, fazer crochê, bordado (são tantos projetos e desejos nessa mente e coração ariano). Os livros estão aí, aos montes, eu é que ainda não os li.