Thiago Cervan é educador popular, autor de “Não existem rotas conciliatórias de fuga” (Editora Urutau, 2016).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina de escrita. Sou um trabalhador assalariado, não proletário. A escrita, pra mim, não é uma profissão e não tenho nenhum objetivo que seja um dia, por isso a falta de uma rotina.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de estar só e em silêncio. Como trabalho durante o dia, existe a predominância da escrita no período noturno.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária, mas tenho meta de leitura diária. Sempre estou lendo algo de meu interesse. Penso que a relação leitura/escrita é indissociável.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como não tenho metas, não sinto ansiedade e nem cobrança pra escrever e/ou publicar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes e, só depois, mostro para algumas pessoas mais próximas. Costumo levar em conta a opinião desse pequeno círculo de leitores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo diretamente no computador, raras são às vezes que rascunho algo no papel. Quando componho sambas (são bem poucos), geralmente cantarolo primeiro e depois escrevo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Vem da realidade concreta que vejo todos os dias, da violência sistêmica a que 99% da humanidade está submetida graças ao julgo do capital. O hábito que mantenho é tentar estar atento e não me conformar com a existência de um modelo socioeconômico que traz o sofrimento universal, devastando tudo e todos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou o fato de não ter mais pressa em publicar. As referências mudaram bastante e acredito que continuarão mudando. Se pudesse voltar atrás não teria publicado com tanto afã e teria estudado mais teoria literária por conta. Me recomendaria o livro “História da Literatura Brasileira” de Nelson Werneck Sodré. A leitura desta obra trouxe grandes contribuições para a forma como enxergo a questão literária no Brasil, com o seu profundo processo de exclusão e elitismo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Desejo escrever um poema épico sobre os levantes e revoltas populares do Brasil, a partir de ponto de vista dos trabalhadores sobretudo dos negros e dos povos originários.