Thais Matarazzo é jornalista, escritora e pesquisadora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quase todos os dias dedico meu tempo ao trabalho na minha editora (Editora Matarazzo). E o trabalho varia entre atendimento aos escritores e leitores, leitura de novas obras, editoração de livros, cuidados com pedidos de compra online, alimentação do site e redes sociais, entre outras atividades. Mas, com certeza, tenho horários especiais reservados para a minha produção literária particular.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou uma pessoa diurna, gosto de escrever pela manhã quando a cabeça está “fresca”, ou então, no fim de tarde. Minha escrita é intuitiva. Na maior parte das vezes a história toma forma durante o sono, nascem os personagens, o enredo, os espaços. É de tirar o sono! Mas mesmo assim não levanto para anotar nada, faço isso pela manhã, de preferência após o café da manhã.
Não tenho nenhum ritual.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta diária. Também não escrevo todos os dias religiosamente, isso só acontece quando a história me envolve a tal ponto que preciso parar tudo para escrevê-la. Posso dizer que a ideia toma conta do meu corpo por inteiro e preciso externar os registros que me vem à mente. Os personagens têm vida própria e preciso atendê-los! Fico muito ansiosa para terminar logo, pois sou afobada. Dependendo do tema abordado, posso levar algumas semanas ou até meses para concluir uma obra.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu gosto muito de história, a maior parte da minha produção literária é calcada em memórias, a inspiração pode vir de alguma situação que me contam ou observo; e investigações históricas, realizadas em periódicos antigos e documentação primária em acervos de bibliotecas, museus ou arquivos públicos ou particulares.
No meu caso, a primeira etapa para o projeto de um livro é realização de pesquisas e entrevistas (quando possível), essa fase é um pouco demorada porque demanda tempo. Quando percebo que já tenho material suficiente, faço um roteiro e monto o “esqueleto da obra”, seja de ficção ou não.
Pronto esse “itinerário” fica mais fácil o trabalho da escrita fluir. Então, passo a escrever sem nenhuma dificuldade.
Também gosto muito de escrever crônicas e toda semana produzo algumas para alimentar meu site pessoal. Esse hábito nasceu de um conselho do poeta Paulo Bomfim, ele me disse uma vez para não escrever apenas sobre “os outros” e sim registrar minhas vivências pessoais. Achei interessante, arrisquei e gostei. Sempre apreciei os livros de crônicas da escritora Tatiana Belinky, a quem tive oportunidade de conhecer. Ela conversa com o leitor de forma simples, direta, bem-humorada, provoca a reflexão, sensação e sentimentos. Procuro seguir esse estilo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em primeiro lugar se o texto não me animar, sei que não agradará o leitor. É fatal. A leitura precisa provocar fortes sensações no leitor, caso contrário, não valerá a pena.
Quando sinto que a escrita não avança, paro e deixo para continuar em outra oportunidade. Nem sempre o ambiente é favorável para a produção. Preciso de concentração, tempo e silêncio.
Sou uma pessoa pragmática dinâmica, e não gosto de projetos de longo prazo. Portanto, faço projetos de curto prazo. Já participei de projetos de médio e longo prazo e não foi uma experiência interessante.
A questão do receio em não corresponder às expectativas acontece quando produzo algum texto para encomenda. Em geral, para os meus próprios projetos tenho bastante segurança e claro, como todo escritor, aguardo ansiosa o feedback do leitor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A revisão é a parte mais trabalhosa e chata! Entretanto, uma das etapas mais importantes. Sim, eu costumo ler de 3 a 4 vezes, mas como a leitura fica “viciada”, envio o material para revisão, minha parceria neste trabalho é a jornalista Carlota Cafiero. Além da revisão ela sempre me oferece dicas que iluminam o texto. Outra pessoa que confio meus originais é a artista plástica Camila Giudice, ela é ilustradora dos meus livros. Confio muito na sua opinião.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu costumo escrever tanto manuscrito como no computador. Tenho muitos cadernos onde faço anotações e escrevo alguns capítulos. Depois passo tudo para o computador. Também diagramo meus livros.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sou bastante observadora. As histórias passam em frente aos meus olhos e costumo agarrá-las pelo topete. Mas, o que mais gosto é de quando estou pesquisando um determinando assunto em um jornal antigo, então costumo passar os olhos curiosamente por outras notícias da página, se descubro uma nota interessante pode nascer dali uma ideia para um livro!
Ultimamente tenho produzido muitas histórias que possuem como cenários as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, e as regiões do Vale do Paraíba e sul de Minas Gerais. Sou apaixonada pelas décadas de 1920 a 50, e também pelo século XIX.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou bastante! Com o tempo fui procurando me aperfeiçoar através de estudos e leitura. Minha produção literária é intuitiva e calcada nas pesquisas históricas que realizo.
Se eu pudesse voltar aos meus primeiros textos não mexeria em nada, foi o registro de um momento. Em geral, eu gosto de tudo que escrevo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Minha única pretensão é continuar a escrever, publicar meus livros e seguir em frente. Dediquei toda minha vida à literatura e aos livros, assim pretendo continuar.