Tércia Montenegro é escritora, professora universitária e fotógrafa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
O melhor horário para a escrita é sempre pela manhã. O ideal é acordar, tomar um banho, fazer um café bem forte e começar a escrever, com telefone desligado e sem ter acessado nenhuma notícia da internet. Qualquer coisa “externa” pode dispersar o processo criativo, e o momento da escrita tem que ser de total concentração e silêncio.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Prefiro escrever um pouco todos os dias; não sou de grandes rompantes, prefiro a constância lenta. Se num dia escrevo durante meia hora, ou produzo uma página, está ótimo. É claro que em momentos mais folgados essa produção aumenta, mas o mínimo que exijo de mim mesma é essa meta – ainda que saiba que nem tudo o que escrevo será publicado. É preciso manter a prática; nenhuma arte pode ser praticada sem exercícios diários.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende do livro e do projeto. Às vezes, o processo acontece como um frankstein: vou acumulando pedaços interessantes e depois experimento uni-los; em outros momentos, não quero saber de notas, escrevo para ativar o fluxo da criação, simplesmente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que sou uma pessoa bem disciplinada, então não tenho problemas com prazos ou projetos longos. Quanto à ansiedade e outras angústias, não me atormentam mais do que em outros momentos da vida pessoal. Afinal, a arte é uma parte da vida, e não teria porque ser mais tranquila (ou mais problemática) do que o resto dela.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso quantas vezes eu sentir que é necessário. Não fixo um número; basta que meu critério interior de satisfação seja atingido. Só então – no caso de um projeto longo – mostro os originais a algumas pessoas amigas, para ouvir sua opinião.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje em dia escrevo diretamente no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de qualquer parte: de uma conversa ouvida, de um pensamento, de uma leitura. O importante, para manter a criatividade, é estar sempre inquieta, sempre pensando em outras possibilidades. Aquela coisa do “E se…?” Creio que quem se conforma com o já estabelecido e aceita o mundo como está tem pouca capacidade criativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não diria nada à pessoa que fui nos meus primeiros escritos, porque respeito muito cada fase que vivi e acho que todos os meus processos foram necessários para que eu chegasse a ser quem sou hoje. Eu aprendi a ser mais disciplinada e não depender de inspiração, por exemplo – mas não poderia exigir essa calma à jovem que fui, e que era naturalmente mais ansiosa para finalizar seus projetos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O livro que eu gostaria de ler e ainda não existe é todo livro que no futuro escreverei. Acho que a gente escreve justamente para dar essa contribuição única, algo que até certo ponto é personalíssimo e intransferível, digamos assim. Virá no momento certo, como todas as coisas.