Tatiana Amaral é escritora, autora de Baile de Máscaras.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Pela manhã minhas funções são de mãe e dona de casa. Acordo para cuidar da rotina das crianças, os maiores vão para a escola e eu fico com o menor até a babá chegar. Dedico parte da manhã às coisas da casa. Gosto de orar antes de qualquer atividade e de estar de banho tomado antes de sentar para trabalhar. Às vezes uma xícara de chá me acompanha, ou café. Mas a minha rotina de escrita começa bem tarde no meu dia. Prefiro escrever quando já não tenho que deixar nada para trás, assim fico com a cabeça tranquila para me dedicar só a escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sento para trabalhar entre 11h e 11h30. Costumo dedicar trinta minutos do dia para responder as mensagens dos meus leitores e prefiro fazer isso antes de começar a escrever para me sentir mais motivada. O carinho que recebo me faz acreditar que estou indo pelo caminho certo. Para escrever gosto de ouvir música e seleciono estilos para cada tipo de texto. Quando estou em processo criativo fico com a cabeça o tempo todo no texto, então não é muito difícil voltar ao ritmo que deixei no dia anterior. Mas antes de iniciar qualquer livro eu gosto de escrever livremente tudo o que tenho na cabeça para contar essa história. Faço uma espécie de roteiro que não é engessado, pois eu sei que vou fugir do que ficou definido muitas e muitas vezes, mas ter um roteiro me ajuda a não fugir muito do que tenho de proposta. Gosto de pensar em maneiras interessantes para abrir cada capítulo. Com o roteiro definido, vou para as pesquisas. Levo o tempo que sentir necessário para entender o assunto que quero tratar, mas algumas vezes o problema surge no meio da história sem que eu tenha previsto, então paro outra vez e volto para as pesquisas até me sentir segura. Gosto de conversar com as pessoas que viveram algo parecido, saber como elas se sentem, tentar pegar essa essência para os personagens.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tenho uma rotina de escrita que funciona assim: nada de internet, nada de interrupções e nada de outras atividades. Faço um programa de vinte e cinco minutos de escrita e cinco minutos de descanso com uma meta diária de duas mil palavras, mas não fico muito focada nisso, porque cada dia é diferente e às vezes você não está muito dentro da energia necessária. Força é desrespeitar o texto, então relaxo. Na maioria das vezes vou muito além da meta, porque os vinte e cinco minutos sem internet fazem o texto render muito. Assim trabalho até as 13h30. Após este horário, volto à minha rotina de mãe e dona de casa. As crianças voltam da escola, almoço, converso, estudo, às vezes as obrigações de mãe como médico e cursos fazem com que eu interrompa meu trabalho de escrita às 13h30 mesmo. Mas quando não há nenhuma atividade fora de casa, às 16h volto a trabalhar como escritora. Tenho quase todos os dias reunião com a editora e assessoria, definimos ações, conversamos sobre resultados. Isso leva mais ou menos uma hora do meu tempo. às 17h volto a escrever com o mesmo esquema e às 18h interrompo. Estudo após as 21h30, que é o horário das crianças dormirem. Faço diversos cursos relacionados a escrita, atualmente estou fazendo um sobre como escrever um romance, do Tiago Novaes, que é muito bom e tem me ajudado muito. Estudar nunca é demais. Gosto muito de escrever à noite, mas tento não fazer disso a minha rotina.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não acho difícil começar porque a ideia surge antes de qualquer pesquisa. Você já tem ideia do que quer contar e do movimento para atingir este objetivo. Gosto de ter um arquivo com tudo o que pesquisei para não deixar passar nada. Como abro para os meus leitores o assunto que preciso pesquisar, sempre tem alguém querendo contar a sua história, o que, na minha opinião, é muito importante, torna o texto mais humano. A internet ajuda muito neste ponto. Procuro matérias, sites que abordam o tema, converso com profissionais e logo tenho um perfil traçado. Para mim transformar o que pesquisei em romance é muito fácil.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
É complicado. Não posso dizer que relaxo, porque seria mentira. Escrever é uma profissão como todas as outras e que eu escolhi por amar o que faço, então cada projeto é um momento de tensão novo. Você não sabe como as pessoas vão corresponder, principalmente depois de ter lançado um sucesso e existir a pressão para que o próximo seja ainda melhor. É difícil, às vezes eu travo e levo semanas sem escrever nada. Sofro de verdade, mas não forço. Eu acho que quando você precisa viver tantas vidas, como escrever permite que aconteça, e viver todas as emoções, um apoio psicológico é fundamental para ajudar a conter a ansiedade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Vou confessar que odeio revisar. Quando você cria fica cego e sentimental demais para voltar a trabalhar no texto com olhos mais críticos. Contudo aprendi o quanto é importante fazer esta parte. Eu escrevo, envio o livro para um grupo de leitores betas, recebo o arquivo de volta, releio, reviso, tento aplicar no texto as técnicas de escrita que aprendo nos cursos, devolvo o livro para a revisão da editora, recebo o arquivo de volta e trabalho nele com mais cuidado. O processo é lento, mas necessário.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. Recentemente me rendi ao celular, por precisar estar fora de casa para escrever ou por não poder estar em meu escritório. Então escrevo pelo celular, envio o arquivo por e-mail e reviso este antes de juntar ao arquivo principal.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu acho que ser criativa faz parte da minha personalidade. É um acessório que já veio de fábrica. Tenho tantas ideias que me frustro por saber que não viverei o suficiente para escrever tudo o que quero. Mas eu acho muito importante me manter atualizada. Gosto de saber as notícias do mundo, entender como algumas culturas funcionam e às vezes algumas ideias surgem assim, encontrando uma notícia interessante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa mudou. Quando escrevi o meu primeiro livro eu estava crua, mas tinha o desejo de ser escritora, então não fiquei parada. Estudei muito, aprendi a cuidar do texto, entendi algumas técnicas fundamentais e hoje minha escrita possui uma qualidade muito superior aos primeiros livros que publiquei. Se eu pudesse dizer qualquer coisa à Tatiana que iniciava a sua carreira como escritora seria: não tenha preguiça de revisar.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São muitos projetos que tenho em mente. Para este ano quero muito conseguir entregar três projetos, mas o tempo está bem curto, sem contar que já tenho alguns livros programados e que preciso dar seguimento a estes.
Como eu amo qualquer tipo de livro, leio de tudo, não faço ideia do que eu gostaria e que ainda não existe. Se eu tivesse essa noção com certeza já estaria escrevendo este livro.