Tati Lopatiuk é escritora e redatora publicitária.
Acho que antes de começar, é importante dar um contexto da minha trajetória como escritora. Eu escrevo em blogs desde o começo da internet, sempre no formato de crônicas. Em 2014, quando tive câncer de intestino, comecei a escrever ficção, como forma de me distrair durante o tratamento de quimioterapia. Foi assim que escrevi meu primeiro livro, “Encantamento”, um romance sobre uma garota comum que se apaixona por um cara muito famoso e problemático. De lá para cá, não parei mais de escrever romances. Hoje estou produzindo meu décimo livro. Minhas publicações podem ser encontradas na Amazon e no Wattpad.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu geralmente acordo às seis da manhã, faço algum exercício, leio ou faço algo de casa, me arrumo e saio de casa para ir trabalhar. Escrevo enquanto estou no transporte público, a caminho do trabalho.
Se sinto que preciso de mais tempo para concluir uma ideia do que estou escrevendo, paro em uma padaria no caminho e tomo um café enquanto termino. Seguir essa rotina à risca me ajuda a me manter centrada e me dá a sensação de que estou aproveitando meu dia por completo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu adoro escrever pela manhã, para mim parece que as ideias estão muito mais frescas e eu estou muito mais disposta.
Quando chega a noite, na hora de dormir, gosto de ficar pensando na história que estou escrevendo e em suas possibilidades até cair no sono. Assim, quando acordo, tenho mais clareza sobre o que fazer no meu livro, pois muitas ideias boas aparecem quando estou assim, longe do livro, mas pensando nele.
Desse modo, acho que o meu processo de escrita acontece em duas partes: de noite, quando adormeço pensando no meu livro, mas sem mexer nele de fato; e de manhã cedo, quando acordo, reorganizo aquelas ideias e as coloco “no papel”.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias, o mais cedo possível pela manhã, se estiver inspirada para isso. Não estabeleço uma meta, geralmente vou até onde meu tempo permite, no meio da rotina, ou até onde meu argumento se esgota no desenvolvimento.
Não gosto disso de ter que escrever em 90 minutos ou ter que escrever 10 páginas em um dia, por exemplo, como uma obrigação ou um desafio. Acredito que a gente escreve quando está inspirado para isso, por mais que leve um ano ou dez para concluir algo. Caso contrário, fica tudo forçado, falso. A escrita é algo que vem do coração, pelo menos para mim, e por isso penso que não se pode colocá-la em uma linha de produção – a menos que você esteja ganhando para isso.
Do meu modo, procuro não forçar a escrita, pois acredito que algo que foi chato de escrever também será aborrecido de ler.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Todo livro meu começou por uma frase ou cena que pensei. Uma e apenas uma, para a qual eu busco uma história ao redor para ambientar. Assim, eu tenho essa ideia inicial, escrevo um caminho macro para o desenvolvimento dela, e então começo. No entanto, no meio da escrita, obviamente, tudo acaba mudando nesse “caminho macro”; e o que pensei para acontecer na história, acaba nem passando perto.
Por isso, em um primeiro momento, não me prendo muito em um roteiro, não me preocupo com o meio ou com o final. Eu apenas me deixo levar pelo o que minha mente vai inventando para aquela história. Ou seja, não me fixo a uma estrutura fechada para uma história, prefiro apostar na ideia inicial que me levou a começar a escrever e me guiar por ela.
Por isso, para mim o mais fácil mesmo é começar. Muitas vezes, apenas quando já estou na metade do desenvolvimento do livro é que descubro o que pretendo com ele.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sobre expectativas, é difícil, mas você precisa lembrar que, no fim do dia, a única pessoa que realmente se importa e espera algo daquele projeto é você. E, por isso, você tem a missão de fazer apenas exatamente o que te deixa confortável, feliz e orgulhoso. Ninguém realmente se importa, só você. Esse livro que você escreveu te deixa feliz? Se a resposta for sim, todo o resto é apenas complemento.
Sobre procrastinação… Eu entendo a procrastinação como um escape que está querendo te dizer algo sobre como você está trabalhando aquela ideia. Quem sabe não seja mesmo o momento de você escrever aquela história. Quem sabe você esteja indo por um caminho que está causando aquela trava, e precisa voltar atrás e reescrever algo que mude tudo. De qualquer forma, a resistência em escrever pode ser motivada por algum desvio no processo, que está tirando você da rota.
Recentemente, cheguei a ficar seis meses sem tocar em um projeto que já estava pela metade. Eu simplesmente travei, pois não conseguia visualizar para onde aquela história podia ir e como chegar nisso. Precisei conversar muito com uma amiga, que leu esse material, até entender que não consegui avançar naquela história porque não estava gostando dela. Se eu mesma não gosto do que estou escrevendo, como continuar? Tendo essa percepção, “fiz as pazes” com o livro, o reescrevi por completo com uma abordagem totalmente diferente e agora estou perto da conclusão, ciente de que fiz o melhor que podia. E contente com o resultado.
E nisso, entra a ansiedade para projetos longos. Eu geralmente levo no máximo seis meses para escrever um livro. Para esse último, já estou passando dos doze meses de desenvolvimento. É um pouco angustiante, a pressa de ver pronto é enorme. Ainda mais nesse mundo em que a gente vive, onde tudo é tão urgente, tudo é pré-fabricado e vem quase pronto. No entanto, é preciso ter em mente que o processo é esse e ele é necessário para um produto final que seja exatamente como você idealizou, desde o começo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Escrevo capítulo a capítulo, então costumo revisar um capítulo até cinco vezes, enquanto ainda estou escrevendo o livro todo. Já com o livro completo, faço até três revisões gerais.
Não costumo dividir meus rascunhos. No entanto, nesse meu novo livro, como falei, tenho compartilhado o que já tenho pronto com uma amiga, que me dá alguns toques do seu ponto de vista como leitora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sempre escrevo direto no celular ou notebook, no Wattpad. Para mim é um editor de texto fácil e prático, é só acessar de qualquer plataforma e seus textos estão lá.
Gosto também de ter um caderninho à parte para desenvolver à mão a ideia geral da trama e também anotar características dos personagens, para não falhar em continuidade no meio da escrita.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do cotidiano, de conversas que escuto, de músicas ou filmes de que gosto. Acho que não precisa nada mirabolante para se ter argumento para um livro, a vida constantemente nos dá material para isso. Nada vem pronto, mas se você prestar atenção, são pequenos acontecimentos que podem dar uma boa história. E aí, cabe ao escritor transformar aquela fagulha em algo grandioso.
Desse modo, para me manter criativa, procuro estar atenta ao que acontece ao meu redor. Saber o que as pessoas estão falando, e a maneira que elas falam, é algo que me ajuda a compor minhas histórias. Estar sempre lendo também é importante, pois ao conhecer o estilo de outros escritores você pode acabar encontrando uma maneira de você mesmo contar sua história.
Também acho válido, embora isso funcione de maneira diferente para cada pessoa, acordar cedo, se manter ativo, ver a vida lá fora. Para mim, não funciona a ideia romântica do escritor amargurado, virando a madrugada com cigarros e bebidas para compor algo. A minha escrita é baseada em estar feliz, vivendo a vida e com entusiasmo para descobrir e entender como as relações humanas se dão.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Essa é uma coisa bem específica, mas no começo eu me preocupava demais em explicitar cada passo dos personagens da minha história. A narrativa era quase dia a dia dentro da história, cada movimento de corpo era descrito. Eu tenho uma certa obsessão por me fazer entender explicitamente na escrita, desde a primeira página, então isso tornava o livro um pouco cansativo e sem tantas surpresas na narrativa.
Hoje eu busco deixar isso mais solto, não controlo tanto cada passo dos personagens. Deixo alguns pontos em aberto para resolver só mais lá para frente. Acredito que a leitura fica mais leve assim. Com o tempo, aprendi que você não precisa desde o primeiro parágrafo “explicar” o personagem: você pode fazer isso ao longo da trama, deixando o próprio leitor descobrir. Também entendi que não há problema em passar uma impressão e depois mostrar que a natureza do personagem é outra: isso não é mentir para o leitor, mas sim dar a ele a chance de tirar suas próprias conclusões sobre os personagens.
Então, se eu pudesse voltar nos meus primeiros textos hoje e me dar um conselho, seria esse: não precisa se apressar em explicar tudo, deixe que a história se explique por si só.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Todos os meus livros são livros que eu gostaria de ler e ainda não existiam. Eu escrevo aquilo que gostaria de ler.
No momento, estou finalizando meu décimo livro e ele é tudo no que tenho pensando, então não tenho nenhum projeto que gostaria de estar fazendo, senão esse. Quando terminar, provavelmente novas ideias surgirão – e eu não vou sossegar enquanto não as começar.