Talles Azigon é poeta, editor, mediador de leituras.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu não tenho uma rotina rígida, porém tenho horários preferidos para determinadas atividades, gosto de trabalhar mais pelo período da manhã, algumas vezes vou caminhar na floresta que temos próximo daqui de casa, leio as notícias, vejos às notificações das redes sociais e soluciono às questões burocraticas da vida mais durante este período do dia.
Gosto de ler e estudar mais no período da tarde, durante ou depois dos estudos (leituras, cursos, fruição de música, filmes, obras de artes). Não gosto de fazer muitas coisas no período da noite, pois prefiro dormir cedo. Às noites eu reservo para interações sociais, conversas no whatsapp e ficar navegando nas redes sociais e internet.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou poeta, o que me move é a urgência da palavra, essa urgência não têm dia e hora, para mim, fico sempre disponível para a necessidade dos poemas. Para escritas encomendadas, escrita de projetos, críticas, artigo, ensaios, estudos, esses prefiro fazer no horário comercial de 08 às 17h , nesse caso escrevo diretamente no computador, não ligo para ruídos externos, da rua, geralmente trabalho escutando música, principalmente instrumental, ou a dita música clássica (erudita instrumental). Para os poemas não tenho suporte específico, escrevo-os nos cadernos, no celular, onde for mais rápido, o que tiver mais perto de mim no momento.
No caso dos poemas, esse primeiro impulso que leva a escrita é matéria bruta, é rascunho, algumas vezes publico-os exatamente assim em minhas redes sociais. Quando vou editar meus livros, esses poemas rascunhos passam por edições rigorosas, e são totalmente transformados ou descartados.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Outra técnica que utilizou muito, e pode responder a esta pergunta, é o cultivo da ideia, uma espécie de escrita mental. Penso em uma imagem, uma observação, um reflexão, uma frase poética, a partir dela passo dias, às vezes semanas, meses, recito-a em minha mente e aglutino mentalmente elementos verbais a esta ideia inicial, só quando sinto-a preparada eu escrevo, ou digito.
A parte isto, escrevo todos os dias, pois trabalho com a escrita em muitas dimensões, não apenas a poética, a escrita para comunicação, ensaios, teoria, escrita para projeto e redes sociais. Todos esses tipos de escrita considero parte da dimensão artística, são exercício. Considero conversar, pensar, debater, também formas de escritas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como citado anteriormente utilizo como técnica uma escrita mental. Em caso de textos prosaico longos, que exige uma pesquisa específica, antes de escrever eu separo todos os tópicos que serão abordado, fazendo antes de tudo um sumário.
Sobre a pesquisa, faço-às antes de começar a escrever, não gosto de pesquisar enquanto estou escrevendo, a não ser quando durante o trabalho algum ponto de mostre necessário para ser melhor desenvolvido, neste caso prefiro pausar a escrita e voltar para pesquisa.
Geralmente o que me move é o prazo final. Mas depois da pesquisa pronta e organizada, geralmente leva um tempo para digerir tudo e pensar na melhor forma de colocar a história no papel. Não é do dia para à noite. É necessário um tempo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é um dos maiores problemas, contudo percebo que ela nasce da sobrecarga de compromisso e atividades que faço. Então a procrastinação é mais um sintoma de cansaço do que uma trava da escrita. Tirando isso não possuo o tal bloqueio criativo, nunca passei por ele, quem saiba passe um dia, até porque acho que a falta de criatividade está relacionada a falta de leituras. Quando sinto certa dificuldade me volto para às leituras, pesquisas e fruição artística, que me oferecem todos os elementos que estavam faltando.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
No caso dos poemas, acredito que faz parte da revisão deixar eles “dormindo”, ou seja, edita-los somente quando os publicarei em livro, por isso gosto das redes sociais, como não tenho problema com direitos autorais, tudo que geralmente penso escrever publico de imediato no facebook, instagram, observo como às pessoas vão se comporta e interagir com o poemarascunho publicado nessas redes.
Somente quando irei publicar em livros e revista que me volto para esse repositório digital e edito os poemas. Geralmente não mostro para ninguém. E caso seja publicado em livro, deixo esse trabalho de uma segunda edição e revisão a cargo dos profissionais de revisão e edição envolvidos no projeto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não tenho predileções de escrever à caneta ou direto no computador ou celular, quando o caso é poesia. Em relação a textos prosaicos, faço às anotações de pesquisa e apontamentos no caderno e quando vou escrever o texto, o faço no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm da vida, do mundo. Carl Gustav Jung falava sobre um estado de “interesse pelas coisas”. Em poesia, que não está em estado de interesse pelas coisas apenas amontoam palavras, palavras que facilmente são esquecidas até porque quem as escreveu. Eu lembro exatamente de cada um dos poemas que fiz pois cada um deles está associado a necessidade de um pensamento, um sentimento, a urgência de uma questão social, linguística, filosófica, política que me atravessou.
Não tenho problemas com a criatividade, a considero uma força da natureza, disponível e infinita desde que vá de encontro a ela, esse encontro acontece quando leio, quando caminho, quando observo, quando aprecio arte, literatura, música, quando estou vivendo e mantendo ativo meu estado de interesse pelas coisas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei em que um novo desencadeamento dos fatos de minha vida mudaria em minha escrita. Passei por processos extremamente críticos, quando um homem afroindígena da periferia, todas as violências das quais fui vítima, todas as injustiças e privações, atingiram quem sou, que penso, logo influenciam a minha escrita.
Porém, caso pudesse ter lido mais ( e olha que eu sempre li e leio bastante) eu teria lido, a leitura, creio, é minha principal escola. E teria andado mais, andado mesmo, fisicamente falando, batido perna, passeado, me deslocar no espaço, ler o espaço, a cidade, é outro alimento da minha escrita.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu sou essencialmente poeta, não tenho tantas pretensões na prosa, a não ser os textos que escrevo de crônica, que são poéticos também. Entretanto, faz parte dos meus planos, escrever uma prosa que conte um pouco da atmosfera interessante de Fortaleza entre os anos de 2005-2016 o período da minha juventude.