Taisa Palhares é professora de Estética no Departamento de Filosofia da Unicamp.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina da manhã depende da rotina dos meus filhos ainda. Quando posso, consigo trabalhar por duas horas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Atualmente eu trabalho melhor quando estou sozinha em casa, não importa muito o horário. Eu preciso de muita concentração e na verdade a condição essencial é o silêncio. Sempre fui mais notívaga e usava as madrugadas para escrever. Mas esse hábito estava mais ligado à cidade onde cresci, São Paulo, onde há muita agitação de dia. Morando no meio do mato, tenho vontade de acordar bem cedo e escrever, de preferência quando todos ainda estão dormindo. Qualquer barulho me incomoda muito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu não tenho uma meta de escrita diária. Escrevo mesmo quando preciso entregar algum texto (para mim deadline é fundamental!). A minha rotina é mais de leitura e estudo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu preciso ler muito antes de começar a escrever, mesmo que não utilize nem metade do material pesquisado! Mas há diversos tipos de textos. No caso dos textos acadêmicos tudo precisa estar estruturado antes de iniciar a escrita propriamente dita (faço um roteiro).
No caso de ensaios críticos sobre arte e artistas trata-se de um outro processo. Quando possível converso muito com ele/ela, vou ao ateliê, leio, faço anotações mais livres. No entanto sinto que na hora H o que vale mesmo é ficar olhando para o trabalho de arte. E nesse caso são textos que mudo bastante. Às vezes termino e deixo “descansar”. No dia seguinte volto, arrumo, troco palavras, melhoro. E também há o processo de enviar ao artista, que é sempre um pouco tenso, mas com certeza gratificante.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido bem, é um aprendizado constante. Hoje em dia tento me martirizar menos e aceitar meus limites. Às vezes simplesmente não dá, não sai… Por exemplo, já aconteceu de eu gostar muito de uma obra sobre a qual não consigo escrever pois não encontro “uma porta de entrada” para começar. É frustrante. Mas sempre penso também naquilo que já escrevi. Achava que nunca conseguiria escrever sobre Mira Schendel de tanto que admiro seu trabalho. Mas no fim consegui. Contudo, sei que o que disse ainda não me satisfaz completamente. Há muito mais a ser dito. Mas tudo bem, ainda tenho tempo. Quando eu estava travada no processo de escrita do doutorado, meu orientador falou algo que me marcou profundamente: “vá, escreva, o doutorado não é o fim de sua vida intelectual, nem é tudo o que você escreverá sobre o assunto durante sua vida!” Isso me fez ser mais “prática”.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como estou sempre atrasada, não consigo revisar muito! Quando trabalhava na Pinacoteca de São Paulo eu fazia livros com editores e também editava textos de outras pessoas. Aprendi muito nesse processo de troca e acho que bons editores são figuras essenciais na vida de quem escreve. Quem me dera ter um particular para tudo que eu faço!
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minhas anotações ainda são feitas em caderninhos, que eu adoro. Guardo alguns desde a graduação! Mas para escrever o texto final só consigo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A leitura é fundamental. Esse é meu hábito. E principalmente ter tempo para ler vários tipos de textos: acadêmicos, ensaios, jornais e principalmente literatura. Leio menos literatura do que gostaria e não sou sistemática nas minhas escolhas. Mas o contato com a literatura é fundamental para qualquer tipo de escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Acho que não mudou muita coisa. Talvez sofra um pouco menos e acabei me adaptando à limitação de tempo…
Na dissertação de mestrado não mudaria nada, acho que foi uma das melhores coisas que já fiz. Estudava oito horas por dia e essa concentração é fundamental para mim, pois sou lenta. No caso do doutorado foi tudo atribulado, eu trabalhava, tive filhos… Agora que estou pensando em publicá-lo, vou retomar a escrita pois acho que pode melhorar muito.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos projetos em mente! Inclusive fazer uma oficina de escrita criativa para tentar alguma coisinha nesse campo…
Eu queria poder ler todos os livros do mundo, em várias línguas! Aliás, a minha vontade é aprender melhor as línguas que já estudei e outras novas. Será minha diversão quando ficar velhinha.
Em relação aos livros, acho que os existentes já dão conta dos meus desejos não realizados. Preciso começar pela minha biblioteca…