Taiasmin Ohnmacht é escritora, poeta e psicóloga.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina. Talvez, a minha única rotina pela manhã seja tomar café, sem o que não consigo sequer conversar. De qualquer modo, a manhã não é o meu momento de maior inspiração para escrever, por isso, e por necessidades da vida, pela manhã me ocupo com compromissos familiares ou com o consultório.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor à noite, quando todos vão dormir e a casa fica mais silenciosa. Mas se estou muito envolvida com um texto em especial, aí não tenho horário para criar, muito menos ritual. Aproveito qualquer momento, por pequeno que seja para escrever (na prosa, é comum acontecer de a história me tomar de tal modo, que é como se o texto exigisse ser escrito).
Costumo escrever no meu quarto, pois é o ambiente onde tenho mais privacidade. Tento preservar um espaço no qual as interrupções quase não aconteçam, mas com uma filha pequena e um adolescente, tenho pouco controle sobre isso.
Dizem que as mães se preocupam quando os filhos estão em silêncio, talvez por isso eu tenha me acostumado a escrever com os barulhos deles, ou apesar da bagunça que eles fazem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando me ocupo de uma narrativa mais longa, inicialmente trabalho em períodos concentrados, mas isso não quer dizer que só trabalhe quando estou escrevendo. Penso o tempo todo em possíveis caminhos, soluções para a história, cenas que quero descrever. Depois, quando entendo melhor como pretendo desenvolver a narrativa, a escrita se torna diária, e quase compulsiva.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Primeiro vem a ideia, ou uma frase, ou uma imagem, e partir disso começo a escrever. É ao longo do processo que me dou conta de que pesquisas e/ou leituras serão necessárias para continuar. Mesmo em um romance que escrevi (ainda não publicado) com muitas referências históricas, iniciei assim: primeiro coloquei no papel o cerne da história que queria contar, depois escrevi alguns trechos para me decidir se contaria em primeira pessoa ou em terceira, a partir daí iniciei as pesquisas, mas não teve uma organização de primeiro uma coisa, depois outra. Escrevia e pesquisava ao mesmo tempo. De um certo modo, a pesquisa me inspirava a prosseguir.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não escrevo pensando em agradar a alguém. Se tiver isso em mente, nem escrevo. Escrevo porque quero contar uma história, e espero que interesse a alguém mais além de mim. O que nem sempre acontece, mas tudo bem. A escrita é sempre uma aposta de que haverá leitores, mas não no sentido de cumprir com expectativas. Até porque eu gosto do efeito de surpreender ou desconcertar o leitor. Então a escrita, para mim, é um convite ao leitor para viver uma experiência. Diga-se de passagem, que amo ler, e como leitora também é algo de uma experiência que busco.
Para mim, a procrastinação acontece quando não sei que continuidade dar a uma história ou quando tenho uma cena para escrever. Ela está lá, bela na minha cabeça, mas passar para o papel se mostra mais difícil do que havia pensado. Nesses momentos, recorro à escrita à mão, e só depois de retomar o ritmo, volto a digitar. Não sei porque, mas é como consigo enfrentar essas situações.
Projetos de longo prazo sempre são um desafio. Costumo ser bem sucinta, orientei muito minha criação para contos, e gosto de frases curtas. Por isso, quando me proponho uma narrativa mais longa, fico atenta para não resolver a história rápido demais. Tem um pouco a ver com ansiedade, sim, com a vontade de ver a história que quero contar concretizada no papel de uma vez. De qualquer modo, também acontece às vezes de cansar do que estou escrevendo, e passo longas temporadas longe de um texto, vou escrevendo outras coisas nesse meio tempo, até que uma hora resolvo pegar de novo o material deixado de lado, e quando retomo é como se fosse outra pessoa que tivesse escrito. Leio com outros olhos. Gosto quando isso ocorre, consigo me entusiasmar novamente com a narrativa e retomá-la de outro lugar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
O momento de revisar é o que mais me deixa ansiosa. Quando concluo um texto, quero logo colocar meu “bloco na rua”, mas reviso bastante, principalmente a partir do momento em que decido publicá-lo.
Também é comum pedir ajuda para outras pessoas revisarem. Por isso, acabo tendo leitores antes de colocar no blog, ou nas redes sociais.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Começo a escrever à mão, a partir do momento em que estou com um bom ritmo de criação, passo a escrever direto no computador. Mas, como disse acima, quando travo, volto a escrever à mão. Quanto mais longo é a narrativa, mais vezes fico fazendo essa passagem entre a escrita à mão e a digitação.
Poemas, sempre escrevo à mão. Embora, ao digitar possa fazer ainda alguma modificação.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Palavras, frases, fragmentos de situações, de letras de música, de lembranças, do dia-a-dia, servem de inspiração.
Se tenho um hábito, é propriamente o de escrever. Acho que é importante escrever sempre. Escrever bem ou mal, não importa, mas escrever como exercício. Depois se decide o que vale a pena tornar público ou não. Mas, na escrita, cultivar a criatividade, é o próprio exercício de escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Fiz vários cursos de escrita criativa, e foram importantes. Por isso, eu me recomendaria estudar, estudar e estudar.
Estudar a escrita, o estilo, os gêneros. Ler muito; ficar atenta ao modo como escritores de quem gosto desenvolvem seus textos, os recursos que eles usam.
Tudo isso mudou minha escrita, do que antes era apenas contar uma história, para saber como eu queria que essa história fosse contada.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de narrar em forma de versos. Uma longa narrativa com a forma de um poema. Não é uma ideia nova, na verdade, era o modo clássico como se contavam histórias antigamente. Mas gostaria de fazer algo assim, uma narrativa com o ritmo da poesia.
Também gostaria de escrever uma história de terror, gosto muito do gênero. Isso eu já tentei, mas não consegui, sempre se transforma em alguma outra coisa.
Não sei como pensar em uma história que não foi escrita, já tem tantas criações, e tantas coisas boas que ainda não li!
Prefiro ser surpreendida.
No momento em que conseguir pensar em algo que ainda não foi escrito, e que gostaria de ler, vou querer escrever essa história!