T. K. Pereira é escritor e organizador do projeto 7 coisas que aprendi, autor de “Vozes” (Caos e Letras, 2019).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
De escrita? Eu gostaria de ter. Há anos tento estabelecer uma, sem sucesso. Hoje minha rotina é acordar, dar um trato na casa e partir para o trabalho. Quando não há o que arrumar, leio, assisto a uma série ou filme, e, quando envolvido em algum novo projeto, escrevo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo melhor pela manhã, bem à tarde e (quase) nada à noite. Ou não. Já tive manhãs improdutivas e madrugadas inspiradas – exceções, talvez? Fundamental é que a mente esteja livre de preocupações. Compromissos eminentes me perturbam. Prefiro escrever sem ter hora para terminar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tentei diversos processos: eu já escrevi pela manhã, por no mínimo duas horas; à tarde, alternando sessões de uma hora; à noite, por apenas trinta minutos, etc. Testei recombinações, variações e até reproduzi processos de outros escritores. Hoje deixo fluir. Escrevo com maior frequência (mas não todos os dias) quando estou envolvido em um novo livro ou projeto. O segredo está no deadline.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O silêncio é importante. Quando preciso, contra-ataco a balburdia do mundo com música clássica, blues e jazz. Facilita minha concentração ao rascunhar primeiras versões. Já revisão e reescrita requerem maior atenção. Sempre elimino distrações: nada de Internet, TV a cabo, celular. Na escrivaninha, uns lanchinhos: chocolates, frutas, iogurte, às vezes café ou algum outro estimulante.
Para textos menores, faço pouca ou nenhuma pesquisa, e sigo escrevendo. O desafio aumenta quando se trata de novelas, romances ou séries. Às vezes mergulho tão fundo na pesquisa que me perco do que me levou a ela em primeiro lugar, ou seja, a história que eu pretendo contar. Quando começo a escrever pra valer, me policio para desapegar do perfeccionismo e utilizar apenas o que for fundamental.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes perco o rumo de um texto, o prazer de escrevê-lo. Bate uma vontade de escrever outra coisa ou de não escrever nada, nunca mais. Pra evitar essas recaídas sigo o conselho de Hemingway e paro de escrever enquanto ainda quero continuar. Quando retorno ao texto, a vontade costuma estar ali. Quando não, largo tudo e procuro espairecer fazendo outra coisa: caminhar, ler ou beber algo forte quase sempre me desbloqueia a mente. Já a ansiedade e o medo são velhos inimigos com os quais convido da melhor forma possível. Trocar ideias com amigos que gostam e acreditam em seu trabalho ajuda a renovar as energias e a confiança.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tantas quanto for possível, o que é uma benção e uma maldição. Tento ignorar a vozinha do perfeccionismo e escrever o máximo que puder antes de revisar. Nem sempre funciona. Às vezes largo um texto pelo meio e reviso o que escrevi. Esta revisão prematura pode me travar ou me inspirar a escrever até o (que parecer ser um) final. Para os contos, não é um problema. Para romances, é um martírio.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Raramente faço anotações à mão. Hoje tenho sempre um celular a postos. A escrita em si ocorre em um computador. Já a revisão é outra história: gosto de imprimir o texto e rabiscá-lo todo à caneta antes de modificá-lo. Enxergo mais facilmente os defeitos no texto impresso. Uso o Scrivener para o planejamento de projetos mais complexos, mas, no geral, escrevo no Word.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da observação do cotidiano e de leituras, principalmente, mas também de filmes, séries e jogos. Tento não me preocupar em ter ideias, exceto quando desafiado a isso (para participar de antologias, por exemplo). Lembro-me sempre do mote do querido mestre Sérgio Fantini: o escritor é um acumulador. Sigo vivendo, acumulando e escrevendo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
No processo, muito. Já experimentei vários, com diferentes medidas de sucesso. Hoje não estou certo de que encontrarei o processo definitivo, mas estou seguro de certos aspectos do meu modus operandi. Ao meu eu-escritor passado eu diria: “leia mais e com mais qualidade. Acredite em seu potencial. Pegue mais leve consigo mesmo e siga no seu tempo”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou sempre com novos projetos em mente. Eles competem por minha atenção o tempo todo. Como escritor, o maior desafio é saber escolher o projeto ideal para o momento e seguir firme até sua conclusão. Nem sempre é fácil, mas sigo na luta. Mais recentemente eu tenho namorado a ideia de um podcast, mas o foco agora é a divulgação do meu primeiro livro de contos, Vozes.