Sueli Gutierrez é jornalista, escritora, membro da Academia Popular de Letras de São Caetano do Sul, do Núcleo de Escritores do Grande ABC e da Rede Mulher que Decide (RMQD).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Ligo o computador, leio as mensagens de e-mail, whats e a agenda. Sou autônoma, por isso faço primeiro minhas obrigações de trabalho, que me trazem a possibilidade de pagar minhas contas. Trabalho com revisão, consultoria de edição para novos autores etc. Nessas leituras, organizo o que é prioritário. Depois dedico um tempo para escrever. Em razão de ter terminado há pouco tempo outro livro, estou mais colocando as coisas da casa, da família e das obrigações particulares como prioridade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu produzo melhor à noite porque tem menos barulho. Não tenho nenhum ritual. As ideias me surgem em qualquer lugar sobre o que vejo, o que faço, o que ouço. Pode ser na rua, no shopping, no trem, com amigos, numa repartição pública. Às vezes acordo de madrugada com algum sonho ou ideia e anoto correndo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas, mas quando estou envolvida com a história, fico às vezes até sem almoçar para aproveitar a inspiração. Por outro lado, tem momentos em que preciso me dedicar a outras coisas particulares com mais intensidade. Mas o que faço diariamente é ordenar as ideias, passando tudo o que foi gravado no celular ou anotado para as pastas do computador.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Acredito ser o contrário. Eu primeiro tenho uma “vontade” de escrever sobre “X”. Escrevo primeiro tudo o que me vem à mente. Durante esse processo, se quero desenvolver um tema, um acontecimento ou uma explicação mais detalhadamente no desenrolar da história, então eu pesquiso. Deixo de molho por um período de uns 15 dias. Depois eu vou revisando, trocando as palavras por sinônimos, retirando redundâncias, repetições e limpando tudo o que parece ser completamente desnecessário.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu vivi da escrita como jornalista e trabalhando em empresas como assessora de imprensa durante uns sete anos, escrevendo artigos de interesse da empresa. Às vezes, se seu cliente não gostou do que você escreveu, simplesmente você adapta o texto de acordo com o cliente. As minhas obras pessoais iniciaram em 2017 e vou à luta para apresentá-lo ao leitor. Quanto a projetos longos, eu não tive essa experiência, a não ser minhas criações.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso diversas vezes. É incrível que conseguimos enxergar melhor os erros dos outros do que os nossos próprios. Entendo ser interessante entregar a alguém para uma leitura crítica. Não me incomoda em nada receber críticas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Prefiro no computador, mas se não disponho dele no momento, escrevo em qualquer lugar. Até num guardanapo no bar pode servir para uma urgente anotação. Também uso gravador do celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Leio bastante, observo bastante. O dia a dia está cheio de acontecimentos, ações, reações e da própria rotina poderá encontrar algo diferente. Também tudo que você aprende na faculdade, no trabalho, em cursos, com amigos, com estranhos, viagens, experiências, tudo pode ser empregado nas suas histórias. Por exemplo, morei em Salvador e por um tempo trabalhei como guia de turismo. O curso de guia me levou a conhecer comunidades indígenas, cultura afro-brasileira, a fundação da primeira capital do Brasil e tantos acontecimentos históricos.
No meu livro infanto-juvenil chamado Era uma vez, Conto outra vez eu fiz uma releitura de três histórias mundialmente conhecidas colocando a menina como protagonista e integrando de forma harmoniosa as diversas etnias brasileiras. Uma das histórias chama-se Anita Caçaonça, que lembra Chapeuzinho vermelho. A personagem é uma neta de índio que salva o avô de uma onça pintada. Portanto, o que eu aprendi no curso de guia me deu um tremendo suporte para desenvolver as histórias e os cenários.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu primeiro livro foi de poesias, quando tinha uns 20 anos. Depois optei estudar jornalismo pelo fato de gostar de escrever. Em 2017 voltei à escrita, fazendo o livro já mencionado, e um romance. Foi uma transição de poesias para contos e romances. Hoje, lendo minhas poesias, acredito que desenvolvo melhor o que escrevo agora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Já comecei um livro com imagens e poesias chamado Impressões, mas não terminei. Terminei de escrever o infanto-juvenil A gata de rodas e o romance Lavanda. Um dia uma garota perguntou na rede social se gostaríamos ler um livro que não identifica se o personagem principal é mulher ou homem. Achei muito interessante a sugestão. Não sei se já foi feito.