Sonia Nabarrete é jornalista e escritora, autora de “Contos Safadinhos”.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Em geral não organizo, apenas dou prioridade aos trabalhos de produção e revisão de textos que faço como freelancer e têm prazos apertados. Os textos criativos — contos e poesias— surgem inesperadamente, a partir de um sentimento, uma notícia, algo que ouço ou presencio. Quando surge a ideia, escrevo. Mas se estou trabalhando em um romance ou novela, escrevo sem parar. Funciono melhor quando faço muitas coisas ao mesmo tempo.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Não planejo nada. Deixo fluir. Às vezes um texto surge com a última frase ou com uma frase que está no meio. Abusada, por exemplo, eu escrevi primeiro a parte final e só então o começo e o meio.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Gosto de escrever em silêncio, apenas na companhia do meu cachorro, o Gil, e prefiro me dedicar à escrita pela manhã, com a cabeça fresca.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Quando acontece, não insisto. Vou fazer outra coisa que me dê prazer: cuidar de plantas, levar o cachorro para passear, ler, ver um filme…
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Livro é como filho, cada um é diferente, mas a gente ama a todos da mesma forma.
O primeiro, Carvão- o poeta da quebrada, que permanece inédito, foi o mais complicado. Em 2014, eu havia feito um ateliê de escrita criativa com Luiz Bras, na Casa da Palavra, em São Paulo. Vários exercícios foram feitos a partir de um personagem que cada participante criou. O meu era Carvão, um adolescente periférico negro. Ao término do curso, notei que os textos formavam uma unidade, eram o miolo de uma novela, que complementei escrevendo o princípio e o fim.
Um livro que muito me orgulha é Abusada, em que mostro as várias fases de uma relação abusiva, culmimando com o feminicídio. Regininha, a protagonista, é uma mulher nascida em 1953, que está à frente do seu tempo e vive plenamente a sexualidade. Mas isto não impede que ela se envolva com um machista. O retorno que recebo dos leitores tem sido muito bom, sobretudo de mulheres que se identificaram.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Em geral surgem de questões que me incomodam e inquietam, como racismo e relações abusivas. Meus textos também têm erotismo, mas sob um olhar feminino e feminista. Imagino que a leitora ideal é alguém que também se preocupa com questões sociais e prioriza o próprio prazer.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Em geral, não costumo mostrar meus rascunhos a ninguém. Depois de pronto o texto, gosto de mostrar apenas a minha filha, Marina.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Eu escrevo desde a adolescência, mas só me mostrei em 2012, na maturidade, quando participei de um concurso literário, incentivada pela amiga Nanete Neves, e fiquei em segundo lugar. Ouvi dela o que precisava ouvir: a escrita é um eterno aprendizado. Desde então, tenho lido muito e participado de várias oficinas. Recomendo a da própria Nanete e a de Luiz Bras.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Sempre gostei de literatura erótica e foi natural seguir por este caminho, com o diferencial de ter um olhar feminino, feminista e com um toque de humor. Minha maior inspiração é Hilda Hilst. Também gosto muito de ficção científica e faço parte do Coletivo Kriptokaiopora, que reúne autores do gênero, inclusive Luiz Bras, cujos livros de FC são todos ótimos.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Nenhum em especial, mas sempre recomendo os que são publicados por pequenas editoras ou autores independentes, sobretudo os escritos por mulheres. Vale a pena conferir: O sêmen do rinoceronte branco, de Cinthia Krienler, Martina, de Vivian Retz Lucci, Talvez eu tenha morrido, de Juba Maria, Visita íntima, de Sandra Regina de Souza, Um gato no mercado, de Georgeta Gonçalves.