Simone Henrique é doutoranda e mestra em Direitos Humanos na Universidade de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Gosto de meditar ou me exercitar durante a manhã, a depender do dia da semana. Nos períodos de aula ou trabalho, cuido de mim e da vida em família antes de enfrentar o trânsito de São Paulo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meu ritmo é de vespertino para noturno. Ministrei aulas às sextas-feiras à noite para turmas de quase uma centena de colegas e, ao contrário do senso comum, havia interesse e assiduidade legítimos. Quanto ao ritual de preparação com a escrita, aprendi com a querida amiga professora doutora Daniela Bucci a elaborar um sumário antes de efetuar as pesquisas para os textos. Desde que adotei essa ferramenta, ganhei mais ritmo e confiança no ato de escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Possuo um caderno de anotações que me acompanha a maior parte do tempo e que é o destino de ideias que me despertam e intrigam diariamente. As metas de escrita ganham relevo quando um prazo acena a sua proximidade. (risos)
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu já tive mais dificuldades diante da tela em branco e do cursor piscando. Sou grata à minha professora orientadora Eunice Prudente que durante o mestrado e agora no doutorado sempre foi muito generosa e solidária em face da minha dificuldade inicial. Superada essa fase de “perplexidade”, navego entre as notas e o texto concreto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Luto para obter equilíbrio e gerenciar a ansiedade. Muitas vezes ajo de modo muito rigoroso e desgosto dos textos na integralidade. O ditado “ antes feito do que perfeito” serviu para aplacar o meu lado autocrítico mais severo. Virou uma espécie de mantra. Deixo as expectativas no nível pedestre e a “tristeza da reprovação do texto” cede lugar a um novo projeto de escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Gosto de revisitar meus textos depois da leitura de professores. A minha revisão no passado recente redundava em reprovação. Eu era excessivamente crítica comigo mesma. Continuo crítica, contudo, aquela crítica paralisante não é mais determinante para a minha satisfação em relação aos produtos das minhas pesquisas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia anda a cada dia mais próxima. Integro o corpo do voluntariado do Comitê Privacy Br e participei do corpo docente da edição 2018 do projeto “Minas Programam”. O exercício dos direitos humanos das mulheres negras no mundo tecnológico ocupa uma parcela relevante das minhas reflexões atuais. Concilio o meu gosto pelos rascunhos manuscritos com a praticidade do PC. Simone “ainda analógica” e “curiosa digital”.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu sou muito curiosa. Aprender é uma experiência extremamente gratificante para mim. Tive e tenho uma rede de apoio generosa e presente. Já fui questionada em apresentação de trabalho de conclusão de curso sobre o agradecimento especial que fiz à minha avó materna, muito trabalhadora e humilde que permitiu, com seu amor, que eu trilhasse o caminho de estudos até o doutorado. Sou grata à minha família e à minha comunidade pois nunca estive sozinha. Não posso bater no peito e dizer que tive “mérito”, tive sim “oportunidade”. E toda oportunidade que tenho eu agarro com muita força.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Superei um bloqueio criativo com o auxílio do professor Leo Rosa de Andrade. Meu primeiro texto para o portal “Empório do Direito” foi uma parceria nossa. Registro aqui o meu agradecimento. Meu conselho para a Simone dos primeiros textos? Mais uma vez o ditado “o feito é melhor do que o perfeito”. Ou seja, utilize os recursos disponíveis no presente. É bobagem esperar condições perfeitas, impecáveis para escrever um texto.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sou voluntária do projeto “OAB para todxs”, sob a supervisão dos professores Ingrid Limeira e Thiago Valverde, aqui no ABC, e quero tirar do papel o meu projeto de material didático para o curso. Talvez o livro que ainda ocupa o campo das ideias seja a consequência natural desse projeto que eu admiro muito.