Simone de Andrade Neves é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nos dias de feira acordo por volta das 6h, faço um rápido desjejum em casa e chego cedo ao escritório para aproveitar a possibilidade de trabalhar sem as interferências de terceiros. A manhã é o melhor período, o que melhor satisfaz a minha escrita jurídica. Nos finais de semana resido no interior e gosto de caminhar, fotografar algo interessante que surja pelo caminho; ou, nos dias muito frios ou de chuva, ficar em casa escrevendo, lendo…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Ao contrário do trabalho jurídico, quando um melhor rendimento ocorre pela manhã, gosto de escrever poemas ou me dedicar à leitura, à noite, entre dez e meia-noite mais ou menos. O ritual é necessário quando quero escrever um poema sobre um tema específico; para este fim não existe um marco temporal de preparação. Vou lendo sobre o tema e experimentando a escrita até os versos chegarem. É comum também um verso trazer um poema quase que completo e sem nenhuma preparação voluntária. Em regra leio muito para escrever até alcançar o tempo do poema.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em períodos concentrados. À noite, enquanto leio, gosto de ficar criando versos; só para o exercício. Não gosto de estabelecer metas diárias; a poesia tem certa altivez que não me permite estabelecer prazos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Exercício de escrita manual, desenhando as letras, observando as palavras no papel pautado. Testo o momento de começar um verso, ou seguir com um poema, escrevendo manualmente. Uso quatro cadernetas de escrita ao mesmo tempo. Escrevo e reescrevo a maior parte dos poemas até chegar ao eixo, formar um corpo. Agora, tem sempre um poema danadinho que já nasce prontinho; o que me dá uma enorme alegria.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O que me trava vai para a gaveta enorme possibilidade de lá permanecer. Sim, há o medo, mas ele vem junto com uma afirmativa de consolo: é o que pude realizar. Tenho um projeto longo sem apego a prazos e por isso não há ansiedade: vou fazendo, no preparo, na leitura, organizando as ideias até ele efetivamente se estabelecer.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes; alguns poemas mais de vinte, trinta, em especial aqueles que exigiram maior preparação para a escrita. Costumo mostrá-los para amigos poetas; também é comum pedir para conhecidos que não tem o hábito de ler poemas, realizar a leitura dos inéditos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo à mão. Durante o dia, enquanto exerço a advocacia mantenho uma pequena caderneta ao lado do computador para não perder um ou outro verso. Gosto da palavra desenhada no papel. Na casinha do interior, nos finais de semana, tenho o hábito de usar uma máquina de datilografia portátil porque gosto de ver o tipo ser prensado contra o papel. Só datilografo o que entendo que está esgotado de revisões pela escrita à mão. Com um número maior de poemas inicio a transferência para o computador e o livro sendo formado, surgindo em páginas dá alegria…
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Gosto de caminhar no meio do mato e observar o comportamento dos bichos. Tenho muito interesse por pessoas de rotinas distintas e que trazem novos modos de expressão, uso da linguagem e das palavras. A música, o cinema, a literatura, a conversa com os amigos e a fotografia também exercitam a criatividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ao longo dos anos passei a, progressivamente, mais ler do que escrever. A rotina de leitura diária refletiu significativamente na minha literatura. Se voltasse à escrita dos meus primeiros textos acredito que tudo tem um trajeto, um caminho; diria… “que você não desistiu; não parou por aí”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Registrar em áudio o “Missa do Envio: Bandeira do Divino”; poemas meus e músicas originais do Chiquinho de Assis. Tantos livros que já existem eu gostaria de ler que não tenho nem condições de pensar sobre algum que não exista…