Silvia Castro é escritora, atriz e educadora, formada em Letras pela UERJ.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou professora de Língua Portuguesa, regente de |Sala de Leitura. Começo o dia logo cedinho, indo para a minha escola localizada na Cidade de Deus. Meu dia começa às 6h! As aulas começam às 7h30. Antes tenho que atender as necessidades da família: minha filha – beijos, abraços e café; minha cachorra Mel – lambidas, ração e olhares de tristeza pois já sabe que está na hora de ir…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Minha melhor hora de trabalhar é a hora em que tenho um tempo livre. Então, qualquer hora é hora. Um pouco entre as aulas, na hora do almoço, antes de dormir, enquanto espero o sinal abrir, num fim se semana… Vou anotando o que posso e quando o tempo estica um pouco mais, trabalho nas anotações.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todo dia. Necessidade. Se tenho mais tempo, escrevo mais… E leio também. A leitura para mim, estimula a escrita. Faço parte de um grupo de minicontistas no facebook e todas as semanas temos que escrever um miniconto a partir de quatro palavras sugeridas. Isso ajuda muitoooo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não é difícil começar… Sempre parto de algo que já está na minha cabeça e que fica me cutucando, como se precisasse sair de mim e pular para a folha. O que acontece às vezes é que embatuco na hora de fazer as imagens. Adoro criar as imagens. E fico burilando as mesmas como se fossem uma escultura até que traduzam o que está dentro de mim. Nem sempre consigo, mas só paro se visualizar o que estou querendo dizer. Esse é o meu limite. Quanto a pesquisa, gosto de usa-la como um subtexto para mim, quer dizer, sou atriz e é assim que faço ao criar um personagem. Imagino mil coisas sobre o dito personagem. Coisas que necessariamente ninguém nem vai saber, mas, por outro lado, vão dar força ao personagem, vão torna-lo verossímil, forte.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A melhor forma de vencer o medo é encarando de frente. Vivendo com ele. Enfrentando mesmo. Acredito que é impossível agradar todas as pessoas, então a primeira coisa é ficar feliz com você mesma. Ter a certeza de que fez o melhor possível. De que a entrega foi total. E realmente se entregar, fazer tudo o que for possível para que o trabalho seja realizado. Os trabalhos longos são feitos de pequenos trabalhos. Cada dia um passo. Não dá para pensar no fim da linha. Temos que pensar em cada momento. Uma vez um diretor de teatro me disse que quando ele namorava, ele não pensava no momento em que estaria com a amada em uma intimidade maior. Ele pensava em cada abraço, cada toque, cada beijo. Acho que isso se aplica tanto à criação da personagem, quanto ao trabalho do escritor. Cada pequeno momento levará ao momento final e aproveitar o processo é o grande aprendizado.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Acho que nunca estão prontos. Estou sempre revisando. Até que entrego para uma pessoa de confiança. Só uma. Essa pessoa lê e dou por terminado o processo. Gosto de mostrar o trabalho para outras pessoas, mas não qualquer pessoa. As opiniões podem ajudar, mas também podem confundir o autor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de ir direto para o computador. Acho que facilita a correção.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de todos os lugares. São chamados… E se… Então começam a se mostrar e se esconder até serem pescadas e colocadas num papel para voarem dali para que outras pessoas possam brincar com elas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Estou mais paciente comigo mesma e menos crítica. Acreditando mais em mim e nas minhas ideias. Ouvindo mais o que eu penso e menos os críticos de plantão que se ocupam em não fazer e sim em desfazer quem faz…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um livro que mostre a maneira alternativa de crianças se comunicarem. Mostrar que mesmo que estejam caladas ou gritando estão comunicando. Já comecei a escrever… Mas não conto, porque tem o pessoal da cola, que nunca sai da escola… Não cria, copia… Não conheço um livro infanto-juvenil bacana que fale sobre isso, por isso estou escrevendo.