Sílvia Barros é escritora, professora e pesquisadora em literatura brasileira.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Primeiro preciso falar que sou professora, minha rotina, em geral (em tempos não-pandêmicos) começa na sala de aula. Aliás, começa na preparação para chegar até a sala de aula, portanto é uma rotina corrida.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu me sinto melhor para fazer qualquer atividade pela manhã, mas como escrever não é minha ocupação principal, não é sempre que consigo dedicar o período da manhã à escrita. Quando isso é possível, meu ritual é simples, consiste apenas em organizar o espaço de trabalho, ter por perto os livros que estiver lendo no momento, caderno, canetas e o computador.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo quando tenho ideias. Não tenho meta, nem tenho disciplina para escrever todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Para poesia, eu anoto no celular alguns versos que me vêm à mente. Às vezes já trabalho esses versos e crio um poema, outras vezes deixo lá e em outro momento volto para ver se ainda gosto, se vão desencadear um processo mais profundo de escrita ou não. Quando percebo que os poemas que estou escrevendo fazem parte de uma mesma reflexão, temática ou universo, organizo em um mesmo documento e passo a vê-los como parte de um livro.
Já na prosa não tenho tantas etapas, não costumo fazer notas, vou logo escrevendo. Depois de já ter um bom material, gosto de imprimir e ler, aí sim fazendo notas, dando indicações de pesquisas a fazer etc.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não luto contra as minhas travas. Passei grande parte da vida com o sonho infantil de ser escritora e uma parte menor dela sendo de fato escritora. Respeito meus processos e minhas vontades, fico longos períodos sem escrever e não me cobro por isso, a não ser que eu tenha me comprometido a entregar algum texto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não tenho uma quantidade específica de revisões a fazer. Não tenho o hábito de mostrar para ninguém, a não ser para as pessoas que estejam trabalhando em determinado projeto comigo (editoras, coautoras etc).
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no celular, no computador e no papel, depende da situação. Enquanto o trabalho ainda não tomou forma, meu método é caótico, depois, quando vejo que ele vai tomar um rumo bom, aí organizo o que tenho e trabalho no computador até finalizar (ou abandonar).
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm das minhas leituras e também os meus sonhos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Uma das coisas que mais tem mudado é a minha auto confiança. Hoje eu deixo os textos fluírem, especialmente os poemas. Acho que diria: “continua, você está no caminho certo”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu quero, sonho e pretendo escrever um romance. O romance é o gênero sobre o qual me debruço como pesquisadora e também o que mais me encanta como leitora, ao mesmo tempo, é o gênero menos publicado por mulheres negras no Brasil.