Shirlei Pio é escritora, pedagoga, professora de Língua Portuguesa.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre agradecendo a oportunidade de mais um dia de vida. Após o dejejum leve. Num dia normal, tenho o privilégio de ir para o trabalho caminhando, momento no qual aproveito para ouvir música, refletir e apreciar a paisagem. Sou professora de Língua Portuguesa e Pedagoga, trabalho na Rede Estadual com formação de professores e professores coordenadores. Tenho algumas publicações literatura infantil, uma paixão antiga, crônicas em antologias, sou colaboradora do Blog Escola para Pais e trabalho com produção de conteúdos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Com relação à escrita não tenho um horário específico para produzir, nenhum ritual para escrever. Procuro estar atenta para não deixar as ideias escaparem. Mantenho por perto papel, normalmente a minha agenda inseparável. Como diz uma amiga querida, as pessoas não imaginam que estando próximas de mim elas podem virar personagens a qualquer instante.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não. Há períodos em que não escrevo, simples assim. Sem culpa, sem cobrança. Escrever para mim é algo bom, libertador, sempre fui muito tímida e a escrita a minha válvula de escape. É evidente que diante do compromisso da entrega de textos que são encomendados por editoras, blogs, ou sites, tenho uma escrita mais sistematizada a fim de dar conta do compromisso assumido. Fora essas situações, deixo a inspiração acontecer naturalmente. O que automaticamente me faz ter um banco de textos considerável, não é raro quando solicitado um trabalho específico eu já ter algo que dê conta do trabalho.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Espontâneo, prazeroso, alegre, me faz bem. Normalmente não tenho dificuldade de começar um texto. Quando vou para ação da escrita, os pensamentos já estão tão claros, organizados mentalmente que o ato de escrever me alivia. Como se fosse um copo transbordando, que precisa dar vazão. A pesquisa, a leitura em si deve ser um ato constante, capaz de repertoriar e clarear o norte da escrita. Conferindo veracidade na descrição de fatos, situações e épocas. Imprescindível na construção do cenário da narrativa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O receio do julgamento alheio é uma das piores sensações, principalmente no início chega a ser paralisante. É preciso muita força para expor a própria escrita, longe de ser uma tarefa simples. Vencida essa fase, tudo depende do tempo que se tem. Particularmente, não posso me dar ao luxo de me render as travas da escrita, compromisso assumido é compromisso cumprido. Evidente que diante de qualquer tipo de bloqueio, procuro arejar com a minha boa e velha música, por exemplo, para em seguida retomar o compromisso. A minha problemática com a ansiedade é a de lhe dar com o turbilhão de ideias, procuro organizar o pensamento com um esquema que chamo de “esqueleto” e vou dando forma ao corpo conforme vou desenvolvendo o texto, digo que enxertando o corpo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando escrevo deixo a emoção fluir, a criatividade rola solta, costumo dizer que é o lado da escritora atuando. Terminado o texto, me distancio alguns dias, quando possível, quando não tenho esse tempo, algumas horas. Retorno ao texto, mas já com o outro lado atuando, a professora de Língua Portuguesa. Sempre que possível é bom o olhar critico de uma pessoa confiável.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Procure manter um papelzinho sempre por perto, sou fã dessa tecnologia chamada papel. Gosto de rascunhar primeiro no papel. Mas se tiver de ir direto ao computador, não é um problema.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Do cotidiano, de onde menos espera se, de uma frase, da observação de um objeto. Gosto muito de ler, filmes, música, teatro. Trabalhei com crianças minha vida toda, iniciei a carreira na Educação Infantil, foi exatamente nessa época que comecei a produzir textos a serviço da Educação. O primeiro texto surgiu para explicar a ordem dos números para a faixa etária de quatro anos. Mantenho guardado, o título Numerolândia. Vieram muitos depois desse. Para mim era uma diversão, explicar o cotidiano por meio de histórias, a sensação era incrível! Já se vão 20 anos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que era mera diversão se transformou em paixão. Fui e continuo estudando, a percepção diante do mundo parece ter aumentado, assim fui me permitindo explorar outros gêneros também. Foi assim que comecei a escrever crônicas e contos.
Eu diria a mim mesma para manter a calma. Falaria do quanto é incrível a forma como as coisas acontecem. Sim! Acontecerão! Vai fazendo o que lhe cabe no momento, vai escrevendo. Não desiste, insista! Dará tudo certo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Alguns atribuem ao fato de eu ser do signo de áries a maneira como levo a vida. Sou do tipo que quando define uma meta trabalho para alcançar e não poupo esforços. Se não conseguir, não será por falta de trabalho e dedicação. Sei lhe dar com o velho: “não era para ser.” Não vejo dificuldade em seguir em frente. Sobre projetos futuros, começo citando a literatura Infantil, que continua sendo minha paixão, tenho planos de publicar no formato físico livros que já se encontram à disposição em plataformas digitais e outros guardados. Tenho muitos planos para o futuro! Mas gostaria de mencionar um, em especial, comecei agora, não sozinha, com um grupo de amigos autores. Alguns com experiência em publicação, outros nos dando a honra de estrear conosco nesse trabalho. Estaremos lançando, em 2020, uma Antologia com o título Amigos, pela Editora Djinn. De fato trata-se da reunião de textos de amigos de faculdade, de trabalho, de evento, de infância, enfim de encontros que a vida proporcionou. Tem humor, romance, suspense, reflexões, enfim o trabalho está em construção e as expectativas são muito boas, inclusive para outros volumes.
Quanto ao livro que gostaria de ler e que não existe…pensando na literatura deleite e no público para o qual gosto de escrever, eu escolho um dos fenômenos da literário mundial, adoraria ler a continuação do Harry Potter. Era muito comum ver as pessoas em diferentes lugares com os livros, a história virando pretexto para iniciar uma conversa com um mero desconhecido. Aquela sensação de esperar pelo próximo livro, depois o filme, foi muito boa! Marcou uma época.