Sergio Leo é escritor, jornalista e artista plástico; ganhador do Prêmio Sesc de Literatura em 2008.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Durante o dia, nos dias de semana, trabalho na área de jornalismo (antes, como repórter e colunista; hoje, em comunicação corporativa). À literatura, me dedico à noite, em geral depois do jantar, nos dias em que não trago trabalho para casa. Nos fins de semana, às vezes escrevo no fim da manhã, antes do almoço, e no meio da tarde. Quando escrevi meu livro de não-ficção, sobre Eike Batista e seu fracasso empresarial, alternava as tardes dedicadas à coluna que escrevia no jornal Valor com tardes dedicadas ao livro, ou à pesquisa ou à redação.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para contos, rendo mais à noite; para textos de não-ficção, durante o dia. Sem rituais; sou uma pessoa bem pouco disciplinada, até nisso.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gostaria de ter uma meta; em geral, escrevo por algumas horas diárias, em pelo menos três dias por semana, ou quando tenho demandas pela publicação de algum conto (e aí isso me serve de prazo para a decisão de pôr um ponto final em textos que vou escrevendo). Em geral trabalho em duas ou três histórias diferentes ao mesmo tempo, e tenho há alguns anos um romance em preparação, ao qual volto quando acumulo novas ideias para desdobrar o enredo, ou mudar o que já está escrito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Mantenho sempre uns quatro cadernos de anotações, que pego aleatoriamente quando saio de casa, ou saio de um cômodo a outro em casa – do escritório ao quarto, ou à varanda, ou à copa) e onde anoto ideias que me surgem, trechos de textos que me chamam atenção, desenho imagens que me interessam. Se estou mais envolvido em um projeto específico, há um caderno só para ele. Quando sento para escrever, folheio esses cadernos em uso ou já completos, escolho um dos arquivos no computador e começo a escrever, às vezes seguindo um roteiro também traçado num desses cadernos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Mal. Muito mal. A procrastinação é um de meus métodos de trabalho.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende muito, mas nunca menos de cinco vezes, alterando sempre alguma coisa em cada vez. Como disse o Borges, você púbica um texto não porque está pronto, mas para livrar-se dele. Com frequência, hoje em dia, peço a alguém próximo para ler, em geral minha companheira, que também é jornalista e leitora voraz. Meu livro de contos com que ganhei o Prêmio Sesc, porém, só teve os jurados como leitores antes da publicação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O texto em si é sempre no computador. Não gosto de escrever à mão textos longos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da atenção ao mundo reinante, aos roteiros que a vida nos apresenta; aos diálogos (inclusive os escritos), de textos acadêmicos, de situações e sonhos que vivi. Às vezes, de uma questão levantada pela leitura dos jornais, ou da leitura de algum livro teórico, ou do debate nas redes sociais. Um hábito importante é sempre anotar as ideias que surgem dessas situações, ou as situações em si. Outro é variar o tipo de leitura, de ficção a noticiário.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Tenho ficado mais lento, mais exigente e mais disposto a jogar fora páginas que não funcionam. Nunca escrevi uma tese; tenho pós-graduação latu-sensu, em que fiz trabalhos para professores, mas não uma dissertação final e escrevi um livro não publicado resultante de uma bolsa de pesquisa da Funarte, além dos livros que publiquei. Se pudesse, diria: “seja mais organizado”. Mas sei que não iria ouvir.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não falo sobre os projetos que não realizei ainda. Ainda não existe um livro que traduza a ligeireza e ansiedade da linguagem e das relações nas redes sociais para a literatura, com uma densidade capaz de inspirar o respeito despertado pelas obras clássicas. Gostaria de fazê-lo.