Sandra Ronca é escritora e ilustradora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente, começo com um bom café da manhã. De preferência, sem pressa e curtindo o visual da Natureza. Faço uma breve leitura e ando na esteira três vezes por semana. Nos outros dias, adianto algo no computador e faço pilates no meio da manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor quando fico sozinha em casa. Adoro o silêncio. Como me envolvo com outras atividades, a escrita vai aguardando. Tomo nota de muita coisa que surge de forma espontânea. Às vezes, à noite. Tenho vários arquivos e papeis com ideias anotadas. Busco retoma-los de vez em quando. Muita coisa está terminada, completa. Outras, parte escrita para revisar e desenvolver e outras ainda, são pequenas sementes. Por isso, acabo não tendo um ritual para escrita. Já na ilustração. outra minha metade, tenho um ritual que me agrada quando consigo faze-lo: Coloco uma música e danço pra entrar em sintonia. Às vezes, acendo um incenso.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho, o que me vem é muito espontâneo conforme citei. Mas está nas minhas intenções reservar um horário especifico. Com certeza, produzirei mais. Já fiz um pequeno teste em outra ocasião.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Trabalho muito com a Literatura Infantil e de forma espontânea. Então, somente depois de uma ideia, um pequeno texto inicial, vou pra pesquisa pra embasar melhor o que estou dizendo e as ilustrações. Foi assim com “A Casa e a traça”. A história começou a partir de um pequeno poema/brincadeira que achei que ninguém entenderia. Então, fui desmembrando em texto e surgiu o fio da narrativa. Acabou se tornando uma homenagem aos Contadores de Histórias. Fiz pesquisa para as imagens, hábitos, tem até um álbum de família. Aprendi muito sobre as traças e um pouco disso, passo pros leitores.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Bom, para travas, conforme falei: uma boa música leve ou bem ritmada, unida à dança, nos leva em conexão com nosso inconsciente, somos mais verdadeiros e creio, perde-se esse medo, reduzimos a ansiedade. Fica a dica.
Sou uma pessoa que dificilmente tem projetos longos e que está aprendendo a identificar para lidar com a procrastinação. Esse é realmente um problema a combater.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não tem número de vezes específico para revisão. Guardo, retorno, às vezes acho que está pronto, apresento e mesmo assim depois, ainda ajeito.
Mostro eventualmente. Quando acho que estão ok, encaminho aos editores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Se estiver no computador, tenho pastas específicas (completo, a registrar, desenvolver…). Se a ideia vem em outros momentos, procuro escrever numa caderneta que carrego na bolsa. Às vezes, salvo no bloco de notas do celular. Um texto mais longo, gravo um áudio. Procuro revisar esse material de tempos em tempos e concentrá-los no PC.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O maior habito é a observação e, no meu caso, o humor criativo. Imagino, partindo da realidade, situações inusitadas. Me divirto e escrevo como se estivesse falando com o leitor, instigando-o. Brinco muito com palavras, agora mais do que nunca. Preciso anotá-las. Tenho uma caixa de palavras. Palavras são minha ferramenta por vezes, também nas imagens.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje brinco mais com a semântica, os sons, o inusitado, o humor, a liberdade de escrita. Diria: “Ouse mais! Leia mais! Preste atenção no que te faz vibrar. Transmute”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vários projetos começados. Preciso me comprometer comigo mesma para terminá-los. Quando é “encomenda”, prazo com data fechada fica mais fácil. Estou em processo de autoconhecimento e mudança. Aprendendo a dizer sim pra mim, a fechar ciclos. Gostaria de trabalhar nos meus textos que acredito: fechar uns e começar novos.
Tenho pilhas de livros me esperando. Não me ocorre um livro que gostaria de ler e não existe. Me ocorre muito que eu bem queria um papo reto com o Criador. (rsrs) Mas isso é outra história…