Samuel F. Pimenta é escritor português.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia começa com 10 minutos de meditação, por vezes mais. É essencial para mim, para me manter em equilíbrio.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quando estou a projectar um livro, preciso de caminhar. Caminho imenso, às vezes pela casa mesmo! Antes de me sentar a trabalhar num livro, também fico alguns minutos em meditação. As ideias ficam mais limpas. E eu fico mais desperto para “ouvir”. Quando se trata de prosa, tenho o hábito de “escrever” o livro na cabeça antes de avançar para o processo de o escrever efectivamente. Levo anos a escrever um livro na cabeça, até que decido que está na hora de o materializar. Durante a escrita, gosto de escutar música. Outras vezes prefiro ficar em silêncio. É essencial sentir-me só, imerso numa bolha, sem interferências. Quanto ao momento do dia em que prefiro escrever, depende do livro: já escrevi livros à noite, outros que fluíam melhor se fossem escritos de manhã, livros escritos no pico do verão e outros em pleno inverno. Depende muito. De mim e do que estou a escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Para mim a escrita é orgânica. É um animal selvagem, é natureza. Não me imponho metas diárias, pois para mim isso chega a ser violento, até. Por norma, tenho períodos de escrita mais concentrados. E tenho períodos a que chamo de subterrâneos, em que não escrevo, mas vivo tudo internamente. Como se as águas de um rio se recolhessem em câmaras subterrâneas para, mais tarde, virem à superfície novamente. Confesso que esses períodos chegam a ser dolorosos, pois não têm previsão de tempo, mas é deles que nascem novos livros, novos projetos e uma nova pessoa também. Neste momento estou a atravessar um período assim, desde 2016, embora esteja já desde esse ano a trabalhar numa ideia para um novo projeto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vou tirando notas e vou fazendo a pesquisa necessária, mas só avanço para a escrita quando sinto que o livro tem arquitectura, esqueleto. Como disse, antes de escrever efectivamente, começo por escrever na minha cabeça.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Cada vez melhor. Tenho o hábito de fazer períodos de descanso, pois percebi que muitos dos bloqueios que surgem na escrita estão relacionados com cansaço ou com a necessidade de dar tempo às personagens. Então descanso, faço coisas de que gosto, para que o cérebro possa “respirar”, como costumo dizer. Essas pausas também reduzem a procrastinação, pois tornam-me mais focado.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Vou fazendo revisão à medida que vou escrevendo. Frase a frase. Parágrafo a parágrafo. Capítulo a capítulo. E uma revisão final, quando termino o livro. Ou duas. Esta é a minha revisão preferida, quando o livro está finalizado. Descubro sempre coisas interessantíssimas! Quanto a pedir opinião sobre o que escrevi a pessoas próximas, não viveria sem umas quantas fadas protectoras que tenho na minha vida.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Os poemas e as notas para a prosa escrevo em cadernos, que trago sempre comigo. Quando chega o momento avançar para o livro, não dispenso a comodidade da tecnologia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sou uma pessoa criativa por natureza, creio que todos os artistas o são. Todas as pessoas, aliás, pelo menos em potencial. Não tenho hábitos para me manter criativo, pois a criatividade flui naturalmente. Mas não prescindo da música, do cinema, da literatura, do teatro, da natureza, das viagens, da meditação. As ideias para os livros, para qualquer criação artística, vèm da vida. E há que viver!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje sou uma pessoa mais segura, conheço-me melhor e, por essa razão, conheço melhor o meu processo criativo. Isso dá segurança, dá raiz. Se pudesse voltar atrás, diria a mim mesmo para continuar a escrever. E para me divertir.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Por acaso comecei um projeto que estou a autoboicotar há anos: as artes plásticas. Estou a preparar a minha primeira exposição de collage. É outra linguagem que complementa o que tenho vindo a fazer na escrita.
Quanto ao livro, gostaria de ler um sobre como viajar de forma instantânea no tempo e no espaço, entre planetas, galáxias e universos.