Rubem Penz é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu levanto muito cedo – seis horas da manhã. No inverno gaúcho significa noite fechada. No horário de verão, alvorecer. Uma grande vantagem é estar, às sete e meia, com o jornal (em papel) lido e os jornais (em vídeo) vistos. Também é a hora de tomar o mate (se bem que isso pode me acompanhar toda manhã em diante).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
O horário mais produtivo para escrever é pela manhã. Procuro marcar os compromissos profissionais à tarde, bem como as leituras de trabalho. Dou aula no turno da noite. Gosto de silêncio para escrever. Mas não consigo permanecer muitas horas – de tanto em tanto me imponho uma caminhada pela casa em busca do que fazer (nem que seja apenas aquecer mais água para o chimarrão).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
As horas de escrita pendem de muitos fatores – estou dedicado a um livro de encomenda? Tenho apenas as crônicas (entre uma e três por semana)? De acordo com a demanda, escrevo mais ou menos. Raramente menos do que três horas por semana, raramente mais do que cinco por dia…
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A quase totalidade do meu trabalho é no gênero crônica. E ela quase sempre nasce antes, no ânimo para abordar determinado tema (frequentemente depois de um insight). Isso pode estar distante horas ou dias do trabalho propriamente dito. Quando abro o arquivo em branco, muito já se moveu na cabeça. Neste tempo também estão as leituras complementares sobre o tema (o lado jornalístico da crônica, quando necessário) e o mapeamento das melhores estratégias de forma. Importante: não consigo começar a escrever sem um título. Ele até poderá ser alterado ou substituído, mas é o cabide no qual penduro as ideias.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Cronista não pode se dar ao luxo de travas na escrita e procrastinação. O maior dilema é chegar nas horas que antecedem o prazo sem que nenhuma boa ideia tenha fecundado a mente. Para estes momentos me imponho os mesmos exercícios de desbloqueio criativo que uso em oficinas literárias. Os projetos longos foram poucos até o momento (concentro-me na prosa breve). E já sofri muito para corresponder com qualidade laboral, principalmente em função das tais expectativas. Hoje não sofro mais (ou sofro bem menos).
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o texto tantas vezes quanto possível. A última revisão é, inclusive, dentro do corpo do e-mail (quando estou enviando um texto para ser publicado). Gosto quando ele dorme ao menos a sesta. Melhor se dormir de um dia para o outro. Reviso, releio, modifico, volto atrás, encontro outra forma, mexo muito, mesmo. Raramente envio para leitura prévia.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quando jovem (redator publicitário), escrevia a mão e passava a limpo na máquina de escrever. A retomada de uma rotina de escrita, então literária, chegou bem mais tarde, às portas da meia-idade. Havíamos entrado no novo milênio e os editores de texto estavam disseminados. Garanto que me adaptei com muita facilidade ao computador. Adoro suas facilidades. Hoje, no máximo, começo uma letra de música ou pequeno poema com lápis e papel – e mesmo estes textos são concluídos no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Considero criatividade a combinação de conhecimento e capacidade de associação. Assim, para me manter criativo, vejo, leio, escuto, farejo e saboreio com o máximo de variedade o entorno. Isso, associado entre si, e com minha história, meus valores e crenças, será meu arcabouço. Também converso muito com pessoas de todos os lugares e tipos. Pois é… um escritor muitas vezes é um ladrão de histórias alheias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou principalmente o grau de exigência. E seria muito fácil, hoje, olhar para trás e dizer: seja mais eficiente, cuidadoso, artesão, cioso… Porém, a coragem de escrever sem o grau de exigência de hoje naquele momento pretérito foi determinante para não desencorajar o novato de outrora. Logo, erraria muito outra vez. Resumo: no encontro dos dois eus, um diria cuidado, e o outro, coragem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu grande projeto de vida está em curso: com minha voz literária, e com a voz de todos os que passam por mim com o projeto de reconhecer seu próprio tom, sotaque e volume, desejo valorizar a crônica literária. Também namoro o plano de investir em um canal de Youtube. E vou gostar muitíssimo de ler os próximos livros de meus pares cronistas, especialmente os nascidos na mesa da Santa Sede.