Rubem Cabral é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia de forma comum: tomo café, cuido dos bichos (moro num sítio), ajudo a arrumar a casa. A minha rotina é a rotina de alguém que se aposentou precocemente, no interior de Portugal.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto mais de trabalhar depois do almoço. Não tenho ritual, salvo ter alguma bebida quente, feito café ou chá, e por gostar de silêncio para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias. Sou muito irregular quanto à escrita. Há vezes em que escrevo por horas e por dias seguidos, há outras em que fico semanas sem escrever.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita tem a ver com a ideia ou o conceito inicial. Eu “monto” toda a estrutura ao redor desse conceito então.
Normalmente não é difícil começar; mas não é incomum eu abandonar certas ideias e abordagens ao mesmo assunto. Eu só colho notas quando não domino um tópico e então valho-me de pesquisa. Por exemplo, certa vez escrevi um conto steampunk que se passava no Brasil imperial. Pesquisei então vestimentas, nomes de cidades da época, costumes, expressões e ditados, etc. Tudo para dar um verniz maior de credibilidade ao meu texto, ainda que esse fosse totalmente fictício.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu escrevo quando estou relaxado, então não costumo ter problemas com travas de escrita. O que me acontece às vezes é não gostar do que estou escrevendo, pensar se eu não poderia fazê-lo de forma diferente. E muito do que escrevo acontece simplesmente no momento de escrever, e muitas vezes a ideia original tem pouco a ver com o produto final.
Por exemplo, não gosto de “infodump”, mas como escrevo muita FC, por vezes fico tentado ao usar de tal recurso, ainda que com parcimônia. Quanto ao medo de não corresponder às expectativas, ora, esse está presente o tempo todo, mas também é algo com que lido bem, pois sei que não é possível agradar a todos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso inúmeras vezes. Leio em voz alta os diálogos, para ver se soam naturais, elimino cacofonias, corto excesso de adjetivos e advérbios, repetições de palavras, etc. Tento cortar também excessos de citações ou de palavras incomuns. Leio e releio até sentir que o texto flui bem, que não há “engasgos”. Não tenho o hábito de mostrar meus textos a outros, a não ser em publicações de livros físicos, pois então o volume de trabalho é muito grande e é sempre bom contar com revisão profissional e leitura crítica.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou Analista de Sistemas, então sempre lidei bem com tecnologia. Escrevo diretamente no computador. Gosto de usar o Google Drive e o editor de textos da Google também: é fácil de acessar com diferentes tipos de hardware (celular, microcomputador, iPad, etc), e não tenho que me preocupar com backup ou em manter versões, pois a ferramenta provê tudo isso.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu sou naturalmente criativo. Tenho boa capacidade de worldbuilding, de criar nomes, costumes, clima, geografia e tudo mais. Já escrevi sobre uma sociedade de dinossauros, sobre uma sociedade onde a Inquisição aconteceu ao inverso e a bruxaria estava presente em tudo. Ler e sonhar são meus meios de me manter criativo. Em verdade, às vezes tenho que conter essa fonte de criatividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu era um autor de trabalhos curtos e gostava de emular autores que usavam frases curtas e com impacto. Hoje gosto de frases poéticas, longas, de duplo sentido. Eu tinha pressa em chegar ao ponto alto do meu texto, e hoje monto uma estrutura, um quebra-cabeças cuidadoso antes de chegar lá. Eu era direto e seco, fiquei caudaloso.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um romance de FC biopunk. Tenho ideias e conceitos interessantes sobre o tema e é algo que eu gostaria de lançar ao papel, além de nunca ter lido nada do tipo no Brasil.Gostaria de ler um livro futurista sobre Teocracia no Brasil, algo como o domínio total das bancadas religiosas em nosso país. Eu sou meio apaixonado por distopias.