Rosana Banharoli é jornalista e poeta, autora de Espasmos na Rotina.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
“Meu caminho é cada manhã…” – Kiko Zambianchi
É sempre indeterminado. Sou uma pessoa de hábitos noturnos. Sou regida pelo sol da meia-noite. Dificilmente minha manhã começa antes do meio-dia. Por vezes, minha noite é que começa aí. Então, tudo desregrado, exceto compromissos pré-agendados.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho com melhor foco a partir das 16h, mas é mesmo de madrugada que as coisas entre mim e a poesia acontecem. Canais, sensações, sentimentos, percepções, memórias: a confluência. Sem ritual, sem perspectiva, costumo dizer que eu sou a Poesia, pois tudo é Ela; tudo sou eu.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Na verdade, meu compromisso com a escrita é a leitura diária que entremeia o meu trabalho profissional (executo trabalhos online) e o meu trabalho doméstico. Sempre, sempre mesmo, tenho dois livros sobre a mesa da sala. Um deles, prioritariamente de poesia. A poesia e a prosa surgem, daí eu a transcrevo, edito, reviso, publico, mas sem dia e hora marcados. É o nosso pacto. Sempre à sua disposição. Portanto, celular e um caderninho sempre à mão.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Minha escrita vem do cotidiano, experimentado ou não; da leitura, da cultura, da escuta, do olhar pego à reflexão. Às vezes eu, a criatura, acordo de súbito com a criação. Levanto e registro. Sempre acreditando ser “A” poesia, “A” letra de música, “A” prosa. Depois volto ao registro. Nestes casos, acontecem os opostos: tudo é salvo e tudo é transpiração. Muitas vezes, salva-se uma palavra que posteriormente será a protagonista de outra nova criação. Meu ebook 3h30 ou quase isso, foi escrito todo às 3h30 da madrugada ou perto disso, no mês de agosto, sempre com denúncias de vozes femininas, em verso e prosa. Pouco alterei. Eu não escrevo críticas, crônicas, ensaios, narrativas. Não faço uso da ferramenta da pesquisa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não trabalho com projetos de criação. Escrevo para mim. Escrevo para ser lida, por isso publico, quase diariamente, no Facebook, mas sem amarras. Quando tenho um bom material, daí sim, penso em um projeto de publicação. Meu último livro, Espasmos na Rotina, tem poemas de 2012 a 2018.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não mais. Costumo mostrar as letras de música para músicos de minha relação. Sou aprendiz neste quesito. Já com as poesias e prosas, tenho retorno pela rede social. Não tenho melindres. Sei ouvir e receber críticas. Aliás, são sempre bem-vindas, pois só assim posso melhorar, amadurecer o texto, aprimorá-lo em prol da literatura. Não merecemos e não podemos divulgar literatura ruim, ultrapassada. Costumo revisar, copidescar e também descartar. Mas para a certeza de um trabalho adequado, prefiro repassar para os profissionais da editora. É muito difícil de enxergar erro na composição e digitação de texto autoral. O cérebro é mais rápido que a visão.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Depende de onde estou e se a ocasião permite. Bloco de notas e caderno de anotações são meus instrumentos, como os guardanapos, folders, jornais, dorso da mão, todas as possibilidades valem. Salvar. Salvar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sim. O principal é a leitura: crítica e de entretenimento, seguido por estar no mundo. O movimento atento.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Minha criação literária, embora fora dos muros acadêmicos, foi construída e ainda o é, por meio das oficinas de criação literária, palestras, leituras críticas e tais. Aprendi em uma das oficinas que a literatura é resultado de 5% de inspiração e 95% de transpiração. Respeito muito as artes e, principalmente, a literatura. Minha alimentação metafórica e real vem dela. Não desprezo o que escrevi antes do conhecimento, mas hoje registraria o mesmo mote de forma diferente. Cabe-me, exercer o melhor.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Deixo estas respostas para as seguintes manhãs, amanhãs, esperanças de futuros. Pois, eu acredito.