Rosana Banharoli é jornalista e poeta, autora de “Cesar, o menino superincrivel”.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não organizo. Meu trabalho não é contínuo, nem o profissional, como parecerista, nem o criativo. Quando chegam, seja por intermédio do email ou da criatividade, lido com a organização, no momento. Nunca antes.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Deixo fluir. Sou produto do caos. A organização me inibe, me engessa. Nunca sai uma produção que aprovo. Que me satisfaz. Que me contempla.
Nem a primeira e nem a última. Sim, o todo.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Rotina, jamais. Uma das poucas coisas, na vida, que me permito instrumento é a leitura. A escrita. Deixo-me dominar. Desta forma, fico em paz e cometo realizações. Posto-me em genuflexão!
Meu ambiente é a madrugada. Às vezes, com música [mesmo e até rock’roll], por outras silêncio.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Já sofri com isto. Hoje, aprendi: espero. Confio na volta. Dou uma ajudinha: recorro a documentários, filmes, livros e finjo não estar atenta à falta da escrita criativa. Daí, não sei quem é ou está sendo enganada, mas ela acontece: retorna. E, eu, retomo.
Nesta semana, testemunhei esta armadilha. Lendo Mínimos, Múltiplos, Comuns de João Gilberto Noll tive um insight arrebatador. Quero escrever um livro de textos entre a crônica e a poesia. Textos que já foram outros e que ressurgem como prosas concisas. E já chegou com nome e tudo: Palavras Desossadas.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
O meu livro que está para ser lançado pela editora Jogo de Palavras, e que foi contemplado pelo edital do Fundo de Cultura de Santo André. Meu primeiro para crianças: Cesar, o menino superincrivel. Tive a ideia, a vontade, mas confesso que produzir conteúdo adequado para crianças, sem subestimá-las e sem cair na mesmice da linguagem, foi um puta exercício. Espero ter acertado, pois tenho outro na ponta dos dedos.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Como disse, sou escolhida. Um exemplo é o meu 3h30 ou quase isso(e-book, Amazon). Ele aconteceu, no mês de agosto de 2013, sempre às 3h30 ou perto disso. Eram vozes femininas que me despertaram para falar em prosa e verso. Confesso que pouco tive de mexer. Está publicado, praticamente como ouvi.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Tenho poemas realizados e publicados imediatamente, no Facebook. Outros, procuro por escritores amigos e sinceros. Não tenho melindres. Quando os compartilho e envio, espero por estes retornos sinceros, o que, na maioria das vezes vêm embasados em vasto conhecimento literário. Adoro!
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Lembro, sim. A primeira vez, ou as primeiras vezes foi no auge da adolescência. Fiz poemas, letras de música, mas com a mesma pegada de hoje. Questões femininas e indignações eram o norte. Depois com a entrada no jornalismo, deixei a escrita criativa de lado. Depois com a depressão, deixei a leitura crítica e literária, também. Aos 45 anos, a minha psicóloga, Percilia Maria dos Santos Francisco me sugeriu, por intermédio de seu olhar que viu e sua gentileza em trazer-me livros, um caminho. A volta a ele. Tive alta e de presente me matriculei na oficina de criação literária, com João Silvério Trevisan, na Casa da Palavra. Já que ia voltar, que o fizesse pra valer. E, aqui estou.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Não encontrei muitas dificuldades, não. Já tinha este estilo, na adolescência. Só o aprimorei. Olga Savary, Hilda Hilst, foram e são as minhas referências.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Vísceras, de Clara Baccarin; A Importância dos Telhados, de Vanessa Molnar e sempre os de Cinthia Kriemler e Márcia Barbieri. Indico muitos livros, nas redes sociais. O último foi , Folheto, de Paulo Dantas.