Rosa Gabriella Gonçalves é professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente, ou seja, fora do isolamento devido à pandemia, acordo por volta das 6:00, tomo café com a minha filha que sai para o Colégio, leio o jornal pela internet, vou para a Academia de Ginástica fazer um pouco de exercício , tomo um banho e por volta das 8:30 começo a trabalhar preparando aulas ou na escrita de algum artigo, comunicação, etc. Em duas manhãs por semana dou aula, mas é bem no final da manhã, então sempre dá para trabalhar um pouquinho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem dúvida prefiro trabalhar de manhã e começo relendo aquilo que já havia escrito na véspera.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gosto de trabalhar um pouco todo dia, me relaciono com a escrita como alguém que toca se relaciona com o instrumento, ou um dançarino com a dança, preciso treinar um pouco todo dia. Não tenho metas para nada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tomo muitas notas, vou tomando notas de tudo que acho interessante, tenho várias pastas com notas divididas segundo temas. Cada arquivo vai crescendo e se subdividindo em subtemas. Chega uma hora em que naturalmente tenho uma ideia a partir da reflexão sobre as notas e começo minha escrita. Conforme me envolvo com a escrita o texto vai ganhando vida própria e vou deixando as notas de lado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Se a escrita não está fluindo, vou fazer outra coisa. Costumo procrastinar muito mais com obrigações do cotidiano e coisas burocráticas da universidade e da vida em geral. Se vejo que estou procrastinando para escrever, desisto daquela ideia porque percebo que não estou envolvida com ela e que é melhor partir para outra, não vou me obrigar a escrever sobre algo que não me interessa. Acho que como também tenho muitas atividades e não tenho tempo de sobra para escrever, quando posso fico feliz por ter tempo para trabalhar. Adoro projetos longos, mas odeio finalizar, ou seja, revisar, corrigir, checar algum detalhe nas referências, essa fase do acabamento me dá uma preguiça colossal.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei quantas vezes reviso, não tenho uma regra para isso. Se possível eu mostro, acho positivo, mas não tenho muito para quem mostrar, alguém próximo e que pesquise as mesmas coisas que eu, então acho muito mais produtivo publicar depois de ter apresentado o texto em um evento, por exemplo. Acho que na hora em que apresento um texto em público tenho realmente a percepção daquilo que é supérfluo no texto, bem como das passagens que para mim estavam claras, mas que na verdade não estavam presentes no texto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre escrevo no computador, mas se estou em um congresso ou viagem, faço notas em caderninhos e juro que leio tudo depois!
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu fico anos trabalhando um mesmo assunto e acho que cada ideia nasce de outra. Enquanto estou trabalhando em alguma coisa, vou anotando outras coisas que me interessaram mas que não se relacionam diretamente com aquilo em que estou envolvida e às vezes volto a elas muitos anos depois. Mas de um modo geral, minhas ideias nascem das minhas percepções sobre arte, que é o assunto que mais me interessa. Então os hábitos que eu cultivo estão ligados a isso, visitar exposições, pesquisar obras de artistas, ler entrevistas de artistas e críticos, coisas assim. Sobretudo tudo o que tenha a ver com pintura, que é a arte que mais me toca.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei se meu processo mudou tanto, também não há nada que eu desejasse mudar. Acho que naturalmente, quanto mais estudamos, lemos, ampliamos nosso repertório, mais elementos temos para escrever um bom texto, mas isso é um processo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou muito envolvida com o meu projeto de pesquisa atual, não consigo pensar em fazer outra coisa, mas acho que meu objetivo seria trazer minhas reflexões para mais perto da arte brasileira. E existem tantos livros que ainda não li, nem sei…