Rosa Amanda Strausz é escritora, vencedora dos prêmios Jabuti, João de Barro e outros.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente acordo tarde – porque durmo tarde. Só me transformo em gente depois de tomar o café-da-manhã e ler os jornais.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Aqui, preciso fazer uma distinção. Eu vivo de escrever. É meu ofício. Não necessariamente literatura, mas textos institucionais, livros por encomenda, coisas do gênero. Esse tipo de texto flui melhor à luz do dia. A literatura é minha amante, minha amiga noturna. Só nos encontramos depois que já não preciso mais dar conta da montoeira de tarefas diárias. Quanto mais a noite avança, mais desperta e inspirada eu fico. Não é incomum que o nascer do sol me pegue trabalhando.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Varia muito. Como preciso alugar a pena para pagar as contas, nem sempre é possível dedicar tempo à literatura. Eu aproveito alguns períodos para me concentrar em meus próprios livros. Não tenho meta nenhuma. Mas percebo um ritmo claro e crescente. Nos primeiros dias, às vezes só consigo produzir uma página. E é uma página sofrida. À medida que vou me envolvendo, esse número vai aumentando. Até que chega um momento em que o livro começa a se escrever sozinho. Esse é o momento mágico da escrita. Mas ele demora a chegar. Não é instantâneo. Não basta sentar na frente da tela e começar a batucar as teclas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nem sempre eu parto de notas prévias. Às vezes faço só um roteiro muito simples. Quando há uma pesquisa prévia, durante a própria fase de levantamento, já vou destacando frases e situações que possam servir de abertura – mesmo que seja provisória. Agora mesmo estou escrevendo um livro assim. É ficção, mas baseada em fatos reais. Então, enquanto estou transcrevendo as fitas das entrevistas, já vou separando ideias, frases e situações que possam render mais do ponto de vista ficcional.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Depende muito do tesão. Se eu estiver apaixonada pelo projeto, continuo escrevendo mesmo que o resultado saia muito ruim – e não é raro isso acontecer. Não paro porque sei que mais tarde vou reescrever tudo. Então, não faz mal que o texto não esteja bom. Ao contrário dos textos feitos sob encomenda – que têm prazo de entrega -, a produção literária fica pronta em seu próprio tempo. Então, não sofro pressão nenhuma. Só interrompo o texto se sentir que perdi a vontade. Aí, ele vai para a gaveta e pode permanecer alguns anos ali.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Revisão é uma palavra fraca… Eu reescrevo, reescrevo muito. Já aconteceu de ter um livro pronto e achar que precisava mudar o foco narrativo – o que significa refazer tudo. E eu refiz. Já tive dois colegas fantásticos para os quais enviava meus originais – e eles faziam o mesmo com os textos deles (mandavam para mim). Eles eram muito críticos – e quando estou com um original pronto a última coisa que quero é elogios. Preciso é de quem me aponte as falhas. Infelizmente, os dois já morreram. Sinto uma falta imensa deles. Um bom leitor crítico é uma preciosidade. Mas nem todo escritor gosta disso. Eu trabalho profissionalmente com leitura crítica. E tenho clientes que ficam ofendidos com minhas análises. Pessoalmente, acho que a crítica severa é muito saudável – desde que ela venha antes da publicação. Depois do livro publicado não ajuda mais em nada.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço as anotações à mão e os textos no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias surgem enquanto estou escrevendo. Quanto mais eu escrevo, mais ideias surgem. Mais eu me surpreendo com o conteúdo da minha mente. No entanto, é preciso lembrar que quem abastece a mente é a leitura. Quando entro em períodos de esterilidade criativa, mergulho na leitura. Ler bons textos é sempre inspirador.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou foi a ansiedade – que hoje é mínima. Não acho mais que meus textos vão transformar o mundo. Escrevo mais por teimosia, por necessidade de expressão.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tem uma lista enorme, mas eu não vou contar. Sempre tenho vários livros na fila. O livro que eu gostaria de ler e ainda não existe é aquele que eu ainda vou escrever. Por isso, não vou contar…