Roniwalter Jatobá é jornalista e escritor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Para ser sincero, nunca, nunca organizo nada. A literatura, como arte, é pelo menos para mim totalmente desorganizada. Posso começar pelo fim, pelo começo ou, com uma simples frase inicial, criar uma obra-prima. Eis alguns exemplos. 1) “Chamai-me Ismael”. Herman Melville em Moby Dick (1851). 2) “É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro em posse de uma boa fortuna deve estar em busca de uma esposa”. Jane Austen em Orgulho e preconceito (1813). 3) “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. Gabriel García Márquez em Cem anos de solidão (1967). 4) “Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne”. Vladimir Nabokov em Lolita (1955); 5) “Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”. Leon Tolstói em Anna Karenina, 1873. 6) “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte”. Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881. 7) “No dia seguinte ninguém morreu”. José Saramago em As intermitências da morte, 2005; 8) “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto”. Franz Kafka em A metamorfose, 1915; 9) “Todos os dias, na atmosfera esfumaçada e triste do bairro operário, o apito da fábrica lançava aos ares o seu grito estridente”. Máximo Gorki em A mãe, 1907. 10) “Fui criado sozinho e, até onde me lembro, vivia angustiado pelas coisas do sexo”. Georges Bataille em História do olho, 1928. 11) “Hoje, mamãe morreu”. Albert Camus em O estrangeiro, 1942. 12) “Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados”. Gabriel García Márquez em O amor nos tempos do cólera, 1985.
Também nunca me dedico a muitos projetos, apenas um por vez. Enfim, posso fazer mil tarefas no dia a dia, mas na literatura estou sempre focado numa única história, sempre aguardando o momento certo em que irei criar um texto que corresponda à minha visão de mundo.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
As duas coisas ao mesmo tempo: fluição e planejamento. Meu próximo passo, por exemplo, é um romance histórico, cuja ação se passa em 1926, na Chapada Diamantina, Bahia, durante a grande epopeia da Coluna Prestes na região. Pesquiso o assunto há mais de cinco anos e acho que já está na hora de mergulhar nessa fascinante aventura. Porém, ainda e apesar de ter realizado uma pesquisa fundamental, não tenho a primeira frase, mas sei que uma hora ela chegará como se soprada pelo vento. Uma hora, quem sabe, ela surge como uma epifania.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Escrevo devagar. Sigo sempre o conselho do crítico austríaco naturalizado brasileiro, Otto Maria Carpeaux, que dizia que o estilo é a escolha do que deve ficar na página escrita e o que deve ser omitido. É a escolha entre o que deve perecer e o que deve sobreviver. Na literatura é preciso muita paciência até encontrar o tom e o ritmo certos.
Um exemplo é a novela “Tiziu”, presente no livro Paragens, publicado pela editora Boitempo. Como todos devem saber, tiziu é um pássaro que se urbanizou, vive de restos de comida nas grandes cidades. O título, na verdade, é simbólico. É a história de Agostinho, que depois de 25 anos em São Paulo volta à sua terra de origem. É a história de um homem que vive a dura e descarnada história vivida por milhões de brasileiros, aqueles que nascem e vivem bem longe até mesmo dos mínimos direitos de um cidadão, lutando duramente pela sobrevivência e sonhando sonhos que, embora pequenos, não têm qualquer chance de realização. O enredo, no entanto, é a volta. A volta para encontrar a si mesmo em um lugar que não é mais o mesmo. Veja o que acontece quando Édipo volta a Tebas, quando Orestes volta a Argos. Nos gregos, em toda literatura de ficção, o ser humano não quer voltar, mas volta. É empurrado para trás, para buscar a si mesmo, e o que encontra? O nada.
Quanto ao ambiente, tanto faz ser silencioso como o pequeno escritório de meu apartamento ou barulhento, pois, como jornalista, nunca tive a oportunidade de trabalhar numa redação silenciosa. Mas, na verdade, dou mais valor ao silêncio.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Todo começo de um conto ou romance há o medo da página em branco. Acontece sempre. Mas, o melhor esperar que a imaginação flua e você se liberte do receio de encarar o desconhecido. Às vezes, procrastinar é saudável, pois amanhã o autor pode estar mais fortalecido para a tarefa de dar mais vida aos seus personagens.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Sinto, com muito orgulho, que Crônicas da vida operária representa um reconhecimento ao trabalho que venho realizando na literatura brasileira há quase quatro décadas. O livro foi lançado, pela primeira vez, em 1978, logo depois de ter uma boa acolhida no Prêmio Casa das Américas, em Cuba. De lá para cá teve cinco edições pela Global Editora e uma, em capa dura, pelo Círculo do Livro. Esgotado, saiu outra edição pela editora Lazuli com nova concepção gráfica, trazendo o prefácio original do escritor e jornalista Fernando Morais e acrescido de um posfácio do professor doutor Flávio Aguiar, da Universidade de São Paulo (USP), que analisa a importância da obra no contexto da realidade do País naquele período. Tempos atrás, o escritor Luiz Ruffato fez uma seleção e prefaciou uma série de contos, boa parte deles presentes em Crônicas da vida operária e Sabor de química(Prêmio Escrita de Literatura, 1977), que refletem o trabalhador no difícil dia a dia de São Paulo. Generoso, Ruffato dirige seu olhar crítico para o meu trabalho: “Se nos debruçarmos sobre a produção ficcional brasileira ao longo do tempo, poucas vezes vamos flagrar personagens exercendo algum tipo de atividade laborativa” escreve Ruffato. “Em geral, os escritores nacionais, bem-nascidos, satisfazem no próprio âmbito da classe média as suas necessidades de criação – nicho onde o trabalho nem sempre é bem visto. Quando extrapolam os seus horizontes, caem na tentação ou de idealizar o trabalhador, exibindo a exploração de que é vítima para combater politicamente sua opressão, ou de romantizar a figura do malandro ou do bandido, como pretenso contraponto rebelde às injustiças da sociedade. Isso porque, talvez, a literatura de boa qualidade exija uma dose mínima de veracidade – e são escassos os autores brasileiros conhecedores das mazelas da classe trabalhadora. Roniwalter Jatobá é uma dessas exceções. Ele praticamente instaura a literatura proletária brasileira – e sintomaticamente conta com escassos herdeiros. Antes, o trabalhador urbano pode ser entrevisto em um que outro romance – O cortiço, de Aluísio Azevedo, de 1890, Os corumbas, de Amando Fontes, de 1933, O moleque Ricardo, de José Lins do Rego, de 1935 – ou em um que outro conto – de autores como Mário de Andrade e Antônio Alcântara Machado Contemporaneamente, alguns poucos se aventuraram no tema. Mas, sem dúvida, Jatobá é pioneiro ao alicerçar no operário a sua obra.”
Toda a minha literatura foi sempre trabalhosa. Ela vem da reconstrução literária da vivência e da experiência nas constantes migrações entre Campanário – MG (onde nasci), Campo Formoso e Bananeiras – BA (onde vivi) e São Paulo (onde moro). Neles retratei um mundo de perplexidade, ou seja, a minha visão de um migrante e operário na indústria automobilística paulista. Tentei dar voz ao trabalhador em São Paulo, principalmente o migrante mineiro e nordestino que vive na metrópole. Pertenço à ala dos ficcionistas brasileiros ligados à realidade, e com o fito de comprovar a existência de uma temática nossa, brasileira, longe de esgotar-se. Escrevo com o que sou. Sou o que há de mim, apenas.
Um grande amigo meu, o poeta Arnaldo Xavier, já falecido, foi quem me deu uma boa definição dos meus livros sobre a classe proletária de São Paulo. “Se um extraterrestre chegasse a São Paulo, descesse em São Bernardo do Campo e quisesse saber como era o cotidiano nas fábricas do ABC nos anos 70, o único registro seria a sua literatura”, disse. Exageros de amigo à parte, também acho que ele revela por dentro o inferno da indústria automobilista do ABC, descrito por quem o conheceu como trabalhador; o inferno dos turnos de trabalho; o inferno da mais-valia que se transforma em lucros multinacionais e em danosos investimentos dos gringos na Amazônia; o inferno do facão (a ameaça permanente do corte, como instrumento de chantagem contra os que se recusam a fazer horas extras ou a trabalhar nos domingos). E tudo isso com o olhar atento a tudo que aprendi de literatura, insuflando alma aos personagens, cinzelando seus rostos, criando suas identidades perdidas e sempre em busca da felicidade, que é supremo objetivo dos homens.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Nunca escolho o assunto dos meus trabalhos, às vezes tenho uma vaga intuição. Deixo rolar. São as personagens, no momento da criação, que delineiam o ritmo e o prosseguimento da história. A vida de Ciriaco, um conto que está no livro Sabor de química, é um exemplo. Numa viagem à Bahia, descobri que, em Bananeiras, onde viviam meus pais, não havia cães nas ruas, um fato incomum. Perguntei a meu pai por quê. Ele disse que alguém, durante as madrugadas, havia matado todos os cachorros vadios. Pesquisei, então, as diversas formas de matar o animal. Conheci as ervas que matavam instantaneamente, a técnica, a sutil aproximação com os bichos. Voltei a São Paulo com aquilo na cabeça. Uma noite, despejei tudo no papel. Ao alvorecer, tinha escrito quarenta laudas. Levei para um amigo na Editora Abril, onde eu trabalhava na época, e pedi para ele fazer uma leitura. Desde que foi publicado, não mexi em nenhuma linha. É uma história cruel. É uma crítica dura à situação do país, uma análise que é obrigação do escritor fazer. Por que amaciar ou maquiar a realidade do país? Isso seria uma desonestidade intelectual. Os personagens dos meus livros são pessoas que vagam num mundo próprio e recriado artisticamente. Ou seja, eles são criados para gerar um comentário emocionado sobre as condições do ser humano na face da Terra. São personagens que, como eu, estão preocupados, num mundo difícil de viver e conviver, em realizar-se plenamente como seres humanos, em assumir sua própria humanidade.
Na novela “Tiziu”, presente em Paragens, é assim. Agostinho foi criado como um personagem que, no final da vida, sabe que está voltando para uma desolação, para uma cidade natal que não existe mais. Acho que a saída dele de São Paulo, de ônibus, é cinematográfica. Quando a máquina do tempo se movimenta, acentua-se o pathos (no sentido grego, paixão que faz sofrer) do personagem. Está voltando para morrer, ele sabe. Por isso a revelação que São Paulo é uma ilusão, uma miragem. Agostinho ou Ciriaco, portanto, refletem apenas o outro lado do sonho de desenvolvimento industrial do país. Gostaria que eles, às vezes patéticos, desesperados, mas humanos, iluminassem um pouco a miséria da nossa condição humana.
Sou um dos poucos autores que escrevem sobre o migrante nordestino. Tento sempre me aprofundar na temática e elaborar cada vez mais a linguagem, fugindo, claro, do ranço naturalista. Num país que, nos últimos anos, tem produzido muita “literatura” de alienação (magia, autoajuda, trapaçarias psicoterapêuticas etc.), busco uma literatura que olhe a vida de frente. De certa forma, busco devolver ao leitor aquele Brasil que já esteve presente em nossa literatura de ficção, sobretudo a partir dos anos 30, que tanto ajudou na formação de uma consciência nacional. Talvez por isso seja muito próximo à literatura de Graciliano Ramos, que profeticamente relatou em Vidas secas, lançado em 1938: “Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes e brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.” Enfim, esses homens fortes e brutos que vieram para a cidade grande são as personagens dos meus livros.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Nunca. Não gosto de mostrar rascunhos ou pedir a alguém a leitura de esboços. A obra precisa estar pronta e, aprovada por mim, para ser entregue ao leitor. Tenho dois filhos jovens e eles são os meus primeiros leitores. Se eles não gostam, evito a publicação e volto a trabalhar mais naquele texto. Literatura é prazer.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Sim. Por isso, sou um escritor obcecado com o meu trabalho, que é dar voz ao trabalhador em São Paulo. Muitas vezes, sentia cansaço, mas continuava entre o jornalismo e a literatura. Mas, não me arrependo. Dependendo de quem escreve, as duas áreas podem se complementar. Os sertões, de Euclides da Cunha, surgiu de um olhar do repórter no conflito em Canudos, na Bahia. Gabriel García Márquez criou boa parte de sua obra na redação de jornais. O escritor, no entanto, não deve se esquecer que a literatura é arte, ou seja, busca uma transcendência, uma universalidade. Se abandona sua condição de arte pode virar apenas, por exemplo, um documento antropológico.
Filho de pais analfabetos, aprendi nos grandes romances a riqueza do legado da criatividade humana. A Bíblia com O Antigo Testamento, durante muito tempo, foi meu livro de cabeceira. A escola sempre teve um peso fundamental na descoberta da literatura, já que não tinha livros em casa. Durante o ginásio numa escola presbiteriana, em Campo Formoso, no sertão baiano, aprendi a gostar de ler e conheci os clássicos. Já durante a faculdade de jornalismo em São Paulo, conheci professores que amavam ler e que me levaram a dar os primeiros passos rumo à literatura.
Lembro como se fosse hoje de Ana Teresa P. Oliveira, minha professora de Português na faculdade e minha primeira leitora. Lembro do seu olhar atento, incentivador: “Vá, mande para as revistas literárias”. Em salas de aula ela me passou a ideia de que eu poderia ser escritor e, se possível, bom escritor. Ou me mover sempre na busca daquilo que, segundo o poeta Ezra Pound, seria a principal obrigação do escritor: procurar manter viva a sua herança de cultura e o vigor, no meu caso, da língua portuguesa.
Foi na escola de jornalismo, em meados da década de 1970, já em São Paulo, que comecei a escrever os primeiros trabalhos. Eram contos e, em todos eles, o cenário era a periferia paulistana e os dramas dos migrantes em São Paulo, certamente inspirado na minha vivência.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Acho que dois fatores importantes me fizeram arriscar na literatura: muita leitura e vivência. Nasci em Campanário, Minas, em 1949. Meus pais eram baianos, estavam ali desde o final da II Grande Guerra, quando buscaram o norte mineiro pata tentar a sobrevivência. Eram tempos difíceis, época de desbravamento de uma inóspita região. Quando começou a chegar o progresso, por exemplo o asfaltamento da Rio-Bahia, minha família voltou para o sertão baiano nas proximidades da cidade de Campo Formoso. E essa volta foi importante para mim. Vivendo na casa de um tio, entrei num colégio protestante para fazer o ginásio e, aí, a descoberta da literatura. Nesta pequena cidade, por sinal, havia um oásis cultural. Cinema e teatro. Nunca me esqueço: os jovens, na grande maioria, brigavam para ver quem ia ler primeiro as novidades literárias que chegavam de Salvador. Havia ali um advogado e professor de geografia, Domingo Dantas, que colecionava livros autografados de autores brasileiros. Tinha todo mundo. Ele mandava buscar no Rio de Janeiro. Naquela época, e durante quatro anos, nos esbaldamos de ler Graciliano Ramos, José Lins do Rego e muita prosa americana. Em 1964, terminei o ginásio, mas meu pai não tinha condições de me enviar para Salvador para continuar os estudos.
Com quinze anos, a minha perspectiva era trabalhar na roça ou ajudar meu pai, que possuía um velho caminhão. Naquele período da nossa vida, o Ford amarelo servia para meu pai comercializar produtos industrializados (açúcar, bebidas) e também permutá-los por feijão, farinha etc. Fui, então, dirigir o caminhão. Fiquei, assim, nessas andanças por quase três anos. O trabalho era agradável e me sobrava muito tempo. Enquanto meu pai cuidava dos negócios nos pequenos lugarejos, eu lia. Foi aí que conheci quase todos os títulos da pequena biblioteca de Campo Formoso e travei conhecimento com os textos de Dostoiévski, Gogol, Kafka e muitos outros.
Depois de servir o Exército em Salvador, vim para São Paulo, em 1970. Aqui fui morar em São Miguel, na casa de uma família, um exemplo de solidariedade. Casa, comida, roupa lavada e amizade. Era fevereiro. Até abril bati muita perna em busca de trabalho. Na Nitroquímica, a maior fábrica de São Miguel, e que empregava quase todo mundo que chegava da Bahia, não tinha vaga. Rodei a cidade inteira até que, um dia, consegui uma vaga de ajudante de almoxarifado na Karmann-Ghia, no ABC. Fiquei três anos empurrando carrinho cheio de peças para a produção. Em 1973, saí e entrei na Editora Abril, como apontador de produção na gráfica. A partir daí, auxiliado pela empresa, fiz supletivo colegial e, depois, pude me formar em jornalismo. Foi na escola que comecei a escrever os primeiros trabalhos. Eram contos e, em todos eles, o cenário era a periferia paulistana ou os dramas dos migrantes na sua vinda. Virei, então, escritor e jornalista. Enquanto trabalhava nos jornais Versus, Movimento e publicações da Editora Abril, continuei a escrever. Aí, um dia, mandei um conto para a revista Ficção, no Rio, e outro para a revista Escrita, em São Paulo. Ganhei os dois prêmios e não parei mais.
Sou influenciado por todos os escritores que li na vida. Gosto muito da prosa russa do século XIX e da literatura brasileira de meados do século XX, que inclui Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Guimarães Rosa. Busco, no entanto, a minha maneira de narrar.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
De outros autores, A Bíblia de Jerusalém (Edições Paulinas, SP, 1985). Ali tem de tudo: romance, conto, poesia, amor, sexo, traição e violência. Afinal são séculos e séculos de histórias da nossa brutal humanidade. De minha autoria, Paragens, que reúne três novelas: “Pássaro selvagem”, “Paragens” e “Tiziu”, finalista do Prêmio Jabuti em 2005; e Cheiro de chocolate e outras histórias, esgotado, mas ainda com exemplares em sebos, que ganhou o Jabuti em 2013.