Ronald Augusto é poeta, músico e ensaísta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia feito todo mundo, acho. Não tenho uma rotina. Tenho, por enquanto, bastante tempo livre e isso me agrada. De preferência evito compromissos pela manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho em qualquer hora. Não tenho ritual nenhum para começar a escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Um pouco de cada coisa. Não tenho meta. Nem sabia que essa categoria do ramo empreendedor, isto é, a “meta”, tinha se tornado importante para a literatura ou para a prosa.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Há situações – nem sempre – em que vou preparando o terreno para o momento favorável. Faço anotações de leitura, registro jogos de linguagem, analogias fônicas que sustentam insuspeitas analogias semânticas; fico fuçando alguns idiomas, certas palavras e expressões da fala ordinária, enfim, me coloco à disposição dos diversos discursos e signos. Então num(a) (in)determinada ocasião, quando o fortuito e o forçoso se encontram, o poema vem à tona.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sou bem tranquilo quanto a isso tudo. Aos 57 anos da minha idade seria ridículo ficar refém dessas travas. Inclusive se, por qualquer razão, acontecer de eu não mais escrever, arranjo outra coisa para fazer e a vida segue.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso até a hora em que devo enviar tudo ao ocasional editor. Não mostro meus poemas a ninguém. Às vezes deixo a Denise (minha esposa) ler algum inédito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
É uma relação medíocre, sei o indispensável para escrever meus textos, editar meus blogs e interagir nas redes sociais. Escrevo tudo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias e formas vêm majoritariamente de minhas leituras. Procuro ler autores que repetiram para aprender e que quando aprenderam conseguiram ser criativos de verdade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A principal mudança é que deixei de ser tão obsessivo com o processo compositivo. Hoje em dia resolvo meus poemas de maneira rápida. Por outro lado, o tempo em que o poema fica bem guardado e ao abrigo do interesse do leitor (quando a solução não se efetiva logo), tem sido cada vez maior. O intervalo entre uma alteração e outra é cada vez mais dilatado.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de publicar um livro apenas com meus poemas visuais. Não consigo imaginar um livro que eu gostaria de ler que ainda não existe. É como imaginar o sentido de um poema antes de sua presentificação ou de sua materialização enquanto ser de linguagem.